A rápida informação sobre o possível sequestro e a colaboração dos familiares foram decisivos para o resgate da assistente social Melina Bühler Giachelim, 36 anos, nesta quinta-feira (23). A força-tarefa mobilizou 35 investigadores e duas delegacias especializadas, em Caxias do Sul e Porto Alegre.
A investigação ficou a cargo da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), especializada em desmantelar grupos criminosos.
— Desde que assumimos a Draco (em novembro de 2019), é o primeiro caso de sequestro que acontece (na região). É um crime bastante incomum. Qualquer crime que envolva a vida da vítima ganha prioridade. Nosso foco todo era em resgatá-la com vida, é algo muito grave. Foram 60 horas de investigação. A orientação que podemos dar é que, imediatamente, (os familiares) procurem a polícia. Em sequestros, trabalhamos contra o tempo — ressalta o delegado Luciano Pereira.
O crime foi percebido por colegas de trabalho de Melina, que acionaram a Secretaria Municipal de Segurança Pública que, seguindo o protocolo, repassou diretamente à Draco. Os investigadores, então, acionaram a Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DRD/Deic), que possui uma divisão antissequestro.
A investigação apontou como suspeitos dois amigos da família da vítima. Eles teriam planejado o sequestro e o pedido de resgate de R$ 600 mil. Um deles, um homem de 40 anos, inclusive foi até a delegacia acompanhando o marido de Melina, que é empresário em Flores da Cunha. Segundo a Polícia Civil, este suspeito fingia dar apoio ao amigo.
— É um grupo que não tinha experiência neste tipo de crime (sequestro), mas que estava muito bem organizado, cada um com sua função específica. Foi (um crime) premeditado e organizado nos detalhes para acontecer. Este foi um dos casos mais complexos que pegamos aqui na Draco — aponta o delegado Pereira.
Cinco homens e uma mulher foram presos. Eles foram autuados por extorsão mediante de sequestro, que tem pena prevista de 12 a 20 anos de reclusão. Segundo a Polícia Civil, em depoimento, os seis negaram participação no crime.
Os nomes dos presos não foram divulgados pela Polícia Civil em razão da lei sobre abuso de autoridade. A autuação, que durou até as 5h desta sexta-feira (23), foi remetida à Justiça para análise da prisão preventiva dos suspeitos. O inquérito policial deve ser concluído em até 10 dias. A Draco irá analisar os celulares apreendidos — incluindo aqueles utilizados na extorsão da família —, a vinculação entre os presos e a possibilidade de mais pessoas estarem envolvidas no sequestro. Também foi solicitada perícia em um revólver calibre .38 encontrado no cativeiro em Balneário Arroio Teixeira.
O QUE SE SABE SOBRE OS PRESOS
Dois homens foram presos em um Mobi vermelho na RS-122, na proximidade do Vale dos Sinos. Esta foi a primeira prisão efetuada pela Polícia Civil. Este veículo foi um dos três utilizados no rapto da assistente social, em Caxias do Sul. Os presos foram:
:: Homem de 40 anos com histórico por delitos patrimoniais. Ele é morador de Caxias do Sul e, segundo a Polícia Civil, era um amigo da família que, durante a investigação, foi até a delegacia acompanhando o marido da sequestrada. Este investigado é apontado como um dos idealizadores do sequestro. Ele participou do rapto da vítima e teve participação direta nas extorsões.
:: Homem de 48 anos que é morador de Caxias do Sul e possui passagem pelo sistema prisional por crimes patrimoniais. Ele também é apontado como um amigo do marido da vítima e organizador das ações. O suspeito teria participado diretamente do rapto da vítima e nas extorsões à família.
Após o primeiro flagrante, a Polícia Civil conseguiu informações que levaram até o cativeiro, em uma residência alugada no Balneário Arroio Teixeira, em Capão da Canoa. No endereço, os policiais prenderam dois jovens.
:: Homem de 19 anos que é morador do Vale dos Sinos. Possui passagem no sistema prisional por tráfico de drogas e crimes patrimoniais.
:: Homem de 23 anos, também morador do Vale dos Sinos, com antecedentes por crimes patrimoniais. Este suspeito era foragido das Justiça, com mandados de prisão expedidos pelas comarcas de Porto Alegre e Novo Hamburgo.
Esta dupla era responsável por manter a vítima no cárcere e fazer vídeos dela para serem utilizados na extorsão do marido. Com a dupla foi apreendido um revólver calibre .38, por isso eles também foram autuados em flagrante por posse irregular de arma de fogo.
No cativeiro também foi recolhido o Siena branco, veículo utilizado para levar a vítima, dentro do porta-malas, de Caxias até o Litoral Norte.
Durante os procedimentos no cativeiro, os policiais descobriram um casal que levava mantimentos aos sequestradores e dava outros apoios logísticos. Estes suspeitos foram presos em presos em um Jeep Renegade branco, entre Capão da Canoa e Arroio do Sal:
:: Homem de 31 anos, motorista do Jeep Renegade. Ele apresentou um documento falso durante a abordagem policial. O investigado é foragido por tráfico de drogas em uma investigação da Polícia Federal. Ele é morador de Caxias do Sul e também possui antecedentes por delitos patrimoniais.
:: Mulher de 28 anos que é companheira do motorista. Ela é a única suspeita que não tinha histórico policial. É moradora de Vacaria. Com o companheiro, ela foi responsável por alugar a residência utilizada como cativeiro e prestar apoio logístico aos comparsas que mantinham a refém.