A Polícia Civil apura se o triplo homicídio registrado na noite desta quinta-feira (16) em Caxias do Sul foi motivado por vingança entre famílias. O crime ocorreu por volta das 20h20min na Rua Valdemira Raymundi, no bairro Esplanada. Foram executados a tiros o casal, identificado como Antônio Joacir Tomás Gonçalves, 48 anos, e Juliana dos Santos da Silva, 33 anos, além da filha deles, Vitória Lohana da Silva Gonçalves, nove anos. Eles chegavam em casa no momento do ataque a tiros. Juliana morreu no local, enquanto Gonçalves e a criança chegaram a ser socorridos, mas morreram em seguida.
De acordo com o delegado Caio Marcio Fernandes, titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o casal tinha envolvimento com o tráfico de drogas, mas a investigação apura também se o caso pode estar relacionado a vingança entre duas famílias, motivada pela disputa de controle de pontos de tráfico há anos, além de motivações pessoais.
Essa divergência, segundo Fernandes, ganhou força em junho do ano passado, quando a casa de madeira onde o casal morto nesta quinta-feira foi atingida por diversos tiros. Na época, um dos filhos do casal, João Vitor Antônio Gonçalves da Silva, 10 anos, morreu após ser atingido por três tiros que atravessaram as paredes da casa. Em entrevista ao Pioneiro, após a morte do filho, Juliana disse que o menino tinha o sonho de ser bombeiro. Ela declarou acreditar que a morte teria ocorrido por engano.
Segundo informações da polícia, como retaliação pela morte da criança de 10 anos, ocorreu uma espécie de contragolpe, que resultou no assassinato de outras duas pessoas, mãe e filho, registrados em novembro do ano passado. Naquela época, Iran Elias Stumpf, 19 anos, e Carina Stumpf, 41, foram mortos dentro de uma igreja evangélica no bairro Monte Carmelo, em Caxias do Sul. Para a Polícia Civil, os dois casos estão relacionados. Posteriormente, uma nova resposta foi feita, desta vez sem vítimas fatais, quando outro filho do casal executado nesta quinta foi baleado em uma praça de Caxias do Sul.
Os autores desse último ataque foram presos em Porto Alegre e o inquérito foi encerrado na semana passada com o indiciamento dos dois. Conforme o delegado, eles são os prováveis mandantes do crime de ontem, que resultou na morte do casal e da criança, e teriam dado ordem para a execução de dentro da cadeia.
— São indivíduos com ampla ficha policial, ostentando diversos delitos graves, inclusive contra a vida, mas estão recolhidos. Infelizmente, trabalhamos com essa realidade que, mesmo dentro das prisões, os indivíduos conseguem manter contato com o mundo exterior e coordenar as atividades — explica.
O casal assassinado nesta semana tinha passagem pela polícia. Ainda conforme o delegado, Juliana tinha antecedentes por tráfico, enquanto Gonçalves tinha envolvimento com ameaça, lesão corporal, furto qualificado, quatro portes de arma de fogo, receptação, roubo qualificado, corrupção de menor e dois antecedentes por tráfico de drogas.
— São pessoas, de ambos os lados, que acabam tendo envolvimento na vida criminosa e, em que pese, tenham participações em facção, a motivação não foi uma disputa por tráfico de drogas ou mesmo por poder. E, sim, uma questão pessoal que nós já vínhamos monitorando e, dentro do possível, já tínhamos todos os indivíduos presos — afirma Fernandes.
Além da execução de mais de uma pessoa, os crimes chamam a atenção pelo envolvimento de crianças. Ainda conforme o delegado, os menores, de 10 e 9 anos, não eram alvos das ações, mas acabaram morrendo devido ao contexto de rixa entre as famílias.
— As duas crianças acabaram sendo vítimas colaterais, não eram destinatários, mas, em razão dos contextos, os executores acabaram não tendo o cuidado. Simplesmente assumiram o risco de, para conseguir ceifar a vida do alvo, também assumiram o risco de ceifar a vida de quem estivesse próximo — avalia.
A DHPP trabalha para localizar os autores do triplo homicídio.