Saúde e educação costumam dominar os debates eleitorais. Já meio ambiente, tema não menos importante, acaba ficando em segundo plano. A constatação é da coordenadora do Programa de Ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano Ferreira.
Para ganhar destaque no pleito deste ano, o WWF lançou, em parceria com a Aliança pela Água, a campanha #votepelaagua, que estimula os eleitores a escolher candidatos comprometidos com a questão.
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Nesta entrevista, Mariana fala sobre a campanha, aponta os desafios das cidades brasileiras quando o assunto é meio ambiente e sugere soluções para resolver os problemas ambientais no país. Confira:
Pioneiro: Quais os principais problemas e desafios das cidades brasileiras na questão de meio ambiente?
Mariana Napolitano Ferreira: Acho que os principais desafios estão ligados à questão de água e do saneamento. Tem muito a ver com a questão de poluição também o transporte. Todo esse modal de transporte, transporte público, carro, tudo isso gera poluição do ar muito forte, muita emissão de carbono. E eu traria também a questão ligada a abastecimento: de onde vem a comida da cidade? Ela vem de perto? Ela vem de produtor local? Como é produzida? E, por último, traria a questão das áreas verdes, dos parques, que é importante tanto para a qualidade do ar quanto para a fauna que ainda existe nas cidades quanto para o lazer das populações.
Quais as sugestões para enfrentar esses desafios?
A primeira coisa é que existam, de fato, planos claros para esses temas, que eles sejam prioridades para os governos. Geralmente, quando a gente acompanha os debates eleitorais, a gente vê muita coisa relacionada à saúde e educação, que são temas importantíssimos, mas igualmente importante é a questão ambiental, e nem sempre esse tema é tão presente no debate e no compromisso dos candidatos. Hoje, nós estamos juntos com a Aliança pela Água (rede de entidades que se uniu para apresentar propostas e exigir transparência do governo sobre a crise hídrica em São Paulo) lançando uma campanha que se chama #votepelaagua, que está falando como os eleitores devem selecionar os seus candidatos com base na pauta que eles têm ligada à questão de água, de abastecimento de água.
Há bons exemplos em gestão ambiental que podem ser adotados por municípios brasileiros? Quais?
Existem exemplos de municípios que se comprometem em comprar para suas obras públicas apenas madeira certificadas, não madeiras que vem de áreas desmatadas. Outro exemplo importante são cidades ou até Estados que incentivam construções como prédios que têm soluções sustentáveis, como o reúso de água, telhado verde, aproveitamento de lâmpadas que usam menos energia. Outra questão que é muito séria é o transporte público. Quanto mais transporte público eficiente você tiver, menos as pessoas usariam os carros. Você tem mais pessoas compartilhando apenas um veículo que está emitindo carbono. Outra coisa que tem se discutido muito hoje é a geração de energia descentralizada. As pessoas nas suas casas com placas solares, especialmente em regiões que têm muito sol, poderem praticamente produzir a sua energia. Ela pode gerar energia de volta para a rede elétrica.
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Fala-se muito que questão ambiental depende de educação. É isso mesmo? O quanto depende das pessoas e o quanto é responsabilidade do poder público?
Educação ambiental é importante, é um tema cada vez mais presente na educação escolar, mas pode ser melhor explorado. Às vezes, as pessoas falam de educação ambiental e vão falar de coisas muito distantes. Para uma pessoa da cidade, educação ambiental é proteger a Amazônia, coisas assim que as pessoas não conseguem aplicar no seu dia a dia. A educação ambiental tem que trazer os temas de como a pessoa pode viver de uma forma mais sustentável, seja na sua alimentação, no seu consumo de água, no que ela faz com o lixo. Quanto a ser uma questão mais da sociedade ou do poder público, difícil diferenciar, porque, primeiro, quem escolhe nossos representantes políticos são as pessoas. Quanto mais as pessoas estiverem conscientes de que esse é um tema importante na pauta dos seus candidatos, elas vão votar melhor. A outra coisa é que a sociedade é agente de transformação, de monitoramento e de cobrança do poder público. Então, o poder público está a serviço da sociedade. Acho que quando os temas afetam as pessoas, elas se manifestam, elas cobram. É muito difícil separar as duas esferas, elas estão muito ligadas.