O assalto ao Banco do Brasil de Viamão, em março de 1970, pela organização política armada de extrema esquerda VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), acabou desembocando em Caxias do Sul no auge da ditadura militar no país. Em seguida, com a tentativa frustrada de sequestro do cônsul norte-americano em Porto Alegre, Curtis Cutter, no início de abril, pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), veio o empurrão para a prisão e tortura de diversos membros da organização.
A VAR-Palmares, organização em que a presidente Dilma Rousseff (PT) militava, mantinha alugado em Caxias um apartamento clandestino, localizado em um prédio na esquina das ruas Dr. Montaury e Vinte de Setembro. Tratava-se de um "aparelho", denominação dos locais utilizados para esconder militantes e realizar reuniões, onde foram abrigados integrantes da organização, principalmente de Porto Alegre e do centro do país em passagem pela região.
O apartamento estava locado em nome de Paulo de Tarso Carneiro, então funcionário do Banco do Brasil de Garibaldi, estudante de Filosofia em Caxias e coordenador da VAR Palmares na região. Paulo de Tarso morava em uma república em Garibaldi, Alves ou Breno - codinomes que utilizava - morava no "aparelho", quando necessário. O fiador era o caxiense Maeth Boff, também estudante de Filosofia e professor em Garibaldi. Em 6 de abril, há exatos 44 anos que serão completados neste domingo, o "aparelho" foi descoberto. Paulo de Tarso foi preso na mesma data, trabalhando no Banco do Brasil em Garibaldi. Foi solto em 7 de abril de 1971.
A organização que queria derrubar o regime pouco a pouco foi sendo desfeita, numa sucessão de episódios que desencadeou diversas prisões. Entrava em ação na cidade a mão do torturador Paulo Malhães, agente do Centro de Informações do Exército (CIE), hoje coronel da reserva do Exército. Ele foi manchete nacional nos últimos dias ao revelar ter matado, desfigurado e ocultado cadáveres de presos políticos, durante sua atuação na Casa da Morte de Petrópolis (RJ), e ensinado técnicas de tortura no Rio Grande do Sul.
- Ele torturou o pessoal aqui de Caxias, conforme informações dos companheiros que chegaram em Porto Alegre, na delegacia perto da praça (Dante Alighieri), com as janelas abertas. O pessoal passava, olhava, ele estava torturando. Ele não tinha vergonha, receio. Malhães dizia que era amigo do (Emílio) Médici (presidente da República) e que podia fazer o que ele quisesse. Hoje se sabe que ele é o homem da Casa da Morte em Petrópolis - conta Paulo de Tarso, que, a convite do Pioneiro, esteve em Caxias e Garibaldi na quarta-feira.
Os métodos da repressão em Caxias, a formação e objetivos da VAR-Palmares na cidade, com ideias de entrar na luta armada, e detalhes das prisões são revelados pelo próprio coordenador da organização na região em 1970. Ele se reencontrou com antigos integrantes da VAR, como Orlando Michelli, Maeth Boff e João Ruaro Filho.
Ditadura
Ex-coordenador da VAR-Palmares lembra da repressão e prisões em Caxias do Sul em 1970
Paulo de Tarso Caneiro conta que havia um "aparelho" no Centro para esconder militantes em passagem pela região
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