De bicicleta, a pé, de transporte coletivo ou carro. Assim, a Família Cardoso se movimenta pelas ruas de Caxias do Sul. Cada um tem a sua preferência. Evenio Cardoso opta pela bicicleta para ir ao banco, no mercado e até no dentista e ao médico. Sua esposa, Geni Maria Cardoso, usa mais o transporte coletivo, e o genro de Evenio, Jabez Neves, desloca-se de carro.
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Cada um a seu jeito, tentam se movimentar em uma Caxias do Sul com 295.225 veículos – um número grandioso – e que recém recebe um sistema de mobilidade integrada que dá prioridade ao transporte coletivo. Uma cidade que tem pressa, em que se deslocar não é simples e expõe uma convivência muito difícil entre motoristas e pedestres, em que estes habitualmente saem perdendo.
Proprietário de uma loja de venda e conserto de bicicletas localizada no bairro São José, Seu Evenio aprendeu a pedalar quando tinha sete anos e pegou gosto. Em 1968, começou a usar o meio de transporte para trabalhar. Ele pedalava do Fátima Baixo, onde morava, até a antiga Cooperativa Madeireira Caxiense, onde hoje estão os hipermercados BIG e Zaffari. Anos depois, começou a trabalhar em uma empresa em São Romédio. A distância aumentou e Seu Evenio precisou abandonar as pedaladas devido a problemas de pressão alta.
Aos 68 anos, ele ainda pedala até o centro da cidade pelo menos duas vezes por semana para “pequenos serviços”:
– Amo andar de bicicleta e uso também para fazer exercício. Encosto em um lugar próximo e tranco com um cadeado. Até hoje, graças a Deus, nunca ninguém mexeu na minha bicicleta.
Como a cidade não tem ciclovias, e para prevenir acidentes, Seu Evenio conta que anda por ruas menos movimentadas e usa a calçada como medida de precaução.
– A bicicleta não é respeitada, principalmente na Visconde (de Pelotas). Os motoristas passam assim pela gente (mostra com as mãos a proximidade). Ando por ruas com menos movimento porque não tem ciclovia. Curitiba é cheia de ciclovias e uma beleza para andar de bicicleta.
Para Seu Evenio, os morros não devem ser empecilho para as pessoas andarem de bicicleta em Caxias, pois é possível fazer rotas alternativas para evitar as subidas mais íngremes.
– Tem pessoas muito acomodadas. As distância menores poderiam ser feitas de bicicleta.
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Qual a Caxias do Sul que queremos?
Seu Evenio só troca o veículo predileto pelo carro quando precisa se deslocar com o neto Rogério, 14 anos, que sofreu um acidente de trânsito e precisa de atendimento de saúde.
– Levo o guri para a equoterapia em São Virgílio. Ele faz fonoaudiologia, fisioterapia e já fez psicóloga. Hoje saio duas vezes por semana de carro com ele. Também uso o carro para ir à noite na igreja. Mas se tiver a oportunidade de sair sozinho, vou de bicicleta – faz questão de confirmar.
Já Dona Geni, 67 anos, sem saber dirigir automóvel, anda a pé pequenos trajetos e, quando precisa ir até o Centro, utiliza o transporte coletivo.
– Muitas vezes, vou caminhando e depois pego o ônibus. Até o Pio X, vou e volto a pé.
Usuária do transporte coletivo, Dona Geni elogia a qualidade dos veículos e o comportamento dos motoristas da Linha São José, mas lembra de atrasos no horário dos ônibus.
O “novo” trânsito
Jabez Neves, 51, é um usuário do carro convicto. Taxista há 16 anos, usa seu automóvel particular para ir todos os dias na igreja e até mesmo para ir na padaria que fica próxima à sua residência no São José. Ele assume o comodismo ao andar de carro até mesmo em pequenas distâncias, mas diz que também é para se prevenir da insegurança.
– Uso o carro todos os dias. É preguiça de caminhar, mas também por medo de ser assaltado – comenta.
O taxista reclama do trânsito no Centro após as mudanças do Sistema Integrado de Mobilidade, o SIM Caxias, como a proibição de dobrar à direita nas ruas Pinheiro Machado e Sinimbu.
– Estamos com as mãos amarradas. Não conseguimos atender à população que mora na área central porque não conseguimos nem desembarcar o passageiro nessas ruas. Nós também levamos passageiros. Por quê o azulzinho pode parar em qualquer lugar? – reclama ele sobre as dificuldades recentemente introduzidas no trânsito do Centro.
5 desafios do trânsito em Caxias
A partir da experiência diária nas ruas de Caxias do Sul e da avaliação de especialistas nas áreas de urbanismo e trânsito, o Pioneiro listou cinco desafios para a mobilidade da cidade
1. Integração dos modais de transporte – Especialmente ônibus, táxis-lotação e bicicletas.
2. Convivência entre veículos e pedestres – é bem difícil.
3. Qualidade do transporte coletivo urbano – A opção estratégica da administração municipal pelo transporte coletivo é importante, mas precisa avançar bem mais.
4. Acessibilidade – A infraestrutura para cadeirantes e pessoas especiais é precária.
5. Circulação de automóveis no Centro – Há pontos críticos para congestionamento.
Raio-X
Bairros: 65
Loteamentos: 568
Número de veículos: 295.225
Linhas de ônibus: 76
Horários de ônibus em dias úteis: 7.545; aos sábados: 4.788; aos domingos: 3.715
Paradas de ônibus: aproximadamente 3,8 mil
Táxis-lotação: 21
Táxis: 316
Ciclovia: 4.585 metros
Bicicletários: 2 (nas EPIs)
Estações Principais de Integração: 2 (Imigrante e Floresta)
Sinaleiras para pedestres: 946 (com botão, 20; vermelho total: apenas 8)
Sinaleiras para veículos: aproximadamente 280
Rampas (acessibilidade): não há levantamento oficial
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