Terceiro colocado na eleição à prefeitura de Caxias do Sul, Pepe Vargas (PT) recebeu 59.229 votos – ou 25,27% dos votos válidos. Apesar das avaliações internas que apontavam as dificuldades em vencer o pleito, Pepe admite surpresa por ter ficado de fora do segundo turno.
Segundo ele, o principal motivo foi a criminalização somente ao PT pelos casos de corrupção nos escândalos políticos. Além disso, o petista aponta que a situação econômica também trouxe prejuízos a sua campanha.Pepe criticou a forma como a candidatura de Edson Néspolo (PDT) defendeu o fim do PT. Ele classificou de "fascismo" o posicionamento da coligação do governo. Apesar disso, trata o assunto como "disputa política" e diz que não tem nenhuma mágoa.
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Em entrevista concedida na sexta-feira, Pepe também criticou os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci e afirmou que, independentemente de existir ou não o PT, sempre vai haver algum partido ou movimento que lutará contra as injustiças.
Pioneiro: Qual sua avaliação do resultado da eleição deste ano em Caxias?
Pepe Vargas: O que aconteceu aqui em Caxias aconteceu em nível nacional. Temos uma atribuição somente ao PT e a todo o PT do tema da corrupção e mais o tema da economia. Nós não estamos mais no governo, quem está no governo é o PMDB e, em vez de a crise econômica reduzir, ela só aumentou em função da política de austeridade que o (Michel) Temer (presidente da República) está conduzindo, mas toda a responsabilidade da crise é do PT e toda a responsabilidade do que aconteceu dentro da Petrobras é do PT. Aliás, o único candidato que era perguntado sobre isso era eu, o (Edson) Néspolo (candidato a prefeito de Caxias do Sul pelo PDT) nunca foi perguntado sobre os investigados da Lava-Jato que estão na coligação dele, como o Eduardo Cunha (deputado federal do PMDB e ex-presidente da Câmara). Nós tivemos o resultado onde esse componente eleitoral agiu fortemente. O que eu mais ouvi nessa campanha de algumas pessoas foi "vou votar em ti, mas não por causa do PT". Outros diziam: "eu até queria votar em ti, mas não vou votar por causa do PT". Então, houve um processo de criminalização do PT, isso não tem como negar. Há uma parcela da mídia que criminalizou o nosso partido e não criminaliza os demais partidos. Não estou dizendo que a mídia não tem que noticiar o que aconteceu, estou dizendo que tem uma criminalização exclusiva do PT, e isso obviamente teve efeito no processo eleitoral. O PMDB tem muito mais gente investigada do que nós (PT) e não tem uma criminalização do PMDB.
Qual o sentimento por ter ficado de fora do segundo turno?
Nós sabíamos que seria uma eleição muito difícil e que dificilmente ganharíamos a eleição por conta deste componente nacional. Nós tínhamos, desde o primeiro momento, essa avaliação de que era pouco provável a nossa vitória, mas avaliamos que era possível chegar no segundo turno. Também tem outros episódios. Veja que, até o presente momento, nem o Eduardo Cunha e nem a mulher dele foram presos ou nenhuma figura de outro partido que deveria estar sendo investigado. Não estou dizendo que não tenha que investigar quem é do PT. Tem que investigar quem é do PT dentro do devido processo legal. Por que as figuras do PMDB e do PSDB que têm que ser investigadas não houve nada em relação a eles? Nós imaginávamos que conseguiríamos chegar no segundo turno, mas houve um conjunto de ações que foram feitas e que ninguém é ingênuo em achar que elas foram feitas ao acaso. Isso, obviamente, que também fez com que a dificuldade que nós tínhamos desde o início fosse magnificada. Por que é só dirigida a uma força política? Imaginávamos que a gente poderia chegar no segundo turno e isso não aconteceu. Também é verdade que a campanha do Néspolo bateu bastante, passou da conta. Imaginávamos que, no segundo turno, seria muito difícil vencer a eleição, mas foi uma surpresa para nós não ter ido para o segundo turno. Aliás, todas as pesquisas, as formalizadas e as não formalizadas, indicavam isso. Então, foi uma surpresa de fato.
Alguma mágoa ao final desse processo eleitoral?
Nenhuma. Não tenho mágoa nenhuma. Eu trato tudo isso politicamente. Eu acho uma hipocrisia uma coligação partidária que tem 43 deputados e senadores sendo investigados e alguns até condenados acusar outro partido e dizer que tem que acabar com esse partido, votar para acabar com esse partido. Isso é uma hipocrisia, e mais do que hipocrisia, é também um pouquinho de realismo um tanto fascista. Tu defender em uma eleição que o eleitor tem que votar para pôr fim a um partido, isso para mim tem nome – é fascismo. Todos os veículos de comunicação da cidade nunca perguntaram para o Néspolo sobre o deputado (estadual) Dr. Bassegio que foi cassado, ou como é que tu respondes ao Eduardo Cunha, que é de um partido que te apoia, como tu responde?". Ou sobre os deputados do PP do Rio Grande do Sul que te apoiam? Só eu tinha que responder sobre isso, então houve um processo de naturalização desta criminalização do PT.
