Na tarde desta sexta-feira (3), o Hotel Pieta, onde vivia a idosa desaparecida há 44 anos e localizada em Garibaldi, se manifestou por meio do assessor jurídico, Flávio Green Koff. O caso veio à tona nesta quinta, quando a Polícia Civil proporcionou o reencontro da idosa com a família de Cachoeirinha. Foram os policiais que localizaram a mulher em um quarto no subsolo do hotel na última terça, depois de terem recebido uma denúncia anônima. O nome da mulher não foi divulgado. Na redondeza, ela era conhecida como Luíza.
Koff esclareceu que nos anos 1970, quando tinha 19 anos, a moradora de Cachoeirinha, chegou a Garibaldi e trabalhou em um outro hotel. No período de 1990 a 2000, ela foi funcionária do Pieta, sendo contratada pela fundadora, Dolfina Pieta. O hotel é da família desde 1951. Depois, o contrato da mulher foi encerrado, mas, ela não queria sair da cidade e não tinha para onde ir.
— Após a morte da dona Dolfina ela foi ficando, os herdeiros não sabiam o que fazer, a deixaram ficar no hotel. Ela estava acomodada no andar superior, só que por conta de uma escada, um pouco íngrime, ela chegou a cair uma vez, então, fizeram um novo quarto no térreo — comenta ele.
Koff explica que nestes últimos 23 anos, Luíza não trabalhava para o hotel, mas era sustentada pela família Pieta. Segundo ele, a mulher não queria ir embora e não tinha documentação, permanecendo no local. Atualmente, ela residia em um quarto de nove metros quadrados e tinha acesso a um banheiro, que ficava cerca de 20 metros distante da peça. No quarto, ela tinha uma cozinha, onde preparava o próprio alimento, quando não queria se alimentar no hotel. O advogado garante que ela tinha acesso ao restaurante e era sustentada financeiramente, podendo pegar dinheiro do hotel para ir ao mercado ou farmácia.
— Ela tem uma certa demência, não deixava ninguém se aproximar do quarto e da cozinha. Então, era difícil o acesso, mas, ela permanecia ali livre e à vontade. Ela tornou-se quase uma pessoa da família — conta Koff.
O advogado disse ter feito um levantamento com os funcionários do hotel, os quais afirmaram que ela está em perfeitas condições de saúde, que o local que ela dormia estava limpo e que ela é uma mulher com aparência saudável.
Ao encontrar a mulher na terça, os policiais da Delegacia de Garibaldi foram até o local com uma psicóloga e assistente social. Segundo o delegado Marcelo Ferrugem, que assumiu a investigação enquanto o titular de Garibaldi está de férias, a equipe verificou que ela se encontrava em condições insalubres.
A suspeita sobre a denúncia anônima, que gerou a localização de Luíza e a devolução para a família, é sobre uma pessoa que trabalhou pouco tempo no hotel. O advogado acredita que por essa funcionária não ter sido contratada, após a experiência, ela resolveu fazer uma falsa denúncia de maus-tratos. A Polícia Civil esteve no hotel, levou a mulher para a delegacia.
A atual gestora do hotel foi chamada até a delegacia para ajudar, já que a vítima se negava a ir embora com a família de Cachoeirinha. Ao chegar lá, de acordo com o advogado da família Pieta, Luíza correu para os braços dela e pediu que não a deixasse ser levada embora. Mas, ao final a idosa foi convencida a voltar.
O advogado até o momento não teve acesso ao inquérito policial, pois, a família Pieta não foi ouvida na investigação. Ele acredita que ao longo da próxima semana terá conhecimento do depoimento da idosa.
Vizinhos acreditam que idosa não sofria maus-tratos
Os vizinhos do hotel também foram procurados pela reportagem. Na manhã desta sexta-feira, proprietários de alguns estabelecimentos da redondeza lembraram da mulher.
Os comerciantes preferiram não gravar entrevista e nem se identificar, mas, em conversas informais foi possível apurar que a idosa não conversava com as pessoas da rua. Segundo uma comerciante do ramo de flores, a idosa saía do hotel e varria a calçada esporadicamente. Ela acredita que a mulher não sofria maus-tratos e que possivelmente ela foi acolhida anos atrás pela proprietária do hotel.
Outra comerciante, de um estabelecimento de utilidades, salientou que a idosa tinha o cabelo grisalho, pintado, não tinha sinais de desnutrição, aparentava ser bem cuidada, vestia boas roupas. A mulher era tímida, não cumprimentava as pessoas que passavam enquanto ela varria. Todos ao redor acreditavam que ela trabalhava ali. Os vizinhos afirmaram que não tinham conhecimento sobre as condições em que a mulher vivia dentro do hotel.
O segurança de um supermercado, próximo ao hotel, comentou com a reportagem que a idosa ia ao local fazer compras, porém, nunca falava com as demais pessoas.