Imagens de câmeras de segurança analisadas, provas destruídas e possível vestígio de sangue em três veículos apontam para o provável desfecho sobre o desaparecimento de Luciano Boeira Melos, 27 anos. O delegado responsável pela investigação, Gustavo Costa do Amaral, recebeu a reportagem do Pioneiro nesta sexta-feira (18), em Bom Jesus, para uma conversa sobre o dia em que o caminhoneiro foi visto pela última vez e sobre as suspeitas de que o homem tenha sido atraído para uma emboscada e morto em seguida.
Conforme Amaral, as evidências colhidas mostram que, na quarta-feira, 26 de julho, dia do desaparecimento, o caminhoneiro chegou de moto próximo ao pomar de uma empresa, na localidade de Caraúno. Já passava das 19h. A polícia analisou mensagens enviadas por Luciano, por celular, afirmando estar indo para o local, mas o horário exato entre as últimas mensagens é impreciso pela região ter pouco sinal de celular. O caminhoneiro teria ido de moto ao local depois de receber uma mensagem da mulher com quem mantinha um relacionamento.
A Polícia Civil obteve acesso às câmeras de segurança do pomar e analisou precisamente os dias 26 e 27 de julho. Segundo o delegado, pouco depois das 19h daquela quarta, o carro de um dos suspeitos, o irmão do marido da mulher, passou pelo local. O registro foi feito minutos antes da moto de Luciano passar, e o veículo seguia no sentido da casa onde a mulher mora com o marido. Minutos depois, a única moto que passou pela via durante todo o dia 26 é vista parando por alguns instantes em frente ao pomar e seguindo em direção à localidade de Caraúno.
Segundo o delegado, como nenhuma outra moto foi vista pelas câmeras naquele dia e por conta do horário ser próximo ao das últimas mensagens enviadas por ele, informando estar indo encontrar a mulher, fica subentendido que seja, de fato, Luciano nas imagens.
Conforme relatado pela mulher à polícia, o encontro entre os dois aconteceu a cerca de 200 metros de distância do ponto das câmeras de segurança. Ela afirmou que foi uma conversa breve. Depois disso, segundo a mulher, os dois seguiram caminhos opostos. Entretanto, a moto não é vista retornando da localidade de Caraúno. Por volta das 23h, o mesmo carro (do cunhado da mulher) aparece retornando da localidade.
Na quinta-feira (17), a mulher e o marido foram presos. Além deles, a Polícia Civil também prendeu o pai dela e o irmão do marido. Os quatro foram encaminhados ao Presídio Estadual de Vacaria. Segundo Amaral, não há expectativa de quanto tempo devem permanecer detidos. A polícia não descarta a hipótese de encontrar o corpo do caminhoneiro.
Ameaças e provas destruídas
A Polícia Civil teve acesso a conversas de Luciano, onde ele admite ter recebido ameaças de morte de dois suspeitos que foram presos, o pai e o marido da mulher, e afirmando querer arrumar uma arma. A investigação apurou que ele teria tentado, de fato, comprar arma pouco antes de desaparecer.
A reportagem do Pioneiro recebeu do meio-irmão do caminhoneiro, Lucas Silva, uma das mensagens em que ele afirma estar escondido e diz ter gente querendo matá-lo. A mensagem foi enviada por Luciano no mesmo dia em que ele foi visto pela última vez.
Conforme a polícia, a mensagem enviada pela mulher marcando o encontro entre eles ainda aguarda a perícia do Instituto-Geral de Perícias (IGP) de Porto Alegre. O delegado afirmou ainda que toda a investigação permanece mantida sob sigilo para que todos os fatos sejam devidamente apurados e os suspeitos não destruam provas.
