O número de motoristas que abastecem e saem sem pagar dos postos de combustíveis em Caxias do Sul tem sido elevado. Segundo estimativa da Polícia Civil, a média é de quase 30 casos por mês. A atitude configura o crime de estelionato, que tem pena de um a cinco anos de prisão, e a investigação é simples: a maioria dos postos possuem câmeras de monitoramento capazes de identificar a placa do veículo e o motorista.
De acordo com o 1º Distrito Policial (1º DP), já foram 10 casos registrados na área central neste mês de junho. Responsáveis pelas outras regiões da cidade, o 2º DP e 3º DP não têm uma estatística exata, mas afirmam que acontece "um a dois casos" por semana. A incidência aumentou junto com o preço da gasolina, mas esta prática é um problema antigo.
— É um tipo bem comum de estelionato. O grande problema é que depende de representação e muitos estabelecimentos optam por não representar. Assim, a persecução criminal fica inviabilizada. É comum acontecer, mas são poucos (registros) se compararmos com os golpes via internet — afirma o delegado Rodrigo Duarte, que responde interinamente pelo 1º DP.
O crime é simples. O motorista pede para abastecer como qualquer cliente e, após, vai até a loja de conveniência para simular o pagamento. Alguns até compram outros produtos de menor valor. Depois, voltam para os seus carros e vão embora sem pagar. Os funcionários do posto só percebem o crime mais tarde, mas as câmeras ajudam a comprovar e identificar o estelionatário.
— O posto representa e, geralmente, junto com o BO (boletim de ocorrência), já tem a placa do veículo e imagens do autor. A prova está feita. Cabe identificar a pessoa, inquirir até a delegacia e indiciar por estelionato. O comum é eles optarem por se manifestar somente em juízo — relata o delegado Edinei Albarello, do 3º DP.
Conforme a Polícia Civil, as estatísticas deste tipo de crime costumam ser infladas por um criminoso contumaz. O motorista aplica o golpe em um posto numa semana, na outra vai em outro estabelecimento, no mês seguinte em uma outra região da cidade e continua até ser indiciado. Neste ano, por exemplo, um mesmo investigado foi indiciado por seis estelionatos — ou seja, a pena poderá ser de seis a 30 anos de prisão.
— Começamos a investigar e descobrimos que o mesmo autor estava cometendo o crime em diferentes pontos da cidade. Aqui no 3º Distrito temos 20 mil procedimentos (inquéritos policiais sobre diversos tipos de crime) em andamento. É uma demanda excessiva e, por isso, (o andamento) depende da prioridade. Mas, neste tipo de caso, como já tem a identificação, costuma ser rápido — explica o delegado Albarello.
A Polícia Civil não tem um levantamento preciso de quantos casos acontecem porque o registro é feito como estelionato, o que inclui uma grande diversidade de golpes. Conforme dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), Caxias do Sul registrou 2.076 estelionatos entre janeiro e maio deste ano. Conforme explicado pelo delegado Duarte, a maioria é de crimes praticados pela internet.
"Deve ser registrado menos da metade do que acontece"
Os proprietários de postos de combustíveis admitem que os casos de estelionato estão aumentando, mas evitam relacionar com o aumento do preço da gasolina. Segundo os empresários, este tipo de crime é um problema constante.
— Às vezes acontece mais, às vezes menos, mas sempre foi assim. É por um desvio de caráter (do autor) muito mais do que pelo preço da gasolina. Agora está um problema de novo, tive três casos recentes — lamenta o proprietário de um posto na Zona Leste, que pede para não ser identificado.
O relato é o mesmo. Os autores se passam por clientes e dizem que vão pagar na loja de conveniência. Lá, disfarçam e depois vão embora sem pagar a gasolina. A maioria sai normalmente. É raro um golpista fugir com o carro em alta velocidade.
— Registramos com imagens dos carros, da pessoa (que cometeu), a informação completa. Quem não tinha (monitoramento), atualizou justamente por estes problemas. Foram atrás de câmeras melhores justamente para identificar. Para os postos é muito ruim, mas para a polícia e a justiça é um crime considerado de baixo valor. Só vão atrás quando é alguém que comete muitas vezes — aponta um empresário da área central, que também prefere o sigilo para se manifestar.
Por esta falta de respostas e sentimento de impunidade, os empresários afirmam que há muitos crimes do tipo que não são registrados, problema admitido pela Polícia Civil e Brigada Militar.
— Deve ser registrado menos da metade do que acontece. Às vezes é porque o valor não é tão expressivo ou pelo tempo que é perdido (fazendo o BO), ou porque sabemos que as placas (do carro do autor) são frias... Só que não podemos tratar como normal. Nenhum empresário de qualquer ramo pode aceitar. Infelizmente acontece, mas não podemos achar que faz parte do nosso negócio. Por isso, sempre recomendo que façam e que possamos dar o máximo de informações à polícia para ajudar o trabalho deles — declara o empresário da Zona Leste, que atua há 12 anos no ramo.