As teias de aranha no teto se tornavam imperceptíveis pela falta de luz no quarto sem lâmpada ou janelas onde morou a idosa de 73 anos, encontrada pela Polícia Civil em um hotel em Garibaldi, no dia 31 de janeiro. Contudo, os detalhes não passaram despercebidos aos policiais que foram ao local. Eles fazem parte da descrição sobre as condições em que a mulher, que estava desaparecida há 44 anos, foi localizada após uma denúncia anônima de maus-tratos e situação análoga a escravidão feita à polícia.
Morando nos fundos do hotel, em um espaço que não foi projetado para receber hóspedes, a idosa fazia as refeições em uma cozinha improvisada, a poucos metros de distância do quarto.
— O espaço não era um quarto do hotel, ele ficava no térreo, na parte de trás. É um canto do prédio, uma parte de uma construção que possivelmente na origem não tenha sido projetada pra ser um quarto ou dormitório do hotel. Ali é um lugar da construção que depois foi adaptado para ter aquele dormitório. Ela usava o banheiro e cozinha afastados. É um lugar improvisado, uma sobra da construção que virou um dormitório — conta o gerente do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) de Caxias do Sul, Vanius Corte.
Na geladeira, garrafas de água e sacolas não indicam qual o tipo de alimentação ela costumava fazer. De acordo com a sobrinha da mulher, em entrevista concedida à reportagem, a tia come pouco e ela não tem certeza se tinha o hábito de fazer todas as refeições diárias.
A pia quebrada e os velhos utensílios para cozinhar, se unem à pouca beleza do espaço de paredes de cimento bruto. Com mesa, cadeira e armários gastos, o espaço destoa das suítes com wi-fi, ar-condicionado e frigobar, oferecidas para quem deseja ser hóspede no Hotel Pieta.
O banheiro sem pia ou janela e com chuveiro, sem cortinas ou divisórias, ao lado da cozinha, era o espaço que a idosa tinha para a higiene pessoal.
Mudanças após a localização
Em inspeção feita pelo MTE nesta segunda-feira (6), profissionais encontraram um ambiente diferente. A pia quebrada na cozinha estava consertada, o banheiro ganhou uma pia e o quarto, agora com lâmpada, não traz rastros das teias de aranhas encontradas pelos agentes no dia 31 de janeiro.
O hotel, por meio da assessoria jurídica, afirmou que "não houve alteração nenhuma" no local e que as mudanças foram apenas parte de uma limpeza, levando em conta que a idosa não deixava ninguém se aproximar do ambiente onde ela vivia, o que justificaria as condições anteriores. Segundo a assessoria, o lugar é "perfeitamente habitável".