"Nós sofremos um assalto e, graças a Deus, não aconteceu nada grave. Graças à mão de Deus, que certamente, não tenho dúvidas, me salvou neste momento". Com essas palavras e muita tranquilidade, mas ainda abalado pelo assalto que viveu nas últimas horas, o padre Jairo Luis Gusberti, 57 anos, recebeu a reportagem na casa paroquial no bairro Bela Vista, em Caxias do Sul, na manhã desta terça-feira (10).
O religioso levou um tiro no peito, em um assalto na noite de segunda-feira (9), mas a bala atingiu o crucifixo que ele usava no pescoço, entortou o objeto e ficou alojada no osso do peito, o que para ele evitou um ferimento grave. O assalto aconteceu por volta das 21h na esquina das ruas Primo Antônio Bertoletti e Arthur Baldisserotto, no bairro Cristo Redentor. Os criminosos fugiram com o carro da Mitra Diocesana. Gusberti levava duas catequistas para casa depois uma reunião para tratar de assuntos religiosos, quando o assalto aconteceu.
— Nós concluímos a reunião dos catequistas e, aí, como de praxe, a gente se dá carona para que cheguem todos em segurança em casa. No encontro de duas ruas, bem próximo à casa de uma delas, fomos abordados por três jovens e foi muito rápido. Logo que eu parei o carro, um deles disparou, quebrou o para-brisa e a bala bateu no meu peito, justo no crucifixo. Entortou e se cravou no osso do meu peito — lembra.
Mesmo ferido, o padre saiu do carro e manteve a calma enquanto caminharam cerca de 50 metros para chegar à casa de uma das catequistas. Na moradia, acionaram a Brigada Militar (BM) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Na ambulância, até os socorristas demostraram surpresa, conta o religioso:
— Eu estava muito bem, não tive nenhum desespero, estava assustado é claro, mas sem desespero. Eu as acudia e elas a mim, então nós três nos socorremos e caminhamos juntos. Eu sentia uma ardência no peito como se fosse uma queimadura. A bala perfurou a blusa, eu vi, estava todo ensanguentado e imaginei que tinha algo dentro do peito. O médico e a enfermeira disseram que era coisa de filme. O médico falou que em 18 anos de profissão nunca passou por um atendimento assim e que era um milagre. Fui salvo pelo Criador.
Natural de Nova Prata, o pároco conta que o crucifixo o acompanha sempre:
— Sempre uso um crucifixo como um sinal da proteção de Deus na minha vida. Peço a todos para rezarmos por um mundo de paz e serenidade e pelo fim das guerras, da violência e do ódio. É sempre algo que nos choca, mas vamos em frente, construindo um mundo sem violência e de paz. Rezar por esses jovens e pelas famílias também.
No hospital, depois de passar por uma tomografia, o padre foi informado que a bala estava alojada no osso do peito. Ele passou por um procedimento para retirada do projétil e teve alta por volta da meia-noite.
Polícia Civil busca imagens do crime
Até o momento, os autores do crime ainda não foram identificados ou presos. A investigação fica sob responsabilidade do delegado Luciano Righes Pereira, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).
— Durante a ação criminosa, a vítima foi baleada na altura do peito, sendo parada pelo crucifixo, então ela teve um ferimento que não foi tão grave em face de o crucifixo ter segurado o disparo ali. Estamos investigando para buscar a identificação dos autores. Nós vamos inquirir as partes e ir em busca das imagens das câmeras de vídeo monitoramento da região — explica o delegado.