Nos primeiros 20 dias do ano, a Serra registrou quatro feminicídios, sendo três deles em Caxias do Sul. Em um dos casos mais recentes, a vítima foi Elen Varela da Silva, 26 anos, que foi morta com um tiro na cabeça na noite de sexta-feira (20), no bairro Centenário, em Caxias do Sul. O principal suspeito é o ex-companheiro dela. No fim de semana, Claudete Mausolf, 22, foi morta no bairro São José, em Garibaldi, e o ex-companheiro foi preso por suspeita do crime.
Para tentar evitar casos como esses, uma rede de apoio presta atendimento e dá suporte a vítimas de violência doméstica. Amparo que uma das assistidas pelo Centro de Referência da Mulher em Caxias do Sul considera essencial para mudar a realidade.
— Na verdade, é muito difícil tu aceitar, primeiramente, né? Acabei identificando, sim, a mudança, a irritabilidade, a impaciência. Eu confesso, assim, que sabotei, acabei eu mesma me sabotando e aceitando, porque queria salvar ainda um casamento, queria sim salvar uma família — relata uma das mulheres atendidas pela rede de apoio.
A vítima chegou a revogar um pedido de medida protetiva, acreditando no arrependimento do ex-companheiro. Mas fez a solicitação novamente e hoje, por ordem da justiça, ele não pode chegar perto dela.
— Dói muito, dói porque eu senti como se fosse um luto, sabe, e é isso que a gente sente como mulher. Mas o que eu não quero eu já tô decidida. Eu não quero mais viver nada parecido — resume.
Só no ano passado, 473 vítimas de violência doméstica foram atendidas no Centro de Referência da Mulher em Caxias do Sul, que faz encaminhamento psicológico, jurídico, social e de saúde, além de direcionar a uma casa de acolhimento quando necessário. A gerente de Proteção da Mulher, Sônia Rossetti, explica que há dificuldade das mulheres em identificarem outros tipos de violência, além da física.
— Nosso trabalho, além de acolher, claro, qualquer mulher, é muito no sentido de fazer a mulher perceber que ela está em risco, mesmo quando não tem violência física, pois, no momento que a violência explode, como a gente costuma dizer, ele pode cometer, sim, uma agressão física tão intensa que pode acabar numa morte.
Patrulha Maria da Penha faz visitas
Foi também na esperança de uma vida melhor que outra moradora de Caxias do Sul buscou a justiça. O ex-companheiro dela está preso por causa das agressões.
— Era o medo, tu acordar de manhã e não saber se ia sobreviver ao dia, devido às ameaças – conta a jovem de 28 anos.
Ela é uma das mulheres acompanhadas pela Patrulha Maria da Penha, da Brigada Militar que faz visitas às vítimas. Em 2022, 206 mulheres foram acompanhadas pelos policiais.
— Eles vêm sem avisar, pra ver como realmente está funcionando e se está funcionando. A coragem voltou, a vida, eu voltei a reviver novamente, a coragem de sair na rua de cabeça erguida e isso me fortaleceu muito. Basta a gente ter coragem de querer, porque tem quem lute do nosso lado — complementa a jovem.
A soldado Catiele de Carvalho Pereira, da Patrulha Maria da Penha, relata que as visitas aumentam a sensação de segurança das vítimas, que têm medo da revolta dos agressores depois das denúncias.
— É um trabalho em que nós acreditamos muito porque é um trabalho que em todo esse período trouxe muitos resultados positivos. Faz oito anos que tem a Patrulha Maria da Penha em Caxias do Sul e, de todas as mulheres que estavam sendo acompanhadas, não teve nenhuma situação de feminicídio e nem tentativa de feminicídio.
As vítimas na Serra em 2023
Elen Varela da Silva, de 26 anos
:: Foi morta com um disparo de arma de fogo no bairro Centenário, em Caxias do Sul, sexta-feira (19) à noite.
:: Segundo a Polícia Civil, a mulher foi assassinada com um tiro na cabeça. Uma testemunha afirmou à polícia que o autor seria o ex-companheiro da vítima
Naiara Ketlin Pereira Maricá, 18 anos
:: Crime ocorreu na madrugada do dia 1º de janeiro.
:: A vítima foi estuprada e morta no bairro Esplanada, em Caxias
Juliana Denise Ferreira, 39 anos
:: No dia 6 de janeiro, foi morta a golpes de machado pelo companheiro, João Batista Silva de Souza, 58
:: O assassino se suicidou na sequência
Claudete Mausolf, 22 anos
:: Foi morta no bairro São José, em Garibaldi, entre a noite do último sábado (21) e a madrugada de domingo (22)
:: Segundo o delegado Marcelo Ferrugem, Claudete teria sido assassinada por um homem que não aceitava o fim do relacionamento. Ele foi preso em flagrante na manhã de domingo, no município de Barão. A identidade não foi divulgada.
Denuncie
:: Brigada Militar: 190
:: Polícia Civil: 197
:: Centro de Referência da Mulher: (54) 98403-4144. Fica no terceiro andar da prefeitura de Caxias do Sul e atende das 8h às 17h