Ao atender um caso de violência doméstica e prender um suspeito com uma escopeta, os policiais militares foram surpreendidos por descobrir que se tratava de Tiago Tavares de Oliveira, 26 anos, que é acusado e aguarda pelo júri de um feminicídio em 2017. Naquela ocasião, Oliveira, capturado em Giruá, confessou ter matado Gracielli Degasperi Grandi, 17. Dois anos e quatro meses após o assassinato da adolescente, Oliveira foi solto por excesso de prazo diante da pendência de diligências investigativas.
Gracielli namorou por três anos com Oliveira. O rapaz, inclusive, mora na residência que a garota dividia com os pais, no bairro Forqueta. Foi nesta mesma casa que Oliveira retornou no dia 30 de janeiro de 2017. Ele foi recebido pelo ex-sogro e pediu para falar com a garota. Após, Oliveira entrou no quarto da jovem e disparou ao menos três vezes. Gracielli estava dormindo e não teve reação. Morreu deitada na cama.
Após o crime, Oliveira fugiu e se refugiou na casa de um familiar no município de Giruá, na região das Missões. Foi lá que, no dia 2 de fevereiro de 2017, ele foi preso por policiais civis. Oliveira estava com um revólver calibre .38. Ao ser levado à delegacia, ele confessou ter matado Gracielli e que aquela era a arma do crime.
Pelo feminicídio, Oliveira foi denunciado pelo Ministério Público (MP) ainda em fevereiro de 2017 e, desde então, responde a processo na 1ª Vara Criminal de Caxias do Sul. Só que a prisão preventiva, solicitada pela Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente (DPCA) durante a investigação, foi revogada e Oliveira foi solto em 5 de junho de 2019, pois a juíza entendeu que ele estava há muito tempo aguardando pela conclusão de diligências investigativas. O MP recorreu, mas a decisão foi mantida pelo Tribunal de Justiça (TJ).
Um ano e meio após a soltura, policiais militares evitaram o que, aparentemente, seria o segundo feminicídio praticado por Oliveira. A Brigada Militar (BM) foi acionada por volta da 0h30min desta quinta-feira (27). Os policiais foram até a Avenida São Leopoldo e ouviram o relato da vítima, que disse ter sido agredida pelo namorado. Logo depois, o agressor fugiu a pé levando uma arma de fogo.
Os policiais militares registraram o relato, mas não localizaram o suspeito. Mais tarde, os PMs decidiram voltar ao local. Foi às 5h, quando eles flagraram e prenderam Oliveira. Ele portava uma escopeta com diversas munições, algumas já deflagradas. Autuado por violência doméstica e porte ilegal de arma, Oliveira foi, novamente, encaminhado ao sistema penitenciário.
Júri não tem data para acontecer
O processo referente ao feminicídio de Grazielli está em fase final. A 1ª Vara Criminal já publicou a sentença de pronúncia, que é o documento onde fica decidido que há indícios de um crime contra a vida e que o acusado pode ser o culpado. Ou seja, a pronúncia determina que o réu deverá ser julgado por um tribunal do júri e determina o que estará em análise pelos jurados.
Neste momento, é respeitado o prazo para recurso da sentença de pronúncia, conforme estabelecido no Código de Processo Penal. A acusação, pelo MP, e a defesa, que no caso de Oliveira é feita pela Defensoria Pública, podem solicitar as últimas diligências e arrolar testemunhas, se desejarem. Após, será marcada a data do júri.
Ocorre que o Fórum de Caxias do Sul possui mais de 200 processos com réu preso aguardando por júri. Pela legislação, estes procedimentos têm prioridade. Por isso, enquanto não for resolvida esta fila, que pode demorar anos, não estão sendo agendados os processos em que os réus respondem em liberdade. O que é o caso de Oliveira, graças a decisão de junho de 2019 por excesso de prazo.
Por enquanto, o réu ficará preso em razão deste flagrante por violência doméstica e porte de arma. A Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) investigará este novo fato. Não foi divulgado se uma medida protetiva foi determinada contra Oliveira em relação a nova namorada, que pediu socorro.