A oitava e última reportagem da série A cidade que queremos traz um diagnóstico do meio ambiente em Caxias do Sul e aponta alternativas viáveis, sugeridas por especialistas e interessados no assunto, para a área. Confira:
DIAGNÓSTICO
Qualidade dos córregos
"Uma coisa que vejo, porque senti, trabalhei e estudei, é o problema da qualidade das águas nos córregos urbanos. Nós temos uma situação que considero preocupante. A cidade está situada no topo da montanha e, por consequência, a maioria das nascentes que drenam o município estão em áreas urbanizadas e industrializadas, e o que acaba acontecendo? Por mais que tenhamos uma proposta de saneamento bastante evoluída em relação a outras situações Brasil afora, a qualidade das nossas águas ainda é bastante preocupante. Nossos córregos já nascem comprometidos na área urbana e depois seguem em direção a nossa zona rural. Essas águas podem servir para irrigação e, em alguns casos, até mesmo para lazer, nos campings, por exemplo. Teríamos que olhar com bastante cuidado, aumentando, talvez, o controle, a fiscalização, a própria questão do saneamento básico das residências que ainda não estão conectadas à rede".Vania Elisabete Schneider, diretora do Instituto de Saneamento Ambiental (Isam) da UCS
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Em busca de uma Caxias do Sul sustentável
Quase uma referência
"Na área de saneamento, Caxias acaba sendo quase uma referência. Na questão de resíduos sólidos, foi eleita nesse ano uma das cidades mais limpas do Brasil. Já na parte de esgoto, a gente tem os indicadores do Trata Brasil, instituto muito conceituado nessa área, que, em 2015, fez uma publicação e apontou Caxias com um sistema de rede coletora que se destacava. Caxias tem muitas estações de tratamento, tem um plano de esgotamento sanitário. Mas não é porque somos destaque que não precisamos manter esse planejamento a longo prazo." Raquel Finkler, coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da FSG e de Gestão Ambiental da FTSG
Planejar crescimento
"O que falta, não só em Caxias, é um planejamento melhor do desenvolvimento de uma cidade. Em Caxias, a especulação econômica que existe, em nível de loteamentos, está entrando de maneira muito agressiva em relação ao ecossistema. Na minha opinião, teria que ter planejamento desse crescimento. Procurar áreas com menor impacto ambiental para fazer loteamentos, preservando mais a questão da água, dos arroios. O loteamento, além de todo impacto da flora, tem o impacto do esgotamento, da energia elétrica, água. Enfim, é bastante grave essa questão." Gabriel Simioni, presidente do Instituto Orbis de Proteção e Conservação da Natureza
CAMINHOS POSSÍVEIS
Pensar as áreas verdes
"Apesar de Caxias ter uma gestão bastante eficiente, nós temos uma questão que é cultural do ser humano de descartar resíduos a céu aberto e esses resíduos, quando chove, vão para os rios. À parte isso, acho que temos um grande empenho do poder público com relação à arborização, mas também acho que poderíamos investir um pouco mais na revitalização das áreas verdes, no aumento da diversidade de espécies no ambiente urbano, num projeto de arborização que evitasse, a longo prazo, as podas, a interferência na iluminação ou a interferência na canalização por conta de infiltração de raízes, rompimento de calçadas". Vania Elisabete Schneider, diretora do Isam
Unidades de conservação
"Acredito que, em Caxias, seria necessária a criação de novas unidades de conservação. Nos chama a atenção porque a especulação imobiliária está começando a adentrar os Campos de Cima da Serra, que é a região de Vila Oliva, Fazenda Souza, Rota do Sol. Acredito que poderia ser feito algo nessa região para proteger esse ecossistema e, consequentemente, melhorar o ar de Caxias do Sul. Outra questão importante e necessária seria um programa para extermínio da vegetação exótica nas áreas públicas. Retirar pinus elliottii, uva do japão, eucalipto, ligustro, porque essa vegetação é prejudicial não só para a saúde das pessoas, mas para a nossa vegetação nativa. Além disso, tem que ser criada uma lei para regulamentar a questão das árvores urbanas, seja em nível de poda, seja em nível de planejamento, porque a gente sabe que muitas árvores colocadas na calçada ou no quintal de casa se tornam gigantescas e, depois de um tempo, vão dar problema." Gabriel Simioni, presidente do Instituto Orbis de Proteção e Conservação da Natureza
Desenterrar córregos
"Na área urbana, você não enxerga os córregos, né? Eles estão todos debaixo da rua e começam a aparecer abertos. Por exemplo, o Tega, no bairro São Catarina. Depois, ele continua correndo aberto dali em diante, mas vamos reconhecer em outras bacias, no Pinhal, no Belo, e até mesmo alguns (afluentes) tributários do Piaí que já nascem comprometidos em função da sua localização, além das suas nascentes estarem literalmente afogadas, no sentido de que estão enterradas, canalizadas. Há uma tendência mundial na busca da revitalização dos córregos urbanos, inclusive algumas grandes capitais e cidades europeias estão desenterrando os córregos e reincorporando-os à paisagem, porque justamente se reconhece o papel deles tanto nos aspectos estético, de bem-estar e até mesmo de qualidade, porque, estando expostos, fica mais visível a própria qualidade deles. No passado, a gente enterrou. A gente criou canais e escondeu. Hoje, há uma tendência à revitalização". Vania Elisabete Schneider, diretora do Instituto de Saneamento Ambiental da UCS
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Educação ambiental
"O que vejo é a necessidade de continuar o planejamento a longo prazo e vejo também a importância da educação ambiental, porque saneamento e resíduos sempre depende do cidadão. Divulgar essas informações e contar com a participação da população é importante. Para a gente ter a adesão da população, é claro que a gente tem que fazer um trabalho contínuo de educação ambiental. Na minha visão, Caxias sempre tem que melhorar. O desafio é nos mantermos em destaque com bons índices e indicadores representativos, mas para isso precisamos de planejamento e educação continuada. Hoje, a gente consegue comprovar que investimento em saneamento acaba reduzindo despesas com saúde pública, acaba reduzindo doenças." Raquel Finkler, coordenadora do curso de Engenharia Ambiental da FGS e de Gestão Ambiental da FTSG
Ciclovia e qualidade do ar
"Hoje, atingimos um estágio avançado no tema mobilidade urbana e, por mais ondulado que seja o terreno, acredito que as ciclovias seriam extremamente importantes e necessárias, mas uma ciclovia segura, para criar uma cultura do uso da bicicleta. Consequentemente, melhoraríamos o tráfego e a qualidade do ar, porque seriam menos automóveis nas ruas. E uma coisa que não se fala muito, mas existe, é a poluição sonora."Gabriel Simioni, do Instituto Orbis Política das águas"O próximo governo deveria rever toda a rede de distribuição de água, porque a gente sabe que existem muitos vazamentos, consequentemente se perde muita água potável. Também é importante a proteção das nascentes, a recuperação das matas ciliares. Recuperar locais onde ela nasce, onde ela brota. Ainda sobre água, seria importante o incentivo para que as pessoas fizessem captação da água da chuva. Não só nas novas construções, mas quem já tem casa poderia, através de algum incentivo, captar a água." Gabriel Simioni, do Instituto Orbis