O primeiro júri em Caxias do Sul pós advento da pandemia de coronavírus será realizado nesta quarta-feira (23). Jhonatan Lucas da Silva Fragoso de Lemos, 21 anos, será julgado por tentar matar um rapaz da mesma idade, em novembro de 2018. Conforme a denúncia do Ministério Público (MP), o ataque a tiros foi motivado por uma dívida de R$ 9. A sessão está marcada para as 13h e contará com equipamentos de proteção, distanciamento e novos procedimentos para evitar o contágio de coronavírus. O último júri em Caxias do Sul aconteceu em 9 de março.
Em razão da pandemia, o julgamento não será aberto ao público. O Fórum irá disponibilizar luvas, máscaras e protetores faciais aos envolvidos. O salão do júri foi readequado, aumentando a distância entre jurados, promotor, defensor público e o juiz Silvio Viezzer, que atua em substituição na 1ª Vara Criminal. A votação do veredito também não será realizada na sala secreta, em razão desta ser considerada pequena. Álcool gel estará disponível para todos os participantes.
Este processo está pronto para julgamento desde o início de fevereiro e, inicialmente, teve a audiência marcada para o dia 2 de junho. Com o risco da covid-19, o júri precisou ser remarcado em quatro oportunidades. Em todo o Rio Grande do Sul, o Tribunal de Justiça só autorizou a retomada dos júris em 5 de junho em regiões classificadas como bandeira laranja ou amarela, de acordo com o Modelo de Distanciamento Controlado estipulado pelo governo estadual. Ainda assim, o primeiro júri só aconteceu em 14 de julho, em Dom Pedrito.
O julgamento não contará com nenhuma testemunha. A vítima não foi localizada durante as diligências e, por isso, é considerado improvável que apareça no julgamento. O réu está recolhido no sistema penitenciário desde novembro de 2018 em razão deste e outro processo de um homicídio consumado.
— É importante a retomada, tanto para o retorno da vida normal, quanto para os próximos processos e réus que aguardam julgamento há meses. É a resposta que a sociedade espera. Claro, com as devidas cautelas para salvaguarda de todos. Foram seis meses sem júri, o que é muito tempo para uma comarca do tamanho de Caxias do Sul. Traz prejuízos muito grandes diante da demanda que, em que pese a pandemia, não parou — aponta o promotor João Francisco Ckless Filho, que atuará pela primeira vez na cidade. Ele veio de Passo Fundo, onde também atuava na Promotoria do Júri, no dia 4 de agosto.
A identidade da vítima é preservada pela reportagem.
O CRIME
Conforme a denúncia, a tentativa de homicídio envolve três membros de uma facção criminosa e foi motivada por uma dívida de R$ 9 relativa ao consumo de drogas. O ataque aconteceu na noite de 3 de novembro de 2018, quando um rapaz foi atraído para uma praça no bairro Jardim Eldorado e alvejado com diversos tiros. Mesmo gravemente atingida por seis tiros, a vítima conseguiu fugir correndo e procurar atendimento médico.
Ele foi ouvido por policiais no dia seguinte, ainda no hospital, e apontou Jhonatan Lucas da Silva Fragoso de Lemos como o atirador. Segundo o relato, o réu contou com o apoio de Denovan Shwank Esteves para o crime. Este comparsa, contudo, foi assassinado cinco dias depois.
Segundo a Delegacia de Homicídios, foi o próprio Lemos que matou Esteves. Quando foi preso no dia 12 de novembro de 2018, o investigado teria confessado aos policiais este homicídio e alegado que o motivo foi um furto de um botijão de gás.
Na ocasião da prisão, os policiais apreenderam um revólver e um celular. Os investigadores também encontraram uma filmagem da tentativa de homicídio, onde aparecem Esteves e Lemos questionando a vítima sobre a dívida. Na sequência, o rapaz aparece fugindo e sendo alvejado por disparos.
Em depoimento ao juiz, o réu negou a autoria da tentativa de homicídio. Lemos alegou que estava em São Miguel do Oeste (SC) na data do crime e negou conhecer a vítima ou Esteves. Ele afirmou que sua vinda para Caxias do Sul foi em decorrência de trabalho. No júri desta quarta-feira, Lemos será representado pela Defensoria Pública.