Enquanto o Rio Grande do Sul fechou o primeiro semestre de 2023 com diminuição de crimes contra a vida, a Serra registrou aumento de 4% no número de mortes violentas nos seis primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2022. O levantamento é referentes aos dados divulgados na última quarta-feira (5) pela Secretaria da Segurança Pública (SSP). Conforme a SSP, o Estado registrou queda nos casos de feminicídio, latrocínio (roubo com morte), roubos de veículos, crimes ao transporte público e abigeato. A região serrana, por sua vez, teve 128 mortes violentas de janeiro a junho de 2023. No ano passado, foram 123 crimes contra vida no mesmo período. O mês de janeiro deste ano foi o mais violento dos últimos cinco anos, o que influenciou nos índices da região.
Das 49 cidades da Serra, 18 registraram mortes violentas em 2023. Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Guaporé e Vacaria são os municípios com o maior número de assassinatos no primeiro semestre. No topo da lista, Caxias do Sul teve 49 mortes violentas de janeiro a junho, sendo que cinco mulheres foram vítimas de feminicído. Bento Gonçalves contabiliza 21 mortes em seis meses, sendo que em todo o ano passado houve 22 casos. A situação também é preocupante em Guaporé, onde foram 12 homicídios em seis meses, sendo que em todo 2022, a cidade registrou 8 assassinatos.
Nos Campos de Cima da Serra, Vacaria teve 11 crimes contra a vida em seis meses. Foram oito homicídios, dois latrocínios e um feminícidio. Em 2022, aconteceram nove mortes, sendo que um caso é feminicídio e outro é latrocínio. Já em Farroupilha, o número de assassinatos caiu Foram sete mortes no primeiro semestre de 2023 contra 18 casos de janeiro a junho de 2022.
Bento Gonçalves e Guaporé na mira das ações policiais
Além de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Guaporé, são dois municípios que puxam os números de mortes para o topo. A Capital do Vinho está abaixo de Caxias do Sul, com 21 mortes, sendo um feminicídio. O índice é um alerta, uma vez no primeiro semestre deste ano, o número quase se iguala a todo 2022, quando a polícia confirmou 22 mortes violentas. Em Guaporé, aconteceram 12 mortes neste ano, contra quatro casos no mesmo período do ano passado.
As forças de segurança estão atentas aos números e focadas em ações para combater os índices, especialmente, em Guaporé e Bento Gonçalves. Para o comandante do Comando Regional de Polícia Ostensiva da Serra (CRPO/Serra), coronel Márcio José Rosa da Luz, o começo do ano foi o momento mais preocupante.
— Nós tivemos um início de ano bem complicado com uma incidência bem elevada de homicídios, tanto em janeiro como em fevereiro, e nos meses seguintes tivemos incidências menores —ressalta.
O comandante destaca que Guaporé e Bento Gonçalves exigem atenção:
— Estamos com operações em andamento nessa área com os efetivos do 3º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (3º Bpat) e, no mês de junho, tivemos apoio do Batalhão de Choque e de Aviação. Em Guaporé, estamos há 21 dias sem nenhuma incidência exatamente porque nós identificamos o que acontecia pontualmente lá. As vítimas e ramificações foram identificadas e estamos atuando fortemente com inteligência e com operação concentrada.
Em Bento Gonçalves, o coronel avalia que o aumento mais significativo foi contido no começo do ano, mas nos últimos meses, o número de casos voltou a subir:
— Estamos atuando da mesma forma em Bento. Tivemos ações fortes e conseguimos reduzir e controlar o indicador em janeiro e fevereiro, e agora o número disparou novamente. Estamos focados em ações no município para reduzir o número.
Polícia Civil avalia o cenário
A Polícia Civil também está atenta aos indicadores, e busca ações em conjunto com a Brigada Militar para conter a onda de criminalidade. As cidades receberam reforço do efetivo para patrulhar as ruas, e também da Civil para focar nas investigações.
O delegado de Guaporé Tiago Albuquerque ressalta que o número de homicídios teve significativo crescimento em comparação ao ano de 2022 e mais ainda em comparação aos anos anteriores. O delegado ressalta que dos 12 casos, seis já estão esclarecidos, com autores presos e os demais seguem em investigação.
— O mês de maio foi o mais violento, com o registro de quatro mortes. São 12 homicídios no ano, sendo dois deles decorrentes de oposição à intervenção policial. Todos estes homicídios são decorrentes da disputa entre facções criminosas pelo controle do tráfico de drogas nesta cidade e cidades próximas.
O delegado Rodrigo Morale, que atua na 2ª Delegacia de Polícia de Bento Gonçalves, avalia o cenário:
— Em 2022, foi o menor índice de homicídios em 10 anos no município de Bento Gonçalves. Atribuímos isso ao trabalho integrado das forças de segurança da cidade. Já, em 2023, a maioria dos homicídios tem relação com o tráfico de drogas. A Polícia Civil vem atuando e investigando para responsabilização criminal dos envolvidos, tanto nos homicídios quanto no tráfico de drogas.
Nas cidades dos Campos de Cima da Serra, foram 16 mortes violentas no semestre. Além dos 11 casos em Vacaria, houve dois assassinatos em São José dos Ausentes, dois assassinatos em Esmeralda e uma morte em Jaquirana. Em 2022, no mesmo período, foram 11 mortes violentas na região (nove em Vacaria e duas em Bom Jesus). O delegado regional de Vacaria, Carlos Alberto Defaveri, ressalta que neste ano houve mortes violentas intencionais também nos municípios com população menor, o que não havia acontecido em 2022:
— Essas mortes não têm motivação preponderante. Os motivos estão pulverizados em crimes de ímpeto, como brigas, ou decorrentes de intrigas por diversas razões. Também há registro de latrocínicios (roubos com morte) , feminicídio e, logicamente, em razão do tráfico de drogas. O índice de solução dos casos é 90% —ressalta ele.