Cinco pessoas serão indiciadas por 34 extorsões a donos de revendas de veículos na Serra. A investigação da Polícia Civil de Caxias do Sul comprovou a sequência de crimes e a participação de cada um dos participantes deste grupo criminoso. O líder é um homem de 31 anos, que está preso na Penitenciária Estadual, no Distrito do Apanhador, pois é investigado por um sequestro, em julho. Os outros quatro investigados na Operação Libera Terra respondem ao inquérito policial em liberdade.
Não por coincidência, foi em agosto que os relatos de extorsões a revenda de veículos começaram em Caxias do Sul. Foram 15 ocorrências registradas por empresários em pouco mais de uma semana. Por isso, a Delegacia de Repressão as Ações Criminosas Organizadas (Draco) foi acionada para dar uma resposta.
— A nossa equipe é especializada contra o crime organizado e, para além dos números de casos, havia os nomes de uma facção e um suposto líder que se repetiam. Por isso, criamos uma força-tarefa para dar esta resposta o quanto antes — aponta o delegado Luciano Pereira, chefe da Draco.
Ao longo de quatro meses de investigação, a Draco identificou 34 revendas que receberam as mensagens de extorsões do grupo criminoso. O grupo exigia quantias que variavam entre R$ 500 e R$ 1 mil mensais por "proteção". Os investigadores admitem que há outros casos que as vítimas, por medo de represálias, não quiseram relatar à polícia. Por outro lado, nenhum caso de violência contra os empresários ou aos negócios aconteceu.
— De todo o comércio, qual que usa mais o WhatsApp e o deixa de forma pública? (Esse grupo) encontrou esta facilidade e se especializou, por escolha, nas revendas. Os contatos são encontrados facilmente na internet e, principalmente, são via aplicativo WhatsApp. Esse era o principal interesse. Todas as extorsões, com mesmas mensagens e imagens, foram pelo WhatsApp — explica o delegado Pereira, descrevendo que a facilidade de agir permitiu que as extorsões fossem praticadas também em outras cidades, como Bento Gonçalves e Farroupilha.
Para dar veracidade às ameaças, os criminosos divulgavam a execução de um jovem de 18 anos em Taquara, em frente a uma revenda. O medo se espalhou ainda mais quando surgiu um vídeo feito por uma suposta vítima de Caxias do Sul. O empresário relata as extorsões e mostrava carros vandalizados e com os vidros quebrados dentro da revenda. A investigação da Draco comprovou que os danos foram provocadas por uma desavença pessoal do empresário, e não tinham nenhuma relação com a facção das mensagens.
— Quem recebe um vídeo desta natureza, fica com medo e paga para não sofrer no seu negócio. A extorsão é isto, uma ameaça grave para obter uma vantagem, retirar dinheiro de alguém. Eles "prometiam" os empresários. Mas, a violência, ataques ou represálias, não foram praticados em Caxias. Não cometeram nenhum dos atos que diziam que iriam cometer (para quem não pagasse) — ressalta o delegado regional Cleber dos Santos Lima
Além do líder de 31 anos, a Draco indiciou outros dois homens, de 27 e 35 anos, e duas mulheres, de 20 e 25 anos, pela participação no esquema de extorsão. O grupo tem ligações com a facção das mensagens, mas a Polícia Civil ressalta que extorsões e ataques contra empresários não são uma realidade em Caxias do Sul.
Na Operação Libera Terra, a Draco representou pela prisão preventiva dos cinco investigados. Contudo, a medida cautelar não foi deferida pelo Poder Judiciário. Por isso, em 26 de novembro, os policiais só cumpriram mandados de busca e apreensão — incluindo dentro da Penitenciária Estadual no Apanhador, onde foram apreendidos celulares. Depois da deflagração da operação, o delegado Luciano Pereira afirma que não houve mais registros deste tipo de extorsão.
— Se acontecer, primeiro, procure os órgãos policiais. Precisamos saber o que está acontecendo para dar uma resposta. Segundo, não ceda. Pagando o que eles pedem, este dinheiro vai ser usado em outras ações criminosas, como compra de armas, roubos e latrocínios. Você estará financiando esta facção. Procure a delegacia de plantão que você receberá todo apoio necessário — orienta o chefe da Draco.
Os cinco investigados foram indiciados 34 vezes conforme o artigo 158 do Código Penal, que define o crime de extorsão e prevê pena de quatro a 10 anos de prisão. O grupo também foi indiciado por organização criminosa, que tem pena de três a oito anos de reclusão.
Como era feita a extorsão
Os textos enviados pelo aplicativo WhatsApp eram todos semelhantes, segundo o delegado. Em uma das conversas, um criminoso se identifica para um empresário como sendo de uma "organização" e diz que está procurando todas as revendas para que façam o "fechamento" com eles. Ou seja, que aceitem fazer os pagamentos. Em troca, ele menciona que farão a segurança e até cobrança e resgate de veículos em caso de pessoas que não estejam em dia com a empresa.
Em outra troca de mensagens, um criminoso menciona um caderno sugerindo o controle feito pela organização sobre o esquema. As mensagens eram enviadas de dentro da penitenciária do Apanhador, reforçando o problema para a segurança pública que é a entrada de celulares nas cadeias.