<< LEIA TAMBÉM Especialistas apontam problemas e soluções para a saúde de Caxias
Qual o melhor remédio para melhorar a saúde pública nas cidades? Para o presidente da Associação Gaúcha de Medicina de Família e Comunidade, Leonardo Targa, é a prevenção. Médico e professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS), ele entende que o poder público deve priorizar a estratégia de saúde da família para proporcionar acompanhamento às comunidades.
Leia mais
Como atender de pronto em Caxias do Sul
Especialistas apontam problemas e soluções para a saúde de Caxias
Para Targa, a assistência contínua pode evitar doenças, garantir qualidade de vida à população e gerar menos custos aos cofres públicos. Confira os principais trechos da entrevista:
Quais os principais problemas da saúde pública nas cidades gaúchas atualmente?
Leonardo Targa: Óbvio que tem problemas, como em qualquer lugar a gente sempre pode fazer um pouco melhor. O que a gente nota no Rio Grande do Sul e também no Brasil é que existe muita gente com jeitos diferentes de pensar o que seria o melhor. Tem jeitos diferentes de organizar o sistema de saúde. Assim como a gente pode estudar qual o melhor remédio para uma coisa, a gente pode estudar qual o melhor jeito de organizar um sistema de saúde de um país. E quando a gente compara os diferentes países, a gente vê que as decisões que eles tomam impactam nas condições de saúde da população. Hoje em dia, por exemplo, ter uma porta de entrada, um primeiro contato com o sistema de saúde bem organizado. E, no caso do Brasil, uma das propostas que está em disputa é o modelo da estratégia da saúde da família nos postos de saúde, perto das casas das pessoas. Se esse modelo de nível de atenção está bem organizado, ele ajuda todo o resto do sistema a se organizar também. Isso é um problema de gestão, a gente ainda não tomou a decisão real de botar isso como uma prioridade no nosso sistema de saúde, que todo mundo tenha um médico de referência, uma equipe de saúde de referência perto da sua casa, com qualidade e que dali vai organizar o que mais for preciso. Se a pessoa entrou no sistema de saúde, no posto, com o seu médico de família e precisa internar, dali vai ser coordenado todo o resto dessa atenção: onde vai ser o hospital, qual o especialista. Quando ela volta do hospital, vai ser recebida em casa (pelo médico do posto) de novo. Esse tipo de modelo de gestão, quando está bem organizado como em países como Reino Unido e Canadá, gera melhores resultados para as pessoas e diminui os custos, porque racionaliza o jeito de usar o dinheiro com saúde, que é sempre limitado.
Leia ainda
Confira as sugestões dos leitores para melhorar a mobilidade de Caxias
"Em primeiro lugar, o pedestre", defende mestre em Engenharia de Transportes
Especialistas mostram problemas e saídas para a mobilidade de Caxias do Sul
Como a Família Cardoso se movimenta em Caxias do Sul
Quais as sugestões para tornar a saúde pública mais eficiente?
Targa: Baseado nesses estudos que comparam o que funciona e o que não funciona em sistema de saúde, eu recomendaria exatamente isso, que a gente torne prioridade investir nesse nível de entrada do sistema, que é capaz de resolver 90, até 95% de todos os problemas de saúde de uma população. Isso não quer dizer que vamos deixar de fazer outras coisas.No momento em que se organiza bem a estratégia de saúde da família no Brasil, com médico especialista de família perto das pessoas, com vínculo, trabalhando bastante tempo nas comunidades, isso gera um efeito positivo em todo o resto do sistema e nas condições de saúde da população. Essa deveria ser a prioridade de qualquer sistema de saúde que quer melhorar os seus desfechos.
Dá para trabalhar com poucos recursos?
Targa: Relativamente, vai gerar um ciclo virtuoso no uso do dinheiro. Os países que já fizeram isso, como Canadá, Grã-Bretanha, grande parte da Europa, notam a médio e longo prazo o melhor uso do dinheiro que têm. A saúde sempre precisa de dinheiro, mas cada caso que tu consegues prevenir na atenção primária, por exemplo, um hipertenso que está com a pressão bem controlada, ele custa muito menos do que se ele chegar ao hospital só depois que tiver um infarto. Outro exemplo é a vacinação. Precisa muito dinheiro para vacinar toda a população, mas é muito menos do que se a gente não vacinar e esperar as pessoas ficarem doentes. É um dinheiro melhor investido. Com o mesmo dinheiro, tu diminui o sofrimento da população também.
* Para navegar pelo mapa, clique na seta ao lado direito. Para ler mais informações sobre cada serviço de saúde, clique na letra "I" no canto superior direito.