Casos de furtos de metais, seja em condomínios, casas, no comércio ou em cemitérios, se tornaram parte da rotina dos caxienses nos últimos anos. Itens que antes eram apenas detalhes em uma paisagem ou cenário viraram uma dor de cabeça para os moradores de Caxias do Sul. Letreiros, argolas, placas, hidrômetros, fios e até torneiras são alvos de criminosos. Com os materiais visados, há caxienses que estão substituindo o metal, para evitar novos furtos e mais prejuízos. É o caso das placas de identificação que ganharam força no mercado de acrílicos.
Administradoras de condomínios, que preferiram não se identificar, relataram à reportagem que após os furtos, como dos números residenciais, elas passaram a procurar outras alternativas, como o acrílico. O material é uma espécie de plástico mais resistente e têm ganhado espaço na comunicação visual. O fato é comprovado por Fabio Toledo Pellin, diretor executivo da Maprotech, empresa que trabalha com o material há mais de 50 anos.
— Acontece um aumento até pela questão do número de empresas que fazem esse trabalho. Aumentou bastante o pessoal de comunicação visual. Vê que eles contam com mais material, material colorido, tem a possibilidade de fazer adesivado. Não é uma demanda muito grande, mas aumentou — observa Pellin.
Outras empresas que trabalham com acrílico e foram consultadas pela reportagem também percebem uma procura por conta dos furtos de itens de metal. Ao caminhar pelo centro do município, pode-se notar que os letreiros em acrílico estão espalhados em inúmeras fachadas. Uma mudança visível é na numeração e identificação de edifícios.
Em cada quadra, entre Centro e São Pelegrino, é fácil encontrar numerações incompletas ou apenas marcas de identificações que uma vez estavam ali. O que se vê ganhando os lugares são alternativas como o próprio acrílico, madeira em casos raros e até mesmo os números pintados nas paredes.
O diretor da Maprotech acredita que a Lei das Fachadas de 2012 também cooperou com o crescimento dos letreiros. Mas, ultimamente, os furtos também trazem um aumento, mesmo que pequeno - até por isso, como explica Pellin, não há como quantificar. Ainda hoje, no Brasil, o uso do material é tímido, se comparado a países como os Estados Unidos, em que o acrílico é usado até para barreiras acústicas em estádios e ginásios ou proteção para sacada.
Por aqui, o principal uso deste plástico é para peças automotivas, principalmente ônibus e caminhão, e para mobiliário residencial ou de escritório. Aos poucos, o uso é difundido para itens como de identificação. Em alguns casos, por conta dos furtos. A loja da Maprotech, inclusive, foi alvo desse ato. Criminosos levaram os números que identificavam o estabelecimento, próximo ao Estádio Alfredo Jaconi. Com isso, usando o material em que é especialista, os novos números foram feitos com acrílico.
Além de não chamar atenção dos criminosos, o diretor da Maprotech explica que o acrílico possui diferenciais como a fácil limpeza e a durabilidade. Os itens também podem ser personalizáveis, o que ajuda a atrair consumidores.
— Ele tem propriedades que não se comparam com nenhuma outra. Questão da beleza, do brilho e da transparência — descreve Pellin.
Uso em cemitérios
Pellin informou que o uso do acrílico também pode ser conferido nos cemitérios. Como foi registrado nos últimos meses, os locais, que deveriam trazer paz e respeito à memória daqueles que já se foram, foram violados pelos criminosos que buscam os itens com algum tipo de metal. Placas, argolas e objetos decorativos são levados.
Na terça-feira (25), a reportagem visitou o Cemitério Municipal de Caxias. Em túmulos, o uso do acrílico para identificação dos mortos pode ser conferido - ainda que também de forma tímida. Outra mudança notada, gerada pelos furtos, são os puxadores de argolas das gavetas do cemitério.
Um servidor do cemitério, que pede para não ser identificado, conta que as argolas, depois de furtadas, não são mais recolocadas. Agora, um puxador feito de concreto é utilizado, em mais uma forma de evitar a ação dos criminosos.
No dia em que a reportagem visitou o cemitério, as irmãs Suzana e Silvana Zamboni, 60 e 53, limpavam o túmulo dos bisavós e familiares. No Cemitério Municipal, a família teve placas furtadas. Suzana e Silvana contam que a situação se repetiu no Cemitério dos Santos Anjos, no São Victor Cohab, onde outros parentes estão enterrados. Lá, argolas foram furtadas e após uma tentativa de arrombamento, Suzana decidiu levar para casa as placas de metal, com medo que fossem levadas pelos criminosos.
— Eu te diria assim, que o pior de tudo ainda é o desrespeito, porque depois o que for quebrado, tu arruma — desabafa Silvana.
No Cemitério Santos Anjos, a secretaria do local informa que as famílias lesadas receberão uma indenização pelos prejuízos. Além disso, o cemitério passou a contar com seguranças durante a noite e o dia e foi melhorada a iluminação. "Nós vamos entrar em contato com os familiares que foram lesados, vamos sentar juntos, calcular quanto vai dar e acertar essas indenizações", afirmou a secretaria.
Nos cemitérios públicos de Caxias do Sul, o subcomandante da Guarda Municipal, Alexandre Silveira, explica que rondas são realizadas durante o dia e a noite, além de abordagens ao redor dos locais. Nos próximos dias, por conta do Feriado de Finados, a entidade também terá um reforço de efetivo nas áreas internas e externas dos cemitérios.
Redução de casos em Caxias
No centro e no interior de Caxias uma redução nos casos foi notada em outubro pela 1ª e 3ª Delegacias de Polícia Civil. As equipes, em parceria com outras forças de segurança como a Guarda Municipal, realizam operações frequentes para tentar impedir a ação dos receptadores, que seriam os principais fomentadores deste tipo de crime.
— Anteriormente, era recorrente objetos e até ar-condicionados. Notamos uma queda relevante. Não temos números porque entra na apreensão de um objeto ou de um furto genérico. Mas, a percepção é que diminuiu — explica o delegado Vitor Carnaúba.
Ainda conforme o delegado, o combate a esse tipo de furto é recorrente. Em 20 anos que atua na área central de Caxias, Carnaúba nota oscilações do cenário.
— O indivíduo que furta, a princípio, tem um resultado muito pequeno. Nós percebemos que tem algumas coisas organizadas, mas principalmente na área central é de consumo de drogas — conta o delegado.
A Guarda Municipal, responsável pela segurança de patrimônios públicos, também está realizando operações frequentes, além das feitas em parceria com outras forças de segurança e órgãos municipais, como Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) e Vigilância Sanitária. Como explica o subcomandante, rondas e abordagens são feitas em áreas com mais ocorrências e também em reciclagens.
— Temos entrado nos locais e visto com eles qual é a situação de licença e tudo mais, assim como vasculhado se tem objetos de furto — relata Silveira.