Segundo Amaral, os envolvidos apagaram mensagens dos próprios celulares, enviadas por WhatsApp e também pelo Facebook. Além destas, os suspeitos apagaram também mensagens dos celulares de testemunhas do caso. Elas teriam sido coagidas a mentir e inventar supostos álibis para contribuir com os suspeitos. Um dos álibis inventados pelos quatro investigados é de que, no dia do desaparecimento, o marido e o irmão dele estariam juntos, trocando peças de um carro. Testemunhas ouvidas pela polícia afirmam que nenhuma peça de carro foi trocada e que eles combinaram a história que contariam.
Além disso, os suspeitos tentaram criar uma cena de suicídio, jogando a moto do caminhoneiro a cerca de 30 quilômetros de Caraúno. A mulher afirmou à polícia que Luciano havia dito para ela que "faria uma coisa que ela nunca iria esquecer", mesma versão que ela contou à reportagem em 4 de agosto. Apesar da tentativa de forjar uma cena de suicídio ou acidente, a hipótese foi descartada pela polícia.
Possível vestígio de sangue e perícia
A Polícia Civil aplicou um material para buscar vestígios de sangue em três veículos, sendo uma caminhonete e outros dois carros, um do marido e outro do irmão. Conforme o delegado, o material gerou a reação que indica o possível vestígio e passa por perícia no IGP de Porto Alegre. Entretanto, Amaral reforça que, como os suspeitos trabalham em área rural, os vestígios encontrados podem ser de algo relacionado aos trabalhos que fazem.
Os três carros não apresentam qualquer sinal visível de sangue. Caso o vestígio seja confirmado, a polícia acredita que os veículos tenham sido limpos. Além do possível vestígio, estão em perícia, ainda, oito celulares e duas armas de fogo, apreendidas no dia 4 de agosto. As duas armas são registradas, sendo uma do marido e outra do pai da mulher.
Voto de silêncio
Os quatro suspeitos de envolvimento no caso, presos nesta quinta, mantêm voto de silêncio desde o início das investigações. Conforme o delegado, eles não colaboram com a polícia e o delegado acredita que dificilmente vão contribuir com a apuração do caso. Os quatro só foram presos na quinta-feira porque, segundo Amaral, as prisões dependiam de ordem judicial.
A polícia já tentou um acordo de colaboração premiada, onde os suspeitos têm benefícios por lei e, quanto mais colaboram, melhor para as investigações e para a penalidade dos envolvidos. Entretanto, nenhum deles quis contribuir.
Conclusão do caso
Amaral preferiu manter as informações sobre os próximos passos da investigação em sigilo, mas afirmou acreditar que o caso seja concluído no prazo de 30 dias. O delegado afirmou ainda que a polícia continua "montando um quebra-cabeça" para solucionar a história e que diligências permanecem em andamento. O caso é tratado como homicídio qualificado e os quatro suspeitos são investigados por ocultação de cadáver.
A perícia dos itens que estão no IGP de Porto Alegre não tem prazo divulgado para ser concluída porque, conforme o instituto, o caso ainda está sob investigação.
Conforme o delegado, os nomes dos quatro suspeitos não são informados porque "a população pode se revoltar e acabar cometendo outro crime". Amaral reforça que a mulher e o marido têm dois filhos pequenos, que podem acabar sofrendo as consequências caso os nomes sejam divulgados.
Antes do desaparecimento
No último dia em que foi visto pela família, Luciano, que mora sozinho próximo à casa da mãe, teria feito uma faxina no quintal e dentro da própria residência.
Um comerciante que costuma atender a família revelou que Luciano havia feito um pedido para ser entregue na quarta-feira e insistiu pelo cumprimento da data de entrega. Eram dois travesseiros e um edredom novos.
Entre as últimas conversas que teve com a família, Luciano parecia animado e dizia que ficaria junto com a mulher. Durante o trajeto, Luciano enviou uma mensagem em áudio para outro irmão.
— Estou avisando só tu. Eu estou indo na casa dela lá, ela disse que saiu de casa, que foi para o pai dela. Qualquer coisa você sabe onde eu estou — diz um trecho do áudio a que a reportagem teve acesso.