A confusão entre alunos e professores no Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, em Caxias do Sul, em 30 de junho, que virou caso de polícia, está sendo investigada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. O motivo é a suposta agressão sofrida por alunos naquela manhã. Quatorze estudantes e 12 professores foram levados à delegacia e os docentes registraram ocorrência por ameaça e desacato contra os alunos – a maioria participou da ocupação do colégio entre os dias 19 de maio e 24 de junho.
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Há uma semana, três estudantes foram ouvidos pela comissão. Conforme o relato, dois alunos foram agredidos por um policial e um deles, algemado. Além da agressão, eles reclamaram da presença do grupo Associação Pais do Bem, que, segundo afirmam, intimidam os estudantes. Deputado integrante da comissão, Pedro Ruas (PSOL) foi quem recebeu a denúncia dos próprios estudantes.
Ele diz que a intenção é visitar Caxias, no máximo, até semana que vem, para ouvir a direção da escola e a Brigada Militar. A intenção é recolher o maior número de informações para encaminhar a órgãos como Ministério Público e Secretaria Estadual da Educação, já que se trata de uma instituição de ensino.
– O que nos chegou é uma denúncia muito séria, de uma arbitrariedade. Claro que a Comissão de Direitos Humanos tem a cautela de ouvir todos os lados envolvidos. Nós ouvimos um dos lados e o que ouvimos é estarrecedor, porque, teria ocorrido, segundo relato, uma violência muito grande, humilhação, com algema em adolescentes, menores de idade e uma situação vexatória dentro da escola, tentativa de agressão e agressão, inclusive – conta o parlamentar.
De acordo com o estudante supostamente agredido, ele e mais um grupo de colegas queria realizar uma reunião para tratar sobre a eleição do Grêmio Estudantil, o que não teria sido autorizado pela direção da escola. Segundo o jovem de 16 anos, eles retornaram para a sala de aula e, minutos depois, foram chamados para comparecer à sala dos professores.
– Quando eu cheguei na sala dos professores, o policial pediu para eu tirar o boné e eu pedi por que que era para eu tirar o boné. Então, ele começou a me bater, me algemou, me jogou no canto da sala – conta.
Conforme a diretora da escola, Fabiana Simonaggio, os alunos ficaram sozinhos com os PMs, sem a presença de professores. Embora não tenha presenciado o que aconteceu dentro da sala, não acredita que os policiais tenham agredido os estudantes.
AS VERSÕES
ALUNOS – Conforme os três alunos que estiveram na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, a intenção, na manhã do dia 30, era continuar a reunião sobre eleição para o Grêmio Estudantil que havia iniciado no recreio. Eles dizem que tinham autorização por escrito dos professores para realizar o encontro, mas quando foram apresentar o documento na direção, foram barrados por outros professores e pais que têm frequentado a escola desde o período da ocupação. Eles teriam sido ameaçados e, então, retornaram para suas salas de aula. Minutos depois, teriam sido retirados da aula para comparecer à direção. Foram levados para a sala dos professores, onde policiais os aguardavam. Foi, então, que dois alunos teriam sido agredidos. Um porque questionou o motivo de ter que tirar o boné após pedido de um policial e outro porque não queria permanecer na sala. O primeiro teria sido algemado e levado até a delegacia em uma viatura sozinho.
DIREÇÃO – Conforme a diretora Fabiana Simonaggio, um dia antes, os alunos já queriam realizar uma reunião sobre o Grêmio Estudantil, mas foram advertidos por ela que a eleição só ocorreria após as férias. Mesmo assim, insistiram e foram para o pátio da escola conversar. No dia 30, eles quiseram se reunir novamente, mas, segundo Fabiana, houve tumulto. Ela chegou na escola depois que a polícia havia sido acionada. Conforme Fabiana, ao ligar para o 190 e explicar a situação, a vice-diretora foi informada que não era caso da Patrulha Escolar, mas, sim, da Brigada.
– Eles estavam fora da sala de aula, chutando porta e chamando alunos para saírem da sala. Os professores ficaram com medo que tomasse proporção maior – explica.
A diretora diz que a escola não quer proibir os alunos de se organizar, mas defende que eles precisar cumprir regras e não podem fazer reuniões a qualquer hora, em qualquer momento.
BRIGADA MILITAR – Procurado pela reportagem, o comandante do 12º BPM, tenente-coronel Ronaldo Buss, preferiu não comentar o assunto e disse que a posição da Brigada é a mesma dada ao jornal na data do episódio. Naquele dia, o supervisor de serviço da BM em Caxias do Sul, capitão Marcelo Segala Constante, disse que houve desacato por parte do adolescente, que tentou agredir um policial. Por isso, foi necessário o uso das algemas, de acordo com a técnica amparada por lei.
– Os policiais foram chamados para amenizar a situação e estavam tentando conversar. Esse aluno se negou a ficar na sala (dos professores) e empurrou o policial, perguntando quem ele era para lhe dar ordem. Sobre a condução dos alunos até a viatura, foi amigável e não houve nenhuma situação vexatória – afirmou Constante, em reportagem publicada no site do Pioneiro em 30 de junho de 2016.
ASSOCIAÇÃO PAIS DO BEM – Conforme a presidente da associação, Patricia de Castro, os pais membros da entidade não tiveram envolvimento com o episódio do dia 30. Segundo ela, quem chamou a polícia foram os professores. Ela diz que o objetivo da associação, criada no dia 10 de julho, é ajudar a escola. Para isso, mutirões de limpeza, pintura e reforma estão sendo realizados no colégio.
– Tudo o que acontece na escola são os pais, se um pai olha para eles, acham que estão sendo ameaçados. Mas não. A gente quer ajudar – diz.