Ao mesmo tempo em que beira o marco de meio milhão de habitantes e se destaca como cidade grande, Caxias do Sul sofre com uma das mazelas que marcam as metrópoles: a população em situação de rua. A estimativa é de que mais de 100 pessoas durmam ao relento, índice não muito maior do que o mostrado pelo Pioneiro em janeiro de 2010, de cerca de 80. Embora o número não apresente grande disparidade em relação a anos anteriores, a realidade está na cara. Moradores de rua são vistos com cada vez mais frequência sob marquises no centro e o problema tem se espraiado, principalmente à região do bairro Lourdes.
Salvo raras exceções, o poder público não consegue afastar essas pessoas da rua em definitivo. Por causa do vício, geralmente em crack, elas preferem a liberdade às regras necessárias em casas de acolhimento. O trabalho dos educadores sociais da Fundação de Assistência Social (FAS) é marcado pela insistência. Todas as manhãs e finais de tarde, uma equipe percorre os pontos mais frequentados pelos sem-teto. A abordagem é amistosa, com a oferta de banho quente ou refeição disponíveis no Centro Pop Rua.
- Eles dizem que estão bem, que não precisam de ajuda. Mas, depois, a grande maioria vai ao Centro Pop Rua para comer, tomar banho e participar de oficinas. Temos que insistir, fazer retrabalho, mas não podemos desistir - destaca o gerente do Centro Pop Rua, Julio Cezar Chaves.
Mesmo diante de tantas recusas, o Centro Pop Rua insiste em auxiliar essa gente na confecção de documentos e recolocação no mercado de trabalho. Os poucos interessados são encaminhados ao Pronatec para cursos profissionalizantes. Chaves comemora o caso de duas pessoas, viciadas em álcool, incluídas em cursos de cabeleireiro e padeiro:
- Eles estão com o vício controlado e trabalhando. Nosso trabalho é resgatar a cidadania deles.
A rede de assistência em Caxias ainda conta com a Casa de Passagem São Francisco de Assis, a Casa de Acolhimento Carlos Miguel dos Santos (antigo albergue municipal) e o Caxias Acolhe.
Recorrência é a marca
Como grande parte dos moradores de rua atendidos pelo município é recorrente, as equipes conhecem as histórias de vida de muitos deles. Na chegada ao Centro Pop Rua para tomar café da manhã, alguns são tratados pelo nome.
Para se ter uma ideia da recorrência, em agosto o Centro Pop Rua realizou 386 atendimentos e 162 encaminhamentos a casas de passagem. O número de atendimentos é maior do que o dobro porque alguns homens e mulheres voltam a procurar ajuda mesmo após ter passado pelo Centro Pop e recebido encaminhamento à rede de proteção social.
Nas casas de passagem, não sobram camas. As 94 vagas para pernoite somadas entre a Casa de Passagem São Francisco de Assis, a Casa de Acolhimento Carlos Miguel dos Santos e o Caxias Acolhe estão sempre ocupadas.
Caxias tem moradores de rua vindos de outras cidades e Estados, mas a grande maioria tem ligação com a cidade. São pessoas que nasceram aqui ou se mudaram anos atrás. A idade média gira entre 25 e 35 anos e, conforme o gerente do Centro Pop Rua, Julio Cezar Chaves, cerca de 80% é viciada em crack, o que dificulta ainda mais o trabalho da assistência social.
- O trabalho dos técnicos é avaliar o contexto de cada um. Temos de acolhê-los, tentar contato com familiares. Temos os nossos moradores (de rua) e os que chegam todo dia. Há um esforço muito grande para que todos sejam atendidos - reforça a presidente da FAS, Marlês Andreazza.