Alvo de críticas da oposição, o líder de governo no Legislativo caxiense, vereador Chico Guerra (PRB) deverá manter o silêncio mesmo diante das críticas à administração do prefeito Daniel Guerra (PRB). O auge da indignação dos vereadores de oposição ocorreu no dia 2 de março, quando o parlamentar ocupou a tribuna para ressaltar a importância da declaração do Imposto de Renda. Um dia antes, havia iniciado a greve dos médicos do Sistema Único de Saúde. O líder do governo também preferiu o silêncio sobre as manifestações de renúncia e "desrenúncia" do vice-prefeito Ricardo Fabris de Abreu (PRB).
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Embora tenha dito, após ser eleito, que sua maneira de trabalhar seria igual a do irmão, Chico tem demonstrado postura diferente. Na Câmara, Daniel Guerra defendia seus projetos e ideias com veemência, debatia temas polêmicos e criticava fortemente o governo. Já Chico, vereador em primeiro mandato, sem nunca ter envolvimento político antes, tem preferido ficar calado diante dos ataques, sem fazer a defesa da administração como era costume de líderes em outras legislaturas.
O parlamentar diz que o debate "de politicagem", como ele chama alguns dos assuntos levantados em plenário, não é produtivo. Ele admite mudar a forma de agir desde que os vereadores de oposição parem de fazer "politicagem" e debatam projetos e pautas políticas.
O vereador Elói Frizzo (PSB) afirma que a fiscalização firme, segura e respeitosa será intensificada. Na última quarta-feira, o socialista disse que “a lua de mel” com o governo Guerra havia terminado em função de ter passado os 100 dias de governo que, tradicionalmente, é um período para adaptações dos novos cargos em comissão e para o conhecimento da máquina pública.
– Vamos fiscalizar as obras, a execução orçamentária e os serviços prestados pela prefeitura. Está tudo meio parado. Não sai uma licença ambiental, um alvará – destaca Frizzo. O vereador diz que as cobranças também serão mais fortes dos movimentos socais e associações de bairros.
Em entrevista, Chico Guerra critica a falta de projetos apresentados pelos vereadores, mas admite que ele mesmo poderá permanecer os quatro anos do mandato sem protocolar propostas. Ele também cita os principais acertos do governo municipal e diz que não houve nenhum erro. Confira:
Pioneiro: Como o senhor avalia o seu desempenho como líder do governo?
Chico Guerra: É ruim fazer uma avaliação de mim mesmo, mas pela postura que decidi tomar, está funcionando e os objetivos estão sendo alcançados.
Por que não responde às críticas dos vereadores?
Eles são maioria, qualquer coisa que falar, estarei falando contra 18. Qualquer assunto em pauta, os 18 vão bater. Prova disso foi a prestação de contas. Anunciei os números, e de imediato já veio o (vereador) Rafael Bueno distorcendo. O tom da fala dele foi em desconstruir. Qual é a minha postura? Para politicagem, o silêncio reina. Se eles vierem com pauta política, a gente pode debater, posso passar a opinião da bancada do PRB e de líder de governo. Agora, politicagem, não vou nunca entrar no jogo. Vou continuar no silêncio até o momento em que começarem a trazer debates para projetos bons, porque até agora não veio nada. Vieram cinco projetos, quatro do Executivo e um do Legislativo.
Na semana da greve dos médicos, o senhor usou a tribuna para falar do Imposto de Renda. O tema não foi inapropriado para o momento?
Vou levantar um assunto que já está todo mundo falando, todo mundo está sabendo? Foi produtivo? Produção zero. Mudou alguma coisa para a população? Zero. Quando não era vereador, assistia (às sessões) e comentava, que de produção aqui dentro não tinha nada. Era só briga, só discussão ou oposição e situação se digladiando para ver quem poderia sair vitorioso. Já vim com esse histórico que não era produtivo. Não posso continuar com isso. Tenho um estilo novo. Uma coisa é debate, outra coisa é debate de politicagem.
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O telespectador da TV Câmara não fica sem uma posição oficial do governo?
A informação do governo vai ser no trabalho, na execução dos projetos e fazendo funcionar as coisas. O alcance da mídia social e dos jornais é não sei quantas vezes maior do que qualquer mídia aqui dentro da Câmara.
O senhor vai permanecer calado?
Se eles continuarem com politicagem, vou continuar calado. Se vou conseguir ensinar eles, não sei. Mas não vou fazer o que aconteceu no passado, que só demonstrou que a população não gostava de ver o que acontecia aqui dentro.
Essa postura é de iniciativa própria ou orientação do governo?
Essa postura de não falar saiu de mim já no começo. Quando na primeira vez me pronunciei que talvez tivesse um sentimento de mágoa e aí cada um ficou batendo, eu disse, opa, não aprenderam ainda. Então, vamos fazer reinar o silêncio de um dos lados, porque se um não fala, o outro cansa de brigar. Se eles não conseguem ser produtivos, a gente procura ajudar de alguma forma para que isso venha acontecer e a gente qualifique as sessões.
O senhor se sente bem sendo vereador ou gostaria de estar no Executivo?
Acho que é uma tremenda traição pensar qualquer coisa diferente de não fazer o trabalho de vereador. Não me passa assumir qualquer coisa diferente que não vereador. Vou ficar os quatro anos cumprindo essa missão.
O senhor falou em tornar o trabalho da Câmara mais produtivo. Até agora, o senhor não apresentou nenhum projeto de lei. Por quê?
Sou um pouco contrário à criação de leis, porque a gente está atolado de projetos de lei. O vereador tem que estar no bairro, atendendo às pessoas. Estou fazendo o papel de vereador para Deus através das pessoas. Meu serviço quero fazer para aquela pessoa, porque dentro dela enxergo a pessoa de Deus, e aí faço de coração, faço sem intenção, sem nada em troca. É como diz o papa Francisco, a maior virtude, a maior caridade é o político que faz a coisa verdadeira e sem intenção nenhuma. Se não tiver nenhum projeto relevante, daqui a pouco não faço nenhum projeto em quatro anos. Agora, se é um projeto relevante, posso fazer vários.
Qual o principal acerto do governo Guerra?
O forte do governo é não ser amigo de ninguém. Se tem problema, ele está tentando resolver. Ele tenta arrumar, mesmo comprando briga com todo mundo.Mas qual o principal acerto?Começou com a tarifa da água. Tinha um decreto com 8,11% (de aumento). Um técnico soube fazer a economia funcionar dentro da autarquia e conseguiu reduzir o percentual de reajuste (para 6,45%). Quem ganhou? A população. A questão da Visate. As planilhas acusaram R$ 4, mas a Visate não provou desequilíbrio financeiro. O comitê (Conselho Municipal do Trânsito) resolveu que não está provado o desequilíbrio. Não apresentou, mantivemos a tarifa (em R$ 3,40). Quem ganhou? A comunidade. O problema dos médicos um dia vai ser resolvido, e quando for, será resolvido um problema histórico.
Qual o principal erro do governo?
Conhecendo de perto o governo, não diria que o governo teve erro. Não vejo nenhum ponto que poderia ser melhor. O que estou vendo é o problema de uma cidade onde alguns grupos estavam acostumados a serem favorecidos e agora estão sendo tratados iguais.