A sétima reportagem da série A Cidade que Queremos traz um diagnóstico do desenvolvimento econômico e do crescimento urbano desordenado e aponta alternativas. Confira:
DIAGNÓSTICO
Economia
"Caxias teve a instalação do trem, que foi um aspecto grande para o desenvolvimento. Depois, teve a construção da BR-116. Ela (a cidade) teve investimentos e condições para poder crescer. Teve o período madeireiro, que foi muito importante para Caxias. Depois, tivemos o período de maior crescimento com a expansão das nossas maiores empresas para outros Estados e para o Exterior. O que estava por trás desse crescimento era a competitividade e a mão de obra, era bem mais baixa do que em outras regiões do país. Depois, a mão de obra começou a encarecer muito, e a questão da logística pesou muito, acabou gerando perda de competitividade."
Mauro Corsetti, diretor de Economia e Estatística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC)
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"A retração da economia caxiense impacta diretamente no desenvolvimento da matriz produtiva em relação às expectativas de investimentos por parte dos empresários e investidores externos, os quais são motivados pela confiança e consolidação do crescimento econômico. Um dos fatores relevantes para o desenvolvimento da matriz produtiva está relacionado com fatores estruturais, como os elevados custos de logística para os processos produtivos, principalmente ligados às principais matérias primas utilizadas na indústria (aço, ferro, cobre), além das questões da reformulação do aeroporto da cidade e do retorno do modal ferroviário. Outro fator importante para o desenvolvimento da matriz produtiva de Caxias do Sul se dá através do crescimento das exportações, pois, além da contribuição direta na rentabilidade das empresas, contribui para a promoção comercial, atraindo possíveis parceiros e investidores."
Gustavo Bertotti, professor da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG)
Crescimento desordenado
"Esse crescimento não foi acompanhado de projeto de infraestrutura, integrado e amplo. Com o crescimento desordenado através de falta de planejamento urbano, tem essas invasões que foram promovidas e que a prefeitura acaba regularizando. Caxias, originalmente, foi muito bem planejada, no meio do século passado. Depois, cresceu, e esse crescimento não foi acompanhado desse desenvolvimento. Também houve a atração de muita gente de fora. A cidade inchou."
Mauro Corsetti, da CIC
"Caxias é uma cidade que, por tradição, acolhe imigrantes. O pessoal vem para Caxias para procurar melhorar de vida e a cidade cresceu bastante, não tem como ter estrutura para todo esse pessoal. Em Caxias, enquanto todos dormem, ela (a cidade) continua crescendo. Através do movimento comunitário, estando sempre buscando melhorias, mas sabemos que é complicado pelo grande número de pessoas que chegam todos os dias aqui".
Flávio Fernandes, presidente da União das Associações de Bairro (UAB)
"Em geral, as ocupações informais dentro das cidades, elas são mais rápidas do que o próprio processo de planejamento, principalmente quando se tem uma situação de crise econômica como atualmente. Caxias do Sul passou por um processo muito rápido de crescimento e muitas vezes desordenado, muitas vezes vinculado a questões econômicas, ao contingente populacional que veio em busca de oportunidades e que necessitava de uma gama de serviços de infraestrutura em uma cidade que não estava preparada para esse tipo de situação."
Daniela Fastofski, arquiteta e professora da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG)
CAMINHOS POSSÍVEIS
Economia
"Essa é uma visão clara que congrega a CIC, a UCS e a prefeitura, uma visão de que temos que desenvolver um planejamento estratégico para Caxias. Estamos chamando de Caxias 2040. Precisamos fazer uma reavaliação de Caxias para voltar a ter competitividade na região e de mudar nossa forma de atuação. Precisamos recuperar nossa capacidade de crescimento a médio e longo prazo."
Mauro Corsetti, da CIC
"O mercado hoje aguarda os caminhos econômicos que serão tomados pelo novo governo, principalmente na questões referente às conta públicas, infraestrutura e decisões relacionadas à política macroeconômica para os próximos anos. Em conjunto com o melhora no cenário econômico, outro fator positivo seria a liberação de linhas de específicas de financiamento de recursos produtivos para as empresas, através de juros reduzidos e carências para liquidação."
Gustavo Bertotti, da FSG
Crescimento desordenado
"Maringá apresentou um projeto muito bonito, que leva em conta a qualidade de vida. É um projeto urbanístico integrado. Precisamos analisar profundamente a cidade. As perimetrais foram um exemplo bom. Contribuíram muito para melhorar a cidade, mas hoje não é mais suficiente. Tem que ter um sistema de transporte integrado, mais eficiente. Será que o melhor é ter um VLT (veículo leve sobre trilhos), construir novas avenidas laterais ou desenvolver a cidade para o lado da Rota do Sol? São questões que requerem um estudo grande."
Mauro Corsetti, da CIC
"Para melhorar as condições (do crescimento), tem que continuar buscando investimentos para a saúde, educação, cultura, esporte e segurança. Acredito que, mesmo com essa crise, a cidade não vai parar. A cidade tem a cultura de acolher a todos. Tem o lado bom e o lado ruim, porque precisamos estar sempre buscando mais investimentos."
Flávio Fernandes, da UAB
"O que eu penso que se faz necessário: os instrumentos integrados estão no Estatuto das Cidades e previstos no Plano Diretor, mas eles precisam ser mais definidos. É preciso que se exerça a função social da propriedade – que o bem coletivo seja prioritário e que os vazios urbanos sejam destinados para atender à coletividade, e não mais às questões especulativas de mercado."
Daniela Fastofski, da FSG