Andrea Basso, 52 anos, se apresenta como médica e agricultora. De orgânicos, é bom frisar. Com mais cinco minutos de conversa, já é possível afirmar, sem dúvida: Andrea é mais, é uma ativista ambiental. Há cerca de 20 anos, ela passou a morar em um sítio no interior de Forqueta, em Caxias do Sul. Não deixou a Medicina, mas passou a conciliar a profissão com a agricultura. Natural de Bento Gonçalves, ela sentia a necessidade de morar fora do centro urbano e produzir seu próprio alimento. Foi assim que surgiu o Caminhos da Floresta.
– Sou neta de agricultores e meu marido é agricultor desde sempre. Nós temos uma ligação muito forte com a terra. Não consigo me imaginar só com o trabalho na cidade e o fato de produzirmos nosso próprio alimento nos deixa muito felizes – conta Andrea, casada com o músico Marco Gottinari.
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A proposta inicial era de uma produção para consumo próprio, mas como a natureza é abundante, Andrea teve de pensar em um destino ao excedente. A solução foi comercializar os produtos na Feira Ecológica e trocar por alimentos que ela não produz, o famoso escambo. Além de verduras, o casal planta pêssego, laranja e bergamota. No sítio, também funciona uma agroindústria, onde uma amiga produz hambúrgueres veganos.
A dupla jornada de trabalho já chegou a provocar conflitos em Andrea. Não pelo cansaço ou por querer deixar um dos ofícios – ela garante que ama tanto trabalhar como médica quanto como agricultora. Mas por ver tantas pessoas doentes em hospitais, provavelmente por uma má alimentação.
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O uso de agrotóxicos na agricultura, a exploração da terra, o descaso com a água e a destinação errada do lixo também preocupam e entristecem Andrea. Mas nem por isso ela deixa de acreditar.
_ A gente não desiste. Tem um amigo que diz que nós somos "ecobiodesagradáveis", porque a gente é muito chato, fica insistindo o tempo todo, tem que melhorar as coisas na cidade, tem que melhorar as coisas na roça, então, a gente incomoda muito. Mas incomodar faz parte da nossa tentativa de que as pessoas um dia acordem e vejam que é possível um outro mundo, mas não do jeito que está. É muita gente doente, é tudo destruído, não tem como viver assim. A gente está se autodestruindo – finaliza.