A família acredita que Irene da Fonseca, 67 anos, foi morta ao tentar proteger os dois netos no interior de São Marcos, no final da tarde de sexta-feira (26). A suspeita se baseia no relato do menino de sete anos, que estava na casa no momento do crime, mas que conseguiu fugir. Além da avó e do neto, Kauana Santos, 16, também estava na residência e foi levada pelo ou pelos bandidos. A adolescente segue desaparecida, o que mobiliza a Brigada Militar (BM) e Polícia Civil. A suspeita é que ela tenha sido levada para outra cidade. A casa da família foi incendiada.
Segundo relatos do menino à mãe, Raquel de Macedo, 31, o criminoso, usando uma roupa vermelha, teria entrado na casa e perguntado se ali tinham armas. A avó, então, teria tentado conversar com o bandido. O invasor ainda teria exigido o celular que estava nas mãos da adolescente. Assustados, os netos correram para se esconder. Kauana fugiu para o banheiro, enquanto o menino saiu de casa e se escondeu entre as árvores.
— Imaginamos que a dona Irene tenha percebido alguma coisa e tentou proteger os netos. Por isso mataram ela. Ela era muito protetora dos netos, cuidava bastante. O que achamos é que foi só maldade mesmo. Não teve sinal de que queriam roubar. Temos esperança que a Kauana esteja viva, que esse cara esteja mantendo ela em algum lugar. Só encontraram a blusa da adolescente, mais nada, nenhuma pