A conversa com Assis Flávio da Silva Melo fluiu com certa reserva. O candidato do PCdoB à prefeitura da Caxias do Sul se apresenta tímido e cauteloso para a entrevista que pretende conhecer um pouco a vida do líder político e sindical. A conversa foi no dia 14 de setembro, data em que completou 54 anos. Mas, aos poucos, o metalúrgico de 1m83cm e 115 quilos, de aparência vigorosa, mostra-se emotivo.
– Tudo me emociona. As pessoas veem o Assis na luta e na briga, mas não conhecem o Assis gente. Às vezes, o trabalho exige que a gente seja duro e tenha opinião forte, mas isso não tira a minha sensibilidade.
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Ao lembrar as agressões que sofreu em Carlos Barbosa, Farroupilha e Caxias do Sul, no início dos anos 2000, durante manifestações do Sindicato dos Metalúrgicos, ele chora.
– Isso na verdade machuca muito (pausa para enxugar lágrimas e beber água).
Nos últimos 30 anos, a história de Assis se confunde com o movimento sindical e político. O primeiro contato com o sindicalismo foi em 1985, quando integrou a comissão de negociação na Fras-le. A filiação ao PCdoB ocorreu em dezembro daquele ano, a convite do amigo Pedro Pozenatto.
– Era no início da redemocratização do país. Comecei a participar de cursos do partido e a compreender a situação política e sindical – conta.
Em 1987, Assis disputou pela primeira vez uma eleição no Sindicato dos Metalúrgicos. Em 1992, concorreu a vereador mas não se elegeu. Em 2001, tornou-se presidente do sindicato. A consagração aconteceu em 2008, quando foi o vereador mais votado, com 8.399 votos.
– Foi uma surpresa. Durante a contagem dos votos, o comentarista de uma rádio disse que eu não tinha cacife para estar em terceiro lugar nas urnas do Centro.
Para o candidato, a decisão mais importante da vida foi ter se filiado ao PCdoB. Ele conta que procurou o partido por curiosidade.
– Com a compreensão que tenho hoje, e sem desmerecer os outros partidos, nenhum deles me atrai como o nosso.
Para Assis, outra decisão importante na vida foi o envolvimento com o movimento sindical. Lembra que, quando assumiu a presidência, algumas pessoas comentaram que ele iria quebrar a entidade.
– Hoje, (o sindicato) tornou-se uma das principais entidades, não só de Caxias, mas do Estado e do país. Tenho satisfação pessoal de andar pelas ruas de cabeça erguida como cidadão, líder sindical e político.
Uma situação, porém, incomoda Assis: quando o acusam de se aproveitar do sindicato.
– Vivo do meu trabalho e zelo pelo patrimônio dos trabalhadores. Não tolero e fico chateado com essas inverdades.
De Vacaria para Caxias
Assis é um dos 10 filhos dos agricultores Lorenço Ferreira de Melo e Maria Cândida Caetana da Silva. Nasceu no município de Monte Alegre dos Campos, então distrito de Vacaria. Desde cedo, a vida foi de muito trabalho, e a rotina se resumia entre o serviço doméstico, a escola e brincadeiras de infância como jogar bolita e futebol.
– A gente jogava bola com palha de milho dentro de um saco de açúcar. Quando aparecia uma bola de borracha, a gurizada ficava faceira – lembra.
Ele conta que cresceu ajudando os pais na roça e diz ter cortado lenha por sete meses sem receber salário em troca de vale para comprar comida. Ainda em Vacaria, trabalhou como peão de estância, em uma granja de tomate e em um armazém.
Em 1978, pouco antes de completar 16 anos, veio para Caxias do Sul atrás de uma vida melhor para ajudar os pais. O primeiro emprego na cidade grande foi na madeireira Madezatti, onde ficou até 1980.
A primeira experiência na metalurgia foi na Fras-le, entre 1980 e 1986. No final deste ano, completa 30 anos de vínculo com a Marcopolo. Além do compromisso com o trabalho, o primeiro final de semana após o pagamento era reservado para visitar os pais em Vacaria e ajudar no pagamento do aluguel e nas compras do supermercado.
Assis gosta de esportes. Quando jovem, foi o pivô titular no time de basquete da Fras-le. Também jogou como centroavante, zagueiro e lateral direito.
– Marcava os meus gols quando o zagueiro e o goleiro bobeavam – lembra.
Por quatro anos, dançou na invernada da Fras-le que fazia apresentações nas festas da empresa. Hoje, diverte-se em bailes de casais. Os momentos de lazer se resumem a jogar canastra nos finais de semana na sede do Avaí, clube do bairro Fátima.
Assis preserva a família. Casado há 27 anos com Auzilia, 53, tem dois filhos – Uélton, 22, metalúrgico e estudante de Tecnologia em Processos Metalúrgicos no Instituto Federal de Caxias do Sul, e Kauana, 17, estudante no Ensino Médio.
– Eles são uma gurizada de cabeça muito boa – elogia.
Assis e Auzilia conheceram-se em 1989 em uma greve dos metalúrgicos em São Marcos e se casaram no mesmo ano.– Ela participou da greve, mas não se envolve, não é sindicalista.
Trajetória de Assis
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos desde 2001. Em 2008, elegeu-se o vereador mais votado da história de Caxias do Sul, com 8.399 votos. Dois anos depois, foi eleito deputado federal com 47.141 votos.
Assis revela
Música: As razões do boca braba, de João de Almeida Neto.
Livro: Histórias da riqueza do homem, de Leo Huberman.
Comida: churrasco.
Perfume: Malbec.
Time de futebol: Internacional e Caxias.
Religião: ateu.
Um lugar em Caxias: minha casa.
Um lugar no mundo: Monte Alegre dos Campos.
Mania: nenhuma.
Superstição: nenhuma.
Qualidade: persistência.
Defeito: não ter medo.
Filme: Um sonho de liberdade.
Legalização do aborto: descriminalização.
Liberação da maconha: não tenho opinião.
Casamento homoafetivo: a favor
Um sonho: desenvolvimento do Brasil com democracia, soberania nacional com distribuição de renda.