As primeiras informações apontam que o alvo do ataque a tiros em frente ao Estádio Alfredo Jaconi na madrugada desta sexta-feira (10) era mesmo Willian Fialho Schneider, 37 anos. Ele é conhecido de policiais mais antigos de Caxias do Sul pelo apelido de Dengue e por suspeitas de participação em delitos variados. Willian tinha passagens por tráfico de drogas, roubo de veículo, porte ilegal e disparo de arma de fogo.
No ataque, Willian morreu após ser baleado ao lado do pai, Gilberto Schneider, 57. Outros dois homens foram feridos a tiros por engano, segundo a polícia. Um deles está em um hospital da cidade e outro na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). As instituições não repassam informações sobre o estado de saúde dos pacientes.
De acordo com a Brigada Militar (BM), o último crime em que Willian se envolveu em Caxias do Sul foi um tráfico de drogas em 2014. Após, a informação era que ele havia se mudado para Florianópolis (SC).
Entretanto, uma hipótese investigada pela polícia é de que Willian estava jurado de morte e corria risco caso retornasse para a Serra. Foi o que aconteceu nessa quinta-feira (9). Willian voltou a Caxias para ir com o pai para assistir ao jogo decisivo do Juventude contra o Corinthians. Ao que tudo indica, Willian foi reconhecido por desafetos, que decidiram não perder a oportunidade.
A partida terminou por volta das 23h30min de quinta-feira (9). A torcida ficou mais um tempo no estádio comemorando a permanência do Juventude na Série A. Ainda assim, no início da madrugada desta sexta-feira (10), eram poucos torcedores que continuavam nas imediações do Estádio Alfredo Jaconi. Como é tradição, uma das celebrações pós-jogo que mais durou foi nas proximidades da sede da torcida organizada Mancha Verde, na Rua Hércules Galló. Era lá que estavam Willian e o pai.
Pouco antes da 1h, um carro prata estacionou na esquina da Borges de Medeiros. O veículo era tripulado por quatro pessoas, mas, segundo a Polícia Civil, apenas um homem desembarcou de arma em punho.
— Esse indivíduo se aproximou já efetuando os disparos na direção de pai e filho. Todas as características apontam para um execução. Não houve discussão. Ambos foram atingidos por mais de um tiro na cabeça e pescoço, além de braços e mãos (provavelmente por uma tentativa de defesa). Depois, esse indivíduo continuou atirando a esmo e atingiu outras duas pessoas — relatou a delegada plantonista Maria Isabel Zerman Machado.
Pai de Willian, Gilberto não possuía antecedentes criminais. A tese inicial é que ele foi alvejado por estar perto ou tentar proteger o filho. No local, foram apreendidas 13 cápsulas de calibre 9mm, o que indica que o atirador descarregou uma pistola contra o seu alvo. Após o duplo homicídio, o atirador retornou ao carro prata e o grupo fugiu pela Rua Borges de Medeiros em direção ao bairro Primeiro de Maio. Esse veículo foi filmado por câmeras da região, mas, inicialmente, não foram encontradas câmeras que flagraram o tiroteio.
A sequência de tiros foi ouvida por jogadores e funcionários do Juventude, jornalistas que faziam a repercussão do jogo e policiais militares, que estavam a uma quadra de distância. Os brigadianos foram até o local do crime, coletaram os primeiros relatos e orientaram as buscas ao carro prata, mas nenhum suspeito foi encontrado.
A Delegacia de Homicídios assumiu a investigação na manhã dessa sexta-feira (10) e busca imagens e testemunhas que ajudem a esclarecer a execução. A Polícia Civil não sabe quantas pessoas participavam da comemoração quando o ataque aconteceu.
Em janeiro de 2011, Willian já havia perdido um irmão para a violência. Vinicius Fialho Schneider, 25, foi executado no bairro Jardelino Ramos. O autor do crime foi condenado em 2015. O velório de pai e filho está previsto para iniciar às 7h de sábado (11) nas Capelas Cristo Redentor. O sepultamento está marcado para as 11h no Cemitério Público. Com esse duplo homicídio, Caxias do Sul contabiliza 96 assassinatos em 2021.
Procurada pela reportagem, a torcida organizada Mancha Verde declarou estar muito abalada com o acontecido e não quis se manifestar neste momento.
— Não tinha nada organizado, era apenas o pessoal saindo do estádio e se organizando para ir embora. Estava cheio de ambulantes e as vítimas (pai e filho) estavam em um cachorro-quente da esquina. Eles são integrantes da torcida, mas não tinha nada acontecendo, apenas a sede continuava aberta. Foi tudo na rua e não teve relação com qualquer torcida. Na real, ninguém entendeu o que aconteceu. Foi uma tragédia que acabou com a festa — lamentou um integrante que pediu para não ser identificado.