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A quarta reportagem da série A Cidade que Queremos traz um diagnóstico da saúde de Caxias do Sul e aponta alternativas viáveis, sugeridas por especialistas e líderes, para tornar o atendimento no município, com quase meio milhão de habitantes, melhor. Confira:
DIAGNÓSTICO
Carência em especialidades médicas
"No que envolve as especialidades médicas, nós temos muita carência. Essa consulta especializada requer a área diagnóstica. É um problema grande e faz com quem a complexidade aumente porque não tratando adequadamente isso acaba no hospital numa forma muito mais aguda. O atendimento secundário é um problema que precisa ser enfrentado". Francisco Ferrer, presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do RS
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Falta de financiamento regional
"Caxias é referência para 48 municípios. Essa referência tem que vir acompanhada de um financiamento por parte desses municípios que utilizam Caxias. É preciso avançar na negociação de Caxias com os municípios da região para o financiamento, principalmente para atendimento de alta complexidade e a elucidade diagnóstica, que envolve exames mais complexos, como ressonância magnética, tomografia, entre outros". Francisco Ferrer, presidente da Federaçãodas Santas Casas e Hospitais Beneficentes do RS
"Caxias atende a mais 48 municípios, que buscam atendimento aqui e é um direito, mas disputam atendimento com nossos moradores. A gente sabe que é legítimo, mas espera que o Estado e a União façam a sua parte, investindo o necessário”. Flávio Fernandes, presidente da UAB
Aumento da drogadição
"Uma outra questão crescente em Caxias é a dependência química. É uma questão de saúde pública, que envolve outros setores, que precisa ter, assim como a saúde mental, uma visão muito focada numa resposta eficaz no nível ambulatorial (tratamento e acompanhamento) e na internação, quando agudiza o sistema". Francisco Ferrer, presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do RS
Demora no atendimento
"O município está fazendo o que pode para manter a saúde num nível satisfatório, mas tem que melhorar, porque se já é ruim esperar na fila para se divertir no cinema, no teatro, imagina doente esperando atendimento. A gente entende que está caindo muito (a responsabilidade) em cima do município. Gostaríamos que o Estado fizesse a sua parte, que a União fizesse a sua parte, porque senão a gente vai caminhar para cada vez mais piorar. A gente também entende que são mais de 18 mil desempregados usando o SUS porque perderam o plano de saúde. A população vai querer sempre atendimento, e merece". Flávio Fernandes, presidente da UAB
Usuário também tem culpa
"Identifico também, muitas vezes, e agora é um puxão de orelha no usuário, porque ele busca muito a parte curativa. Eu brinco que a gente fica 40, 50 anos comendo tudo o que é porcaria, sendo sedentário, bebendo, e em cinco minutos, quando tu teve a pressão elevada ou algo assim, quer que resolvam pra ti. Mas por que tu não fez um trabalho de prevenção? Por que tu não buscou um sistema de saúde? Daí dizem que demora seis meses para conseguir um atendimento. Quando tu já tem um diagnóstico, seis meses é um tempo muito longo, mas se existisse uma forma de fazer prevenção, tu pode esperar dois meses para apenas uma consulta de rotina. O usuário também não está utilizando de forma correta o sistema". Cleber Cremonese, coordenador do curso de Ciências Biológicas da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) e doutor em Saúde Pública e Meio Ambiente pela Fiocruz, do Rio de Janeiro.
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CAMINHOS POSSÍVEIS
Parcerias com a iniciativa privada
"Coloquei a questão da drogadição. Um investimento que envolva tanto poder público quanto as outras áreas, e aí entra o setor privado, se somando para dar a Caxias uma melhor resposta nessa área. É parceria público-privada que possa estabelecer nova metodologia, um novo modelo de tratamento ao dependente químico". Francisco Ferrer, presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do RS
Criação de centros especializados
"Outra questão: quando se fala de atendimento ambulatorial, é (preciso) priorizar de acordo com o perfil epidemiológico que temos hoje, em que prevalece as necessidades de doenças advindas do trauma, oncológicas, cardiovasculares. Tratar de maneira focada, que possa reduzir essa dimensão que temos vivenciado de carência. Estabelecer centro especializados nessa especialidades". Francisco Ferrer, presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do RS
Alimentação saudável
"50% da população adulta, segundo dados do IBGE, estão com excesso de peso e 30% das crianças estão com excesso de peso. O poder público pode promover as ações para escolhas mais saudáveis. Pode fornecer recursos para que as pessoas tenham acesso. Por exemplo, ter uma horta comunitária numa comunidade mais carente é uma alternativa, porque elas terão onde pegar o alimento. Muitas vezes, em função econômica, a pessoa sabe o que tem que comer, mas não tem dinheiro para comprar. Outros setores precisam trabalhar junto para garantir uma boa alimentação e prevenir doenças crônicas e obesidade". Maria Luísa de Oliveira Gregoletto, nutricionista e mestre e doutoranda em Saúde Coletiva
Integralidade
"Um dos princípios do SUS é a integralidade, porém, na prática, não existe. A informatização seria muito importante também, porque, se eu tivesse um sistema correto, eu teria todo o sistema de saúde trabalhando junto. Alguns países como Inglaterra e Dinamarca têm sistema onde o usuário tem um único número que faz com que tenha um histórico sobre sua saúde, desde o momento em que nasceu, as vacinas, as doenças que teve, quantas cirurgias, e isso iria facilitar. Existe, claro, o DataSUS, com informações importantes, mas ainda é deficitário. Muitas vezes ele traz dados coletivos. São algumas estratégias que existem no papel, mas não são colocadas em prática". Cleber Cremonese, coordenador do curso de Ciências Biológicas da FSG e doutor em Saúde Pública e Meio Ambiente pela Fiocruz, do Rio
Desde dia 1º de agosto, o Pioneiro tentou contato com o presidente do Sindicato dos Médicos de Caxias do Sul, Marlonei dos Santos, para ouvi-lo sobre a situação da saúde pública caxiense, diagnósticos e propostas. Também foram enviadas questões via e-mail, mas não houve retorno.
Confira no mapa abaixo os serviços de saúde disponíveis em Caxias:
* Para navegar pelo mapa, clique na seta ao lado direito. Para ler mais informações sobre cada serviço de saúde, clique na letra "I" no canto superior direito.
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