Líder do Podemos (ex-PTN) no Senado, Álvaro Dias irá disputar a Presidência da República em 2018 e aposta no fator novidade para atrair simpatizantes. A experiência como governador do Paraná, deputado estadual e federal será explorada durante o período eleitoral.
Dias estava no PV e ingressou no Podemos quando a sigla trocou de nome, em julho deste ano. Nesta entrevista, o senador em segundo mandato fala sobre a linha do Podemos e avalia o governo do presidente Michel Temer (PMDB). Confira:
Pioneiro: Por que o senhor ingressou no Podemos?
Álvaro Dias: É a busca de um caminho que motive a atuação política, uma vez que os partidos tradicionais foram arrasados pela Operação Lava-Jato e estão desacreditados. A expectativa é de condenação nas urnas. Tivemos o convite da Renata Abreu, presidente do partido, que há mais de dois anos estuda esse movimento europeu de surgimento de "partidos-movimento", que defendem causas, que procuram fazer a leitura do que a sociedade elegeu como prioridade, com consulta popular constante. O que se deseja é um modelo distante do que há hoje. Imaginamos que seja possível chegar mais próximo da população.
Qual a linha do Podemos?
Nós condenamos essa espécie de Gre-Nal da política, extrema esquerda contra extrema direita. Achamos que é possível caminhar pelo centro, aproveitando boas ideias da direita, boas ideias da esquerda. Na economia, o que o partido defende é o liberalismo, o combate à corrupção como meta prioritária, consulta popular para identificar as prioridades da população.
É possível aliar pensamentos opostos?
É, porque, na verdade, ninguém é proprietário de nenhuma tese. Não dá para aceitar que a esquerda seja proprietária da tese, por exemplo, de melhor distribuição de renda, redução das desigualdades sociais. Não existem proprietários dessas causas. Quem tem sensibilidade humana certamente defende melhor justiça social. E não é a direita a proprietária da tese de que o Estado tem de ser mais enxuto, mais eficiente.
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O que o senhor defende para o Brasil como pré-candidato a presidente?
O Brasil é um país que precisa de reformas, colocando em primeiro lugar o Estado brasileiro. O conceito de Estado tem de mudar. Hoje, há uma falência do sistema de governança, porque o Estado se agigantou. Aquela frase que é considerada da direita, “menos Estado e mais sociedade”, é perfeita. Temos de caminhar para isso. Mas não basta essa reforma do Estado com a mudança do sistema de governança. É preciso implementar reformas como do sistema federativo. A federação está desequilibrada, com injustiças que estabelecem diferenças regionais gritantes. A Reforma Política, que se promete mas não se realiza. A Reforma Tributária, que agora anuncia-se e iniciará o debate na Câmara. A Reforma da Previdência. A reforma da Reforma Trabalhista, que se fez apressadamente.
Nomes já conhecidos da população, como Lula e Jair Bolsonaro, devem concorrer a presidente. Como fazer para se destacar?
O importante é se fazer conhecido positivamente. Muitas vezes, é melhor ser desconhecido do que conhecido negativamente. Nós temos uma trajetória política que muitos conhecem, outros não, mas não é difícil recuperar a trajetória realizada e acho que deve prevalecer na campanha esse conjunto da obra de ação política. Passei pelo governo do Paraná, então, tive essa experiência administrativa e é preciso que ela seja apresentada. E todo esse desempenho também no parlamento, especialmente nos últimos anos, quando poucos ousaram fazer oposição houve quem fizesse e, certamente, isso não será ignorado durante o debate eleitoral, porque não basta o último gesto, a última ação, o último discurso para avaliação popular. O que vale é o itinerário percorrido.
Qual sua avaliação sobre o Governo Temer?
É difícil uma avaliação que não coloque à frente a questão ética. Há um desprezo total à ética. O sistema é o mesmo dos últimos 15 anos, promíscuo, do balcão de negócios, que puxa para baixo a qualidade da administração e estabelece o desperdício da corrupção institucionalizada. A mudança essencial seria do sistema, mas não ocorreu. Esse sistema implica a desgovernança e, como ele é mantido, a desgovernança persiste.
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O senhor chegou a defender a renúncia do presidente Temer. Continua achando que ele deve renunciar?
Acho que agora é tarde. O erro foi realizar um impeachment pela metade. Eu defendia o impeachment completo, que envolveria o vice-presidente, e aí, em razão da Constituição, se estabeleceria um processo de eleição direta. O processo agora, se houver vacância do cargo, é indireto, e nós sabemos o tempo que leva. Retirar o presidente do poder só ocorreria rapidamente se houvesse renúncia. Como não haverá, qualquer outro processo de impeachment é lento e mesmo essa denúncia do procurador-geral da República não passou pela Câmara e certamente a segunda também não passará, então não vejo como se possa retirar o presidente do poder antes do final do seu mandato.
O Podemos irá compor ou vai de chapa pura?
Nossa condenação ao sistema nos obriga às alianças ampliadas, às coalizões partidárias, que são a causa desse desastre que há. Nós estamos muito preocupados com alianças, porque é possível que aconteça alguma aliança com partidos menores, mas sem perder o foco que a prioridade é a mudança desse sistema. Não é um governo de coalizão que resolve o impasse da crise. Temos de ter uma ruptura com esse sistema. Obviamente, as alianças ampliadas trabalham contra essa ideia.
As pessoas brincam que é preciso ter cuidado com o vice. Em Caxias, prefeito e vice não se relacionam. O senhor terá um cuidado especial com a escolha do vice?
Acho que isso é histórico, mas não é por essa questão. É um fato que há essa dificuldade de convivência muitas vezes. A Dilma que o diga. Mas a escolha do nome do vice passa por vários fatores. O primeiro e mais importante é o conceito, há que se compor uma chapa buscando um vice que valorize a chapa pelo seu conceito pessoal, de qualidade humana, sobretudo.