Para quem será o seu apoio no segundo turno em Caxias?
Avaliamos que a maioria da população votou com os partidos de oposição, que é legítimo esse sentimento de oposição depois de 12 anos, com todos os problemas que existem na cidade na saúde, na educação e no abandono aos bairros mais pobres. Achamos que é ilegítima essa apropriação da prefeitura com cargos de confiança só para aumentar tempo eleitoral e para se perpetuar no poder. Achamos legítima essa aspiração por mudança, e nosso partido não vai apoiar nem um candidato ou outro, mas achamos que é importante que cheguem ao fim esses 12 anos de continuísmo político-administrativo. Não vamos dar apoio formal à candidatura do Daniel Guerra. Vamos estar na oposição fiscalizando e defendendo os direitos do povo de Caxias. Achamos que é bastante compreensível a ampla maioria dos eleitores nossos votar e dizer não ao Néspolo.
Quais foram os motivos para o PT perder diversas prefeituras e nas principais capitais na eleição deste ano?
Primeiro, vamos para o componente econômico. O governo da Dilma errou ao fazer o ajuste do jeito que fez em 2015. Percebeu que tinha errado e mudou o ministro da Fazenda. Aí veio o impeachment, e o novo governo que está praticamente há seis meses aprofundou o ajuste que o (ex-ministro da Fazenda Joaquim) Levi começou a fazer, mas a culpa disso sempre vai ser do PT. Só que quanto mais passa o tempo, mais difícil sustentar que isso é culpa do PT e da Dilma. Em janeiro do ano que vem, não tem como o Temer e o PMDB dizerem que a culpa é da Dilma e do PT. Eles ainda vão surfar nessa onda tentando enganar as pessoas de que a política econômica deles vai melhorar a condição do país, mas, infelizmente, não vai. O receituário que eles estão aplicando é igual ao que foi aplicado nos Anos 90. O governo errou ao permitir que o Levy aplicasse uma visão econômica que em nenhum lugar do mundo se aplica, nem os setores mais liberais da Europa e dos Estados Unidos defendem uma política econômica dessa natureza. Eu dizia dentro do governo – “esse negócio não vai dar certo”. Estou muito tranquilo porque, dentro do governo, disse que não estava convencido sobre essa política econômica.
O outro lado é o componente que estávamos falando antes – os caras que roubaram dentro da Petrobras, por exemplo, o Paulo Roberto Costa, o Renato Duque, qual deles é filiado ao nosso partido? Nenhum. Todos eles são funcionários de carreira da Petrobras. As relações deles são com quem mesmo? PP e PMDB. Se tu pegar o Jornal Nacional, é o PT, é o PT, é o PT, é o PT. O Jacinto Lamas, que era tesoureiro do PTB, foi solto, e o Jornal Nacional disse: "Jacinto Lamas, que foi preso no Mensalão do PT". Mas o cara é do PTB. Tu fica o tempo todo batendo nisso, e é óbvio que a população vai ouvir fatos que aconteceram de verdade. Não acho correto um ex-ministro do PT fazer consultoria para empresas e receber milhões e milhões de reais. Não acho correto o que o José Dirceu fez, não acho correto o que o (ex-ministro Antonio) Palocci (preso preventivamente na Lava-Jato) fez. Se isso é legal ou ilegal, é outra discussão. Pode até ser que seja legal, pode ser que não tenha ilegalidade nenhuma. Todos os ministros do Fernando Henrique (Cardoso, ex-presidente) ficaram milionários dando consultoria também e nunca houve uma investigação sobre eles. O nosso partido não foi fundado e construído para as pessoas chegarem no governo e depois de saírem do governo dar consultoria para virar milionário. Não foi para isso que a gente construiu um partido. Óbvio que essas coisas estão erradas. Agora quem é que paga pelo erro é o conjunto do partido. Um dia um cara me disse que o PT defende contra a corrupção, mas tem algum partido que defendeu a favor da corrupção? Esse argumento de que o PT tinha uma luta contra a corrupção e por isso que ele é foco e cobram mais dos petistas, com todo o respeito, mas isso é um absurdo e ofende a inteligência do maior energúmeno que pode existir no mundo. Agora não significa que o PT não tenha que fazer a sua autocrítica das coisas onde errou. O PT deveria ter dito em resolução que não aceita que as pessoas saiam do governo e virem milionários. Que se desfilie do PT ou que tenha uma resolução que diga que não pode isso. Mas o PT não fez isso.
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O PT cometeu algum erro?
