Ídolo pela bela carreira como jogador de futebol, o que lhe conferiu uma estreia de sucesso nas urnas, sendo o vereador mais votado em 2012, o secretário municipal de Esporte e Lazer e pré-candidato a deputado federal Washington Stecanela Cerqueira (PDT) tem se envolvido em situações confusas.
Em junho do ano passado, foi flagrado saindo de um jantar na casa de um operador do jogo do bicho, que reuniu empresários insatisfeitos com as blitze contra motoristas embriagados. Estava acompanhado do vice-prefeito Antonio Feldmann (PMDB). Oito meses depois, na madrugada de 8 de fevereiro, Washington foi parado em uma blitz na Rua Os Dezoito do Forte, e se recusou a fazer o bafômetro. Inicialmente, ao colunista do Pioneiro Gilberto Blume, disse que nem saíra de casa naquela noite.
O caso foi parar no Ministério Público. Segundo denúncia de populares enviada à 4ª Promotoria Criminal, conduzida pela promotora Sílvia Regina Becker Pinto, o secretário se utilizou da condição de autoridade, dando o chamado carteiraço. Dias depois, a Rádio Gaúcha Serra confirmou que Washington não só caiu na blitz, como teve a carteira de motorista apreendida (Recibo de Recolhimento de Documentos, número 21395, da Secretaria de Trânsito de Caxias, código 11).
Na terça-feira, Washington esteve no Pioneiro pedindo desculpas ao colunista por ter mentido, no dia 14 de fevereiro, quando questionado por Blume sobre a blitz. Ele diz que ficou assustado com o ocorrido e foi aconselhado a negar, a não falar nada, por (Jorge) Catusso (diretor de Trânsito).
Catusso contesta com veemência a declaração do secretário, explicando que a força-tarefa não divulga nomes em hipótese alguma, e foi isso que ele disse a Washington. O diretor de Trânsito acrescenta: o código 11 é utilizado para quem se nega a assoprar o bafômetro, para quem está entre 0,5 e 033 mg por litro de ar expelido dos pulmões, e para quem está acima de 0,34.
Segundo Washington, ele permaneceu no local por cerca de 20 minutos, sua carteira foi apreendida e dois dias depois foi buscá-la. Seu carro foi levado para casa por outra pessoa.
Além da questão da blitz, porém, a promotora recebeu uma denúncia de que o titular da Smel teria feito uma viagem ao Rio de Janeiro, paga com dinheiro público, para assistir a uma partida de futebol. Ele afirma que viajou com dinheiro público duas vezes a Brasília atrás de recursos para o ginásio de esportes. Confirma ter ido ao Rio de Janeiro para contatos visando a vinda de seleções a Caxias na Copa do Mundo.
Washington diz que pagou as viagens de seu bolso e pode comprovar por meio de seu cartão de crédito. O secretário acredita que haja interesse político-eleitoral nas acusações e admite que pode vir de alguém da própria base do governo, formada por 19 partidos.
Confira trechos da entrevista:
Pioneiro: A denúncia é de que o senhor deu carteiraço.
Washington Cerqueira: Não teve nada de carteiraço, não existiu. Já fui em blitz, já fiz o bafômetro. Me neguei porque fiquei assustado. A orientação foi de não falar, pois nada seria divulgado. Eu fui parado, o fiscal já me reconheceu, pediu os documentos. Ele disse: quer fazer o bafômetro? Eu disse: eu tenho o direito de não fazer, não quero fazer agora. Ele disse: o senhor vai ser autuado. Eu disse: faça o que tem que fazer, faça o seu trabalho. Fiquei ali uns 20 minutos, ele fez a multa, me atuou, chamei a pessoa que levou meu carro.
Pioneiro: O senhor havia bebido?
Washington: Eu tomei umas duas tacinhas de vinho, isso é até bom para o problema do meu coração. Pensei: se eu fizer o bafômetro com duas taças de vinho, vou ser muito prejudicado por uma coisa que estou tranquilo, estou bem. Eu estava com mais duas pessoas. A carteira foi apreendida, dois dias depois peguei a carteira. Uma outra pessoa dirigiu o carro, uma outra que não estava junto, fez o bafômetro e levou.
Pioneiro: E sobre a viagem ao Rio?
Washington: Eu fui várias vezes ao Rio. Acho que seria um assunto muito mais grave do que o bafômetro, isso mexe com o dinheiro público. Eu viajei duas vezes com dinheiro da prefeitura, está no Portal da Transparência, e as duas vezes foram para Brasília, fui atrás de recursos, reuniões, para o ginásio e do PAC 2. As outras todas eu viajei com meu dinheiro, eu paguei as passagens com meu próprio dinheiro, pelos interesses de Caxias. No Rio de Janeiro fui assistir à final da Copa das Confederações. Poderia ter ido com dinheiro da prefeitura, mas não fui, fui convidado pelo secretário de Estado, paguei e fui oferecer Caxias para as seleções que estavam lá, a todos os treinadores e diretores da seleção. Fui para o Rio oferecer também para a Itália.
Pioneiro: Tem como comprovar?
Washington: Claro, no meu cartão de crédito tem tudo. No Portal da Transparência tem as duas viagens a Brasília. Se eu tivesse viajado para o Rio com dinheiro público estaria no portal.
Pioneiro: Por que as pessoas estão dizendo nas redes sociais da internet que houve o carteiraço?
Washington: Me desculpe dizer, mas quando entrei na política as pessoas me disseram: tome muito cuidado. E agora está comprovado que tem questões políticas aí.
Pioneiro: É alguém que poderá disputar o mesmo cargo que o senhor pretende, de deputado federal?
Washington: Pode ser, só posso afirmar que serei pedra no sapato de muita gente. E aí vai ter gente que tem esse interesse de querer me prejudicar em qualquer situação.
Pioneiro: Sabe quem é?
Washington: Sim, também tenho informantes, mas o mais importante é que vou continuar fazendo o meu trabalho.
Pioneiro: É da oposição ou da própria base?
Washington: Pode ser da oposição, da base...
Pioneiro: Mas o senhor disse que sabe. O senhor não descarta ser alguém da base?
Washington: Não descarto.
Pioneiro: Já foi notificado pelo Ministério Público?
Washington: Ainda não, mas faço questão que me notifiquem o mais breve possível, porque tenho as provas e quero esclarecer toda essa situação.
Gosto amargo
Secretário de Esporte e Lazer de Caxias, Washington admite ter mentido e tem pressa em esclarecer boatos
Ele foi abordado em blitz da lei seca e se recusou a fazer o teste do bafômetro. Caso é analisado pelo Ministério Público
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