O desaparecimento de Luciano Boeira Melos, 27 anos, que completou cem dias na última sexta-feira (3), ainda é um mistério. Contudo, o caso é tratado como homicídio e avança na Justiça. A denúncia do Ministério Público (MP), após a conclusão do inquérito da Polícia Civil, foi aceita pelo Poder Judiciário de Bom Jesus.
Com isso, quatro pessoas são rés em processo criminal: Fabiana Ramos Saraiva, 25, a mulher com a qual Luciano mantinha um relacionamento, Felipe Silveira Noronha, 29, marido dela, Flávio Silveira Noronha, 33, cunhado de Fabiana e José Balduíno Saraiva, 62, o pai dela. Eles estão presos no Presídio Estadual de Vacaria desde o dia 17 de agosto e respondem agora por homicídio duplamente qualificado (motivo fútil e emboscada), ocultação de cadáver e fraude processual.
Apesar disso, o caso continua com perguntas que não foram respondidas até o momento. Confira:
1. O que aconteceu com Luciano Boeira Melos?
Conforme a denúncia do MP, a morte do caminhoneiro teria sido previamente combinada em 25 de julho, um dia antes do desaparecimento. Após descobrirem o relacionamento extraconjugal com Luciano, Felipe e José Balduíno, respectivamente pai e marido de Fabiana, teriam combinado com a mulher que ela seria perdoada, desde que o caminhoneiro fosse morto.
No dia 26, Fabiana, que teria concordado com o plano, teria enviado uma mensagem para Luciano marcando o encontro para resolver o futuro do relacionamento. No local, ela estaria acompanhada de Felipe, Flávio e José. Conforme a denúncia, Luciano teria sido morto por motivo torpe (a traição) e sem poder se defender. Porém, até o momento, a forma como o crime teria sido cometido permanece desconhecida.
2. Onde o assassinato teria acontecido?
O local onde o homicídio aconteceu também é incerto. O caminhoneiro teria ido encontrar Fabiana na localidade de Caraúno, interior de Bom Jesus. Câmeras de segurança de um pomar flagraram Luciano seguindo de moto para a região onde a mulher mora com o marido. Em depoimento, Fabiana afirmou que os dois se encontraram a cerca de 300 metros da entrada do pomar. Entretanto, não foi confirmado se eles se encontraram no ponto indicado por ela, se o caminhoneiro seguiu o caminho até a casa onde a família mora ou se ele teria sido morto na região entre o pomar e a casa.
3. Onde pode estar o corpo?
Conforme a denúncia, Fabiana, Felipe, Flávio e José teriam ocultado o corpo de Luciano. Buscas foram feitas em diferentes locais de Bom Jesus, mas nada foi encontrado. Segundo o MP, o corpo de Luciano teria sido desovado em um lugar diferente do ponto onde o crime supostamente foi cometido.
4. Por que a moto foi encontrada a 30 quilômetros de distância da localidade de Caraúno?
Também não é possível afirmar se o corpo teria sido ocultado antes ou depois de os réus jogarem a moto de Luciano no Rio dos Touros, na localidade de Casa Branca. A moto, modelo Honda CG 150 Titan, de cor vermelha, foi achada no dia 31 de julho, a cerca de 30 quilômetros de distância de Caraúno, local onde o encontro entre Luciano e Fabiano teria sido marcado. Para o MP,o veículo teria sido jogado no rio para dificultar a investigação, atrasando a apuração da polícia. Não se sabe, até o momento, como os réus teriam levado a moto até o local onde ela foi jogada. As chaves do veículo também não foram encontradas.
5. O homicídio teria ocorrido em que horário?
Por causa das câmeras de segurança do pomar, é possível afirmar que Flávio Noronha Saraiva, cunhado de Fabiana, chegou de carro na região pouco antes de Luciano. O caminhoneiro foi visto pelas imagens passando de moto por volta das 19h30min. Aproximadamente 23h30min daquele mesmo dia, o carro de Flávio foi visto pelas câmeras deixando a região.
6. O que os réus fizeram depois dos supostos crimes?
Como os quatro permanecem em silêncio desde o início das investigações, não é possível afirmar o que eles teriam feito depois do suposto assassinato e ocultação de cadáver. No dia seguinte ao desaparecimento, em 27 de julho, Fabiana e Felipe foram vistos em um posto de saúde de Bom Jesus. A partir disso, a família de Luciano começou a fazer buscas por ele e registrou o boletim de ocorrência na delegacia da cidade.
Relembre o caso
Na quarta-feira, 26 de julho, Luciano teria arrumado a casa onde mora. A residência mista, de concreto e madeira, fica ao lado da casa da mãe, Elizete Boeira, 45 anos. Com a faxina, que fez tanto dentro, quanto fora do local, o caminhoneiro parecia estar esperando alguém. Conforme a família, um comerciante revelou que, naquele mesmo dia, ele teria comprado lençol e fronhas de travesseiro novos e feito questão que os itens fossem entregues naquela quarta.
No fim do dia, o caminhoneiro teria pedido para a mãe preparar o jantar e já havia guardado a moto na garagem. Enquanto Elizete dobrava roupas e aguardava o jantar ficar pronto, ouviu o filho saindo de moto, sem avisar para onde ia. A mãe diz ter sentido um aperto no peito na mesma hora e começado a enviar mensagens e fazer ligações para o filho, pedindo que ele voltasse para casa.
Segundo Elizete, que recebeu a reportagem do Pioneiro no dia 4 de agosto, ele "saiu para ir ali e já voltar, não saiu com a intenção de não dormir em casa, deixou tudo ligado". Às 19h40min o caminhoneiro enviou uma mensagem para a mãe dizendo que tinha ido na cidade. Para o irmão Lucas Silva, Luciano revelou ter ido encontrar com a mulher. Esses foram os últimos contatos feitos com a família.