Acho que o PT cometeu erro sim. Ele vai ter que fazer essa avaliação. Não é possível que, depois de tudo que aconteceu, que o PT não venha a público dizer onde estão os erros. Eu sempre lutei dentro do PT para que acontecesse isso e vou lutar mais ainda. Não é possível conviver com uma situação dessas, não é possível que pessoas honestas e corretas que tiveram a vida inteira dedicada a construir uma sociedade melhor paguem o preço de um partido que não queira fazer suas autocríticas.
Quais foram os erros do PT?
Eu falei agora, mas eu gostaria que me perguntasse quais os erros do PMDB e do PSDB.
Quais são os erros dos outros partidos?
Os mesmos que estão atribuídos ao PT. No tema da ética, o mesmo. Qual é o partido que se salva que não tenha uma pessoa que não tenha cometido uma irregularidade. O Pioneiro fez alguma vez essa pergunta para o Néspolo: como é que tu explica o Eduardo Cunha, que é do PMDB que é do teu vice Antônio Feldmann? Como tu explica o (presidente Michel Temer), que é investigado. Como tu explica o (senador Romero) Jucá, o Renan (Calheiros, presidente do Senado)? Como tu explica o (Dr.) Bassegio que foi cassado (na Assembleia?). Não estou dizendo que vocês não tenham que perguntar para mim, mas tratem com isonomia. Na coligação do Guerra também tem (investigados). O ex-presidente do PR, Valdemar da Costa Neto, está preso. Nunca perguntaram para o Vitor Hugo (Gomes), da Rede, como ele explica o avião do Eduardo Campos (ex-candidato a presidente pelo PSB, morto em acidente de avião), se é verdade ou não que a Marina (Silva, presidente da Rede, candidata que substituiu Eduardo Campos na eleição para presidente) sabia ou não. O único cara que não tem nada para falar é o Francisco Corrêa. Mas é uma coisa impressionante: é só o PT que tem que prestar contas. O PMDB do Rio Grande do Sul sempre com aquela hipocrisia que está separado do PMDB do Brasil inteiro. Como assim separado do (ministro chefe da Casa Civil, Eliseu) Padilha, que é braço direito do Temer, o Osmar Terra é ministro (do Desenvolvimento Social)? Não tem separação, eles votam todos juntinhos e abraçadinhos.
Como recuperar a força que o PT?
Independentemente se existir o PT ou não existir o PT, vai ter luta contra as injustiças. Sempre vai ter alguém disposto a organizar a luta contra as injustiças e lutar contra a tentativa de massacrar os direitos da classe trabalhadora, como está vindo por aí. Já estamos assistindo a um processo onde os sindicatos patronais estão achatando os salários dos trabalhadores. Tem sindicatos que não conseguiram nem repor a inflação nos seus dissídios coletivos. A luta contra as coisas que o PT sempre defendeu vai continuar existindo seja ela feita pelo PT, seja feita por outro partido, por outros setores ou por outros movimentos. Essa luta vai continuar e, no que diz respeito a mim, pelo menos eu vou estar nessa luta. Chame o nome que tiver. Não concordo com essa visão do empresariado que diz que tem que cortar os gastos da saúde e na educação. É porque eles não precisam da saúde e da educação pública, porque eles têm plano privado de saúde e estudaram em escolas particulares. Vamos lutar contra a tentativa de quebrar a CLT, não vamos aceitar que se faça uma reforma da Previdência só para fazer um ajuste fiscal a curto prazo. Nós vamos lutar contra isso, existindo o PT ou não existindo o PT, tendo mandato ou não tendo mandato de deputado. Se alguém acha que vão acabar com o PT, não vão acabar conosco por uma razão muito concreta – o povo vai lutar contra isso. E quem estiver sintonizado com essa luta vai crescer. Qual é o resultado eleitoral que o PMDB pode comemorar? O PMDB diminuiu. O PMDB está disputando em alguma capital importante? O PMDB vai comemorar essa vergonha do governo Sartori que não paga nem o salário em dia e ainda tem a coragem de dizer "é melhor pagar parcelado do que não pagar"? Nós governamos esse Estado duas vezes e nunca atrasamos o salário. Se alguém acha que a luta terminou, não terminou. Tem muitos capítulos pela frente e não vai demorar muito tempo, porque agenda do Temer é uma agenda muito antipopular. E lamento pela maioria que eles têm. Eles podem dificultar um futuro governo democrático e popular independentemente de quem seja para reorganizar o Brasil. Nós corremos o risco de acontecer com o Brasil o que o (ex-presidente Carlos) Menen fez com Argentina. Hoje para recuperar a Argentina é muito difícil. O (presidente Maurício) Macri está desgastado porque eles quebraram toda a estrutura produtiva da Argentina, não tem um banco público e não tem uma empresa pública que possa investir na infraestrutura do país. Eles privatizaram tudo. O plano do PMDB é privatizar tudo e começaram esta semana com o pré-sal.
O senhor continuará lutando no PT ou em outro partido?
Vou lutar dentro do PT para que o PT e faça o que tem que ser feito. Essa é a nossa posição, não só minha, mas de muita gente de dentro do PT.