Na última quarta-feira (11), houve um encontro entre representantes de órgãos de segurança pública na sede do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), no bairro Kayser, para debater ações para prevenir crimes e confusões à noite em Caxias do Sul, especialmente em pontos de festa e aglomerações. Uma série de casos de violência, incluindo três assassinatos, foi registrada entre o fim de agosto e o mês de setembro, o que acabou trazendo à tona a necessidade de repensar algumas ações.
Em entrevista ao programa Gaúcha Hoje da Rádio Gaúcha Serra nesta sexta-feira (13), o comandante do 12º BPM, tenente-coronel Ricardo Moreira de Vargas, detalhou o que está sendo pensado para amenizar esses problemas. Parte da solução, segundo o oficial, passa por ações conjuntas que envolvam não apenas as forças de segurança, mas também setores como a Justiça e o Conselho Tutelar. Confira.
O senhor vê como fora do normal isso que tem acontecido? Como o senhor avalia essa sequência de casos a partir de agosto nesses períodos noturnos?
Como toda cidade desse porte, (Caxias do Sul) possui diversos problemas sociais, e a criminalidade acaba sendo um desses problemas que atinge a todos, direta ou indiretamente. E o nosso objetivo aqui no comando do 12º BPM é, a cada vez que nos depararmos com um problema desse nível, sempre buscar entender como as nossas ações ou inações vão perpetuar ou vão aliviar esse tipo de problema. Por isso, fizemos uma reunião de realinhamento porque entendemos que a Brigada Militar é uma das instituições a qual cabe a solução desse tipo de problema. Mas ela não é a única instituição que trabalha nesse tipo de questão. Então, para que a gente faça também uma análise do que acontece em Caxias, precisamos, sobretudo, entender que tipo de problema estamos enfrentando, que tipo de conflito o policial na rua hoje enfrenta em Caxias do Sul e sobretudo, nessas questões de saída de festa. O que acontece nessas desordens, é quem contra quem, quais são os objetivos de cada lado. Tudo isso nós buscamos alinhar também com outros órgãos.
Quais ações previstas para inibir esses casos?
Acho que começamos tudo pela integração, não é apenas a Brigada Militar que deve estar nas ruas nas madrugadas. Precisamos não só da segurança pública, mas do sistema de Justiça Criminal imbuído como um todo, em ações justamente nessas casas noturnas e no seu entorno, instituições que devem estar mais presentes conosco, como o próprio Conselho Tutelar, por exemplo, que estamos convidando também para a próxima reunião. Falamos com os atores da segurança pública e agora passaremos a convidar também os atores do sistema Justiça Criminal para que nos apoiem. O setor de inteligência da Brigada apontou mais de 10 casas noturnas com grande circulação de pessoas nas madrugadas, em especial de quinta a domingo. Procuramos adequar, a partir da integração, a atribuição de cada órgão para que a Brigada, muitas vezes, não tenha que atuar de forma isolada.
Desses casos específicos que aconteceram, se detectou, por exemplo, se foram casos isolados ou havia participação de facções, por exemplo?
É bem diverso. Nós temos, sim, casos em que nós detectamos uma ou outra participação de desafetos, integrantes de grupos criminosos, sim, mas nós também detectamos problemas pontuais e ocasionais que acontecem nesse tipo de estabelecimento. É um desentendimento com segurança que leva, de repente, as pessoas a serem colocadas para fora da casa, que gera uma desordem na área externa. Questões também de relacionamento entre casais que acabam resultando em brigas, tem som alto e todas essas diversidades que acontecem no interno e na parte externa desses estabelecimentos. Estamos mapeando, já temos um retorno do nosso serviço de inteligência, já conseguimos hoje saber, por exemplo, que alguns atores já são conhecidos da cidade. Começam a fazer festa numa determinada casa e acabam fazendo festa numa outra casa. Isso tudo está sendo monitorado pela nossa inteligência com imagens, com identificação dessas pessoas para que a gente possa fazer uma atuação muito forte nos próximos dias.
Falando do perfil dos envolvidos. Vocês percebem que são pessoas que já têm antecedentes e também tem questão de envolvimento de drogas tanto lícitas quanto ilícitas de consumo?
A gente tem um perfil de pessoas que são jovens, jovens adultos, que vai dos 13 aos 30 anos. É o perfil que a gente encontra normalmente envolvido em atos de criminalidade nessas casas noturnas. E sim, a droga faz parte, um componente muito forte dentro da criminalidade. Infelizmente, sabemos que muitas pessoas não se reúnem nesses locais apenas para fazer festa ou para consumir bebida alcoólica, tem também a presença de drogas ilícitas nesses locais. Por isso, a necessidade de uma atuação mais forte, inclusive com a participação de outros órgãos em apoio à Brigada Militar.
O senhor falou em, nos próximos momentos, ter alguma ação. Já há coisas planejadas? Com certeza, estamos agora alinhando os próximos passos. A gente não quer só uma ação isolada da Brigada Militar. Nós estamos buscando uma ação integrada porque entendemos da necessidade tanto do município quanto da União e do Estado estarem juntos não apenas no papel, mas sim naquele horário mais crítico da madrugada. Aquele final de festa que, muitas vezes, a gente olha e o único telefone recorrente que se tem ali é o 190. Temos sim no município uma integração muito forte com a fiscalização de trânsito, que nos apoia bastante, com a própria Guarda Municipal, com a Polícia Civil. A Polícia Rodoviária Federal e a Estadual também são importantes porque, agora vamos falar da região como um todo, as pessoas vêm fazer festas em Caxias, muitas vezes de Farroupilha, de Bento Gonçalves, de outras cidades, e acabam passando por essas rodovias. Então, para fazer um grande cinturão aqui de segurança dentro da cidade e principalmente nesses dias e horários de festas, é muito importante. Gostaria de destacar que esse ano, em Caxias do Sul, a Brigada Militar já realizou mais de 2,2 mil prisões. Quando se fala da questão da droga, já apreendemos mais de meia tonelada de droga em Caxias do Sul. Hoje, temos as drogas sintéticas também que nos preocupam bastante por conta de vários crimes que podem acontecer, inclusive o golpe do "boa noite Cinderela" em festas. Já orientamos também aos pais e aos frequentadores algumas medidas de segurança nesses locais, que confie nas companhias que estão frequentando ali essas casas, que troquem o copo a cada vez que saírem da mesa e se desloquem para algum toalete, que retornem e não usem o mesmo copo a fim de evitar golpes e prejuízos futuros.
Essa questão da constância, o senhor vê a possibilidade dos órgãos manterem realmente, além da integração, uma constância das operações nesses pontos mais conflagrados, coronel?
É, como eu falei, o tamanho da cidade e a restrição de recursos fazem com que não se tenha condição de ter uma guarnição ali presente em todo horário de festa. Mas a gente atua sim nos pontos principais, a Estação Féria é um dos pontos que apresenta bastante problema. Por quê? Porque ela tem uma localização muito centralizada dentro do município. Ela tem uma concentração grande de bares e casas noturnas. Então, ela envolve uma necessidade maior da nossa atenção. Nós, por dois meses permanecemos direto na Estação Férrea, todas as noites de festas ali. Mas nós temos também outras responsabilidades dentro da cidade para cumprir. Como falo sempre: é como se você tem dentro de casa três filhos. Um filho ele acaba estando com um nariz sangrando, outro filho está com sono e outro filho está com fome. Qual é o filho que tu atende primeiro? E muitas vezes em questão de restrição de recursos, nós também temos que trabalhar com priorizações. E nós temos uma cidade muito grande, trabalhamos muito forte na redução dos crimes violentos letais e intencionais, dos homicídios. Então, muitas vezes, as nossas guarnições não podem ficar no local ou se deslocar naquele momento que o cidadão precisa por conta de uma perturbação do sossego alheio que é uma das principais ocorrências que o 190 recebe.
Se noticiou a busca de apoio inclusive de entidades da cidade para que mais soldados, para que mais efetivos sejam mandados para Caxias do Sul. Como é que está essa mobilização, coronel?
Essa questão de efetivo também é um assunto recorrente para Caxias do Sul, acho que quase nunca Caxias teve o total do efetivo necessário para uma melhor segurança da cidade. Mas ali também é um problema comum a toda a região do Estado, não é somente Caxias do Sul que passa por isso, mas sim existiu uma mobilização muito forte, ainda existe. Nós temos uma notícia que, no ano que vem, se possa receber um contingente significativo que possa também nos apoiar nessas ações. Acreditamos que a partir de abril do ano que vem, a Brigada de Caxias do Sul já possa ser contemplada com um contingente maior de efeito.
O novo sistema de monitoramento foi inaugurado essa semana. Como é que o senhor acredita que deve impactar nas ações de segurança?
Importante para a cidade. Pelo tamanho de Caxias, ainda não tinha um sistema de cercamento eletrônico, de leitor de placas, de possibilidade de trabalhar com uma maior fiscalização do que se circula dentro da cidade. Tenho certeza que vai contribuir bastante para a redução de indicadores.