Neste domingo, 24 de agosto, completam-se 60 anos do suicídio do ex-presidente da República, Getúlio Dornelles Vargas (PTB), o líder político que governou o país pelo maior período na história do Brasil - de 1930 a 1945 e de 1951 até sua morte, em 1954. Natural de São Borja, ficou conhecido como "o pai dos pobres".
>> VÍDEO: a chegada de Getúlio Vargas a Caxias em 1954:
Seis meses antes de sua morte, em 28 de fevereiro de 1954, Vargas esteve em Caxias do Sul para a abertura da Festa Nacional da Uva e inauguração do Monumento ao Imigrante. Em 1950, ele também esteve na cidade, durante a campanha à Presidência.
Sua doutrina e seu estilo político foram chamados de getulismo ou varguismo. Seus seguidores existem até hoje. Vargas suicidou-se com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal.
Confira a seguir relatos de quem manteve contato com Getúlio Vargas durante suas passagens por Caxias:
O menino
Um menino de 12 anos, vestindo o uniforme da escola, aparece em foto de 1950 ao lado de Getúlio Vargas. O ex-presidente toma um cafezinho e segura um charuto. O registro foi feito em São Marcos da Linha Feijó, em Caxias do Sul, durante um almoço de campanha eleitoral, tendo o gaúcho como candidato à Presidência da República. Ao fundo, cartazes com o nome de Ruben Bento Alves, candidato a deputado estadual.
O garoto, à época um estudante do Colégio Nossa Senhora do Carmo, é Enoir Oliveira da Luz, 75. Seu apelido é Juca. Ele deixou o Brasil em 1972, mora em Lisboa, Portugal, onde tem um restaurante de comida brasileira, o Brasuca.
O pai, Salustiano Ribeiro da Luz, um getulista, simpatizante do PTB e amigo de Bento Alves, o levou ao almoço. O estudante admirava Getúlio por seus pronunciamentos, sempre iniciados com o chamamento Trabalhadores do Brasil. Na sala de casa, o pai mantinha um quadro com a foto de Getúlio Vargas.
O relato foi fornecido por Enoir Oliveira da Luz ou Juca por e-mail. Além disso, em entrevista concedida ao Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, em 2007, ele diz que os estudantes recolhiam assinaturas para o abaixo-assinado Luta pela Paz e ele esteve no almoço representando os alunos do Carmo, onde entregou o manifesto.
Conforme contou ao Pioneiro, seu pai falava muito do presidente, embora tivesse restrições a algumas políticas adotadas durante a ditadura de 1930 a 1947.
- Ele era de estrutura média, um verdadeiro pecuarista, muito simpático e como político estava à disposição de todos. Mais ouvia do que falava - relata.
Em Caxias, Enoir trabalhou durante 21 anos na empresa Rosinato e Calcagnotto, foi secretário geral e presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Joalheria e Lapidação de Pedras Preciosas de Caxias do Sul de 1961 a 1970. Foi filiado ao PCB e ao MDB. Durante o período da ditadura, não chegou a ser preso, mas foi detido várias vezes pelo Dops e pelo Exército em Caxias.
Ele guarda saudades de Caxias.
- Nasci em 9 de novembro de 1938, na Rua Borges de Medeiros, no alto da escadaria que hoje dá para o Parque dos Macaquinhos. Regresso de vez em quando ao Brasil e vou a Caxias visitar meus familiares. Sempre senti saudades da minha terra.
A cadeira
Claudio Alberto Muratore Eberle tinha 15 anos quando Getúlio Vargas esteve em Caxias do Sul em 28 de fevereiro de 1954. Irmão da rainha da Festa da Uva daquele ano, Maria Elisa Eberle, ele era o acompanhante da soberana nos eventos. Eberle relembra um fato ocorrido durante a inauguração do Monumento ao Imigrante e que acabou ganhando outra dimensão em âmbito nacional.
- Durante a inauguração, cansado, Getúlio pediu uma cadeira. Minha irmã estava na frente do segurança dele, o Gregório Fortunato. A cadeira foi passando sobre as pessoas e alcançada ao Gregório. Na hora que o segurança pegou a cadeira no ar com as duas mãos, minha irmã que estava olhando, se afastou. Parecia que ela ia levar uma cadeirada. Nesse momento, foi feita uma foto. Em março, fui para São Paulo estudar e vi a foto em um dos jornais de lá.
- Foi publicado pelos seus inimigos - define.
O caxiense, neto de Abramo Eberle, fundador da Metalúrgica Abramo Eberle SA, diz que conversou com Getúlio em sua vinda a Caxias por causa da irmã e conta que o ex-presidente era simpático, gentil, bonachão.
- Estava bem alegre, não aparentava nada de depressão - afirma.