Fazendas e áreas de incontáveis hectares em Bom Jesus são o cenário das estradas que Luciano Boeira Melos, 27 anos, percorreu antes de desaparecer. A reportagem do Pioneiro refez nesta sexta-feira (18) o caminho trilhado pelo caminhoneiro no dia 26 de julho, depois que ele recebeu a mensagem da mulher com a qual mantinha um relacionamento e saiu de casa para encontrar com ela. A mulher é casada com outro homem e os dois foram presos nesta quinta-feira (17), suspeitos de envolvimento no desaparecimento. Além do casal, a Polícia Civil também prendeu o pai dela e o irmão do marido. Os quatro estão no Presídio Estadual de Vacaria.
No início da noite do desaparecimento, Luciano terminava as tarefas da faxina que fez em casa ao longo do dia. Segundo relatos da família, ele teria limpado o quintal e arrumado toda a casa, como se esperasse alguém. A pequena residência mista, de madeira e material, fica em Hortêncio Dutra, a cerca de 15 quilômetros de distância da casa onde a mulher mora com o marido e os dois filhos.
Depois de receber uma mensagem da mulher marcando um encontro, o caminhoneiro teria saído imediatamente e deixado a televisão ligada, carregador na tomada e a carteira com documentos. "Ele saiu para ir ali e já voltar", disse a mãe do homem, Elizete Boeira, em entrevista ao Pioneiro no dia 4 de agosto. A mãe de Luciano autorizou a reportagem a fazer fotos da casa do homem, que fica ao lado da dela. Entretanto, por estar abalada com toda a situação e sem respostas sobre o paradeiro do filho, pediu desculpas e disse não querer conversar com ninguém.
Saindo de casa, de moto, o caminhoneiro percorreu um caminho de poucos quilômetros em estrada de chão mal iluminada, até chegar na BR-285. Por mais alguns quilômetros em asfalto, uma placa ao lado direito da estrada indica a entrada da localidade de Caraúno, que também é de estrada de chão.
Pouco depois da entrada da localidade, é possível ver do lado esquerdo da rua um pomar. Ali fica o pomar de uma empresa, onde câmeras de segurança do local foram analisadas pela Polícia Civil e mostram o caminhoneiro parando por alguns instantes, no dia 26, e seguindo em frente para encontrar a mulher. Conforme informou o delegado Gustavo Costa do Amaral à reportagem, o carro do irmão do marido da mulher foi visto seguindo o mesmo caminho minutos antes de Luciano aparecer.
Ao seguir em frente depois do pomar, o caminhoneiro teria encontrado a mulher, a cerca de 200 metros do ponto onde as câmeras de segurança puderam fazer o registro de Luciano. O ponto de encontro entre os dois fica do lado direito da rua, em frente a um portão de arame e pedaços de madeira. Segundo a mulher, a conversa entre os dois ocorreu ali porque o marido dela teria chegado em casa antes do previsto naquele dia, e ela se adiantou em encontrar ele na estrada para que os dois não se vissem.
Depois da conversa, ainda de acordo com a mulher, os dois teriam seguido caminhos opostos. Entretanto, as câmeras de segurança do pomar não mostram a volta de Luciano. Ou seja, é possível ver a moto indo, mas não retornando pelo mesmo caminho. O carro do irmão do marido, registrado naquele mesmo dia, foi visto voltando de Caraúno por volta das 23h do dia 26.
Seguindo a mesma estrada a partir do ponto de encontro entre os dois, é possível perceber a dimensão imensurável dos campos verdes, eucaliptos, pinheiros e outras diversidades que compõem os Campos de Cima da Serra. Alguns quilômetros depois do ponto de encontro, seguindo pela estrada totalmente de chão, é possível ver a grande e antiga casa por trás de um gramado verde. Ali, a mulher mora com o marido e os dois filhos. Ela teria marcado o encontro com Luciano naquele dia, segundo ela, antes de o marido retornar sem aviso prévio.
Apesar de todo o trajeto seguir um caminho próximo, a moto do caminhoneiro foi encontrada a cerca de 30 quilômetros de distância, na localidade de Casa Branca. A polícia acredita que o veículo foi jogado no local para forjar uma cena de suicídio ou desaparecimento por conta própria. O delegado descartou essa hipótese.
Conforme os relatos dos suspeitos, o último ponto em que Luciano foi visto é onde ele encontrou com a mulher. A polícia investiga o caso como homicídio qualificado, quando ocorre por motivo fútil. Além disso, os quatro presos nesta quinta-feira respondem por ocultação de cadáver. Segundo o delegado, a polícia não descarta a hipótese de encontrar o corpo do caminhoneiro e o caso continua sendo investigado sob sigilo.