Após 18 dias de investigação e mais de 40 depoimentos colhidos, três pessoas foram presas e outra é considerada foragida pelo linchamento e morte de Arlindo Elias Pagnoncelli, 39 anos, conhecido como Zinho, em Nova Prata. Segundo a Polícia Civil, eles responderão por homicídio qualificado. Os mandados de prisão preventiva foram cumpridos na manhã desta sexta-feira (27) em Nova Prata, Vista Alegre do Prata e Flores da Cunha.
Uma quinta investigada não pode ser presa em razão da legislação eleitoral que veda prisões em período de pleito. Esta suspeita é eleitora em Caxias do Sul, município que tem segundo turno neste domingo (29). O foragido estaria em Santa Catarina, segundo a Polícia Civil.
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O inquérito policial busca identificar mais de 40 pessoas que participaram ou testemunharam o espancamento do lixador de mármore na praça central da cidade na noite de 8 de novembro. Duas mulheres alegam terem sido importunadas sexualmente pelo Pagnoncelli, o que teria motivado o início das agressões.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade de quarta-feira (25), a delegada Liliane Pasternak Kramm, responsável pelo caso, afirmou não existir certeza dessa importunação sexual.
— Não existe certeza (sobre o assédio), não dá para ver (nas imagens de câmeras de monitoramento) essa "passada de mão" que ela fala. Não há convicção absoluta. As pessoas se aproximam em carros distintos da família (da mulher) e passam a agredi-lo. A família pede para que as pessoas façam justiça com as próprias mãos. Fica estranho imaginar esse assédio, embora os crimes sexuais sejam mais velados e a palavra da vítima tenha peso, mas causam estranheza as contradições e o fato de não revidar imediatamente — afirmou.
A Polícia Civil identificou sete adolescentes e oito adultos que participaram diretamente do ataque. A investigação analisa a conduta de cada investigado, que poderão ser indiciados por homicídio qualificado, lesão corporal e incitação ao crime. Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (27), a delegada Liliane afirmou que os cinco com prisão preventiva decretada foram os que tiveram participação mais direta para o linchamento.
— O inquérito está praticamente pronto, mas é um fato muito complexo. Fizemos a análise e confronto de imagens para verificar a participação de cada pessoa, o que vai além da nossa capacidade técnica e pessoal. As prisões são firmes e com provas boas. O inquérito será remetido ao Ministério Público e Poder Judiciário com provas suficientes. Mas, ainda há duas prisões a serem feitas e mais algumas testemunhas a serem ouvidas. A entrega da totalidade do inquérito deverá acontecer na próxima terça-feira — apontou a responsável pela investigação.
Entre os investigados está um policial militar de Caxias do Sul. O brigadiano estava em Nova Prata para acompanhar uma mulher que é parente das moças que alegam terem sido importunadas. O PM, que estava de folga, aparece armado nas imagens e agride Pagnocelli com socos. O brigadiano se apresentou e prestou depoimento na delegacia de Nova Prata na tarde desta sexta-feira (27), mas a Polícia Civil não divulgou detalhes.
A investigação colheu mais de 40 depoimentos sobre a confusão, sendo que os principais envolvidos prestaram três depoimentos cada. A delegada Liliane relata que houve muitas contradições nos relatos, o que atrasou o trabalho policial.
Relembre o caso
O tumulto aconteceu na praça da avenida Fernando Luzatto, no centro da cidade, quase em frente à prefeitura, local que historicamente é conhecido como um ponto de encontro noturno e, consequentemente, palco de badernas, segundo a Brigada Militar (BM). O linchamento foi filmado por diversas testemunhas. As imagens mostram Pagnoncelli sendo agredido com socos e chutes por diversas pessoas. Mesmo caído e desacordado, a vítima continuou a ser espancada.
Pagnoncelli era solteiro e trabalhava como lixador de mármore em uma mineradora havia 20 anos. Ele foi socorrido e encaminhado para um hospital de Vacaria, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu no dia 17 de novembro.