Deputado federal e presidente estadual do PRB, Carlos Gomes é visto volta e meia por Caxias do Sul, acompanhando o prefeito Daniel Guerra, seu colega de partido. A conquista da sigla na segunda maior cidade do Estado é muito importante, como o próprio Gomes admite. Mas, ao mesmo tempo em que reconhece a visibilidade que o PRB ganhou, diz que Guerra tem total autonomia em seu governo e que o partido sequer indicou nomes para o secretariado.
Nesta entrevista por telefone, o deputado avalia a administração Guerra e comenta temas da política nacional. Confira.
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Pioneiro: O que representa o PRB estar à frente da segunda maior cidade do Estado?
Carlos Gomes: Representa o partido em um lugar importante. O que acontece em Caxias o Brasil fica sabendo. É uma cidade muito importante do ponto de vista econômico e social, e o crescimento do nosso partido também, mas, sobretudo, uma grande vitória do povo caxiense, que deu ao Daniel a confiança.
Qual a sua avaliação desse início do governo?
Avalio positivamente. Primeiro que o Daniel se elegeu com uma proposta não convencional, com uma aliança muito enxuta, e veio com a mensagem da eficiência na administração pública. Ele veio da iniciativa privada e sabe que tem de ter eficiência e é o que está buscando, eficiência no emprego dos recursos públicos para a melhoria do serviço público. O resultado está aparecendo em algumas economias.
Como o PRB está participando e auxiliando a administração em Caxias?
O partido em nível estadual, e leia-se nas figuras dos deputados estadual e federal, (está trabalhando) no sentido de auxiliá-lo naquilo que for necessário, o que depender de recursos em Brasília. Vou dar um exemplo atual, a destruição em Vila Oliva. Hoje, na condição de interino na coordenação da bancada gaúcha, estamos fazendo algumas reuniões para, através do ministro da Integração, buscar celeridade na liberação de recursos.
O partido fez indicações de pessoas ao Governo Guerra?
Não, até porque o Guerra sempre foi bem claro que queria fazer um governo técnico. Se ele se elegeu com essa proposta, é preciso dar autonomia para que possa compor o seu governo.
O prefeito Guerra defendeu a composição de um secretariado técnico. Ele disse que vereadores deveriam cumprir seus mandatos e não ocupar cargos no Executivo. Nesta semana, ele nomeou o vereador Elisandro Fiuza (PRB) como secretário da Habitação.
Aí acho que realmente o prefeito teria de responder, não eu. Acho que tem algumas coisas que você faz uma avaliação e se pronuncia, e depois você reavalia e vê a necessidade diferente daquilo que a gente pensa. Acho que isso é uma reavaliação que ele fez conforme a necessidade que a administração exige.
Como o senhor analisa o discurso do prefeito de que rejeita os partidos políticos?
A forma como Daniel enxerga é a forma como muitas pessoas enxergam. O partido em si pouco pode fazer. As figuras dos partidos é que fazem. Quando ele faz uma coisa positiva, leva o nome do partido positivamente, quando faz negativa, também, da mesma forma. O Daniel quer e sempre quis focar a sua administração tecnicamente, sem os conchavos partidários. Acho que ele está correto. Não que aquelas (pessoas) que possam fazer uma aliança e coalização, em um acordo republicano, possam estar erradas. Mas tenho de respeitar a posição do prefeito Daniel.
Mas ele deve obediência ao partido?
Hoje, o Daniel deve obediência ao povo de Caxias. E muito. Mais exclusivamente ao povo de Caxias do que ao partido, porque ele pode estar no PRB, pode estar em outro partido. É uma sigla que é necessária para você concorrer e disputar eleição.
O senhor votou a favor das propostas de terceirização e Reforma Trabalhista do governo Michel Temer. Por quê?
Na terceirização, votei favorável, porque não havia lei que desse garantia dos direitos dos trabalhadores desse setor. Nós ouvimos muito que havia uma precarização da mão de obra terceirizada, que era verdade justamente por não haver lei que desse garantia dos direitos. A regulamentação da terceirização vem para garantir direitos trabalhistas e também, em caso de falência da empresa contratada, a contratante pudesse ser acionada. Não vejo prejuízo nenhum, pelo contrário, vejo garantia dos trabalhadores. Vou dar um exemplo. Em dezembro, me ligaram tanto empresa quanto funcionários da Languiru, de Teutônia. Eles tinham um acordo de os funcionários não trabalharem no sábado e diluírem as horas do sábado durante a semana. Chegou um fiscal do trabalho e disse que deveria ser paga hora-extra e o patrão disse que não, porque havia um acordo. Resumo da ópera: o fiscal obrigou eles a desfazer o acordo. A grande mudança dessa lei é que quando houver acordo, tem de ser respeitado como se lei fosse. Eu não vejo retrocesso.
Como o senhor votará na Reforma da Previdência?
Se fosse hoje, agora, votaria contra. Não que eu não tenha o entendimento que não precise. Pelo contrário. É necessário. Porém, penso que o governo não soube encaminhar e dialogar. A proposta inicial era muito dura. Eram 49 anos de contribuição e 65 de idade. Depois, vendo que não tinha voto, o governo foi cedendo, tirando algumas categorias, até algumas que não precisava, e com outras não teve o diálogo necessário. É uma matéria que tem de ser enfrentada com tempo, discutida, para se chegar a um texto adequado.
Como o senhor avalia o envolvimento do ministro Marcos Pereira (do PRB, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) na Lava-Jato?
Ele deveria sair do governo? Não, até porque, ele saindo, é como se estivesse assumindo alguma culpa. Hoje, tem uma infinidade de gente sendo investigada. No caso dele, ficou sabendo. Ele está bem tranquilo, entende que não há nada que desabone a sua conduta, até porque, quando houve alguma conversa de doação, foi para doação legal. Tem de respeitar a investigação, deixa ela andar, respeitando sempre o processo legal, a ampla defesa, mas penso que não há elementos para que ele possa renunciar ou sair.
O PRB continuará na base mesmo diante de supostas irregularidades cometidas pelo presidente Michel Temer?
O presidente Temer nunca foi meu presidente. Vou repetir as palavras da senadora (Ana Amélia Lemos, PP): “Nunca foi uma Brastemp.” Mas era o que tinha para o momento pós-Dilma. Eu, particularmente, digo que o pau que dá em Chico, dá em Francisco. Teve a comprovação, teve o processo. Se isso evoluir, por exemplo, para um processo de impeachment, não vejo problema em dar meu voto para afastá-lo. Mas, enquanto isso, tenho que, pelo bom senso, respeitar o limite e a evolução dos fatos e apoiar o Brasil. Mas quem sou eu para dizer se ele deve sair ou não. Isso a Justiça tem de determinar e a consciência dele. Quando chegar a minha parte, estou pronto para fazer. Mas não chegou ainda a minha vez.