Um garoto estudioso que sonhava ser bombeiro. Uma criança carinhosa que dormiu assistindo televisão com os pais e irmãos. Um menino de 10 anos que foi morto por três tiros que atravessaram as paredes de madeira de sua casa. Este era João Vitor Antônio Gonçalves da Silva, a vítima mais jovem da violência em Caxias do Sul em 2021. A Delegacia de Homicídios ainda tenta esclarecer o motivo que levou três criminosos vestidos com camisetas da Polícia Civil a atirarem diversas vezes contra a residência onde estava um casal com seus quatro filhos.
João Vitor foi sepultado na manhã deste sábado (19) ao lado dos avós paternos, no Cemitério Municipal de Vacaria. O menino era aluno do quarto ano da Escola Basílio Tcacenco.
— Meu filho era uma criança muito estudiosa. O sonho dele era ser bombeiro. Ele tinha os brinquedos de bombeiros e dizia que queria salvar vidas. Ele queria seguir os passos do tio (que foi bombeiro e hoje é sargento da Brigada Militar). Meu filho estava dormindo. Morreu sem saber — conta a mãe, Juliana dos Santos da Silva, ainda abalada com o pesadelo que viveu na sexta-feira (18).
A família mora há 16 anos na mesma casa no bairro Monte Carmelo. A mãe é auxiliar de limpeza e o pai trabalha na construção civil. Na noite anterior, o casal e os quatro filhos colocaram um colchão na sala para assistir televisão, onde dormiram reunidos. Às 5h40min, Juliana foi acordada por gritos de "Polícia", feitos por três homens que desembarcaram de um Gol branco.
— Ouvi que estavam forçando o portão de um vizinho de baixo (o térreo da moradia é alugado por um idoso), daí abri a janela e eles começaram a atirar. Eu fechei a janela e meu esposo veio socorrer, foi quando ele foi baleado. Foram mais de 10 tiros que atravessaram tudo, porque a casa é de madeira. Meu outro filho (de 13 anos) foi atingido no braço. Estava toda nossa família ali (na sala) — relata Juliana.
Os criminosos não conseguiram invadir a residência e fugiram logo após a sequência de tiros. A perícia encontrou 10 estojos de munição calibre 9mm. O pai de João Vítor, de 47 anos, foi atingido nas pernas e no tronco. Ele ficou com uma bala alojada nas costas, pois queria sair o mais cedo possível do hospital para apoiar a família e sepultar o filho de 10 anos. A família ainda não sabe o motivo do ataque contra a sua residência.
— Não sabemos o motivo. Até agora, tentamos entender. Não sei. Foi engano, tenho certeza. Não temos rixa com ninguém, problema com ninguém. Meu filho gostava de ficar em casa, tinha apenas 10 anos, não tinha maldade. As pessoas são muito cruéis em falar qualquer coisa. Tudo dizem que é tráfico. Meu filho era uma criança. Meu filho era tudo para mim. Mataram ele e mataram parte de mim junto — desabafa Juliana.
A Brigada Militar foi acionada após o ataque e realizou buscas, mas nenhum suspeito foi preso. A investigação cabe a Polícia Civil, que analisa se este tipo de ataque violento e organizado tem relação com facções que disputam o tráfico de drogas. No entanto, não se sabe a autoria, nem o motivo de terem alvejado uma casa de família.
A família nega que a Rua São João seja um local de tráfico de drogas deflagrado.
João Vitor foi enterrado às 11h30min deste sábado (19). Ele é o quinto menor de idade que morreu vítima da violência em Caxias do Sul em 2021. Os outros quatro eram adolescente de 16 e 17 anos. No total, a maior cidade da Serra contabiliza 47 assassinatos em 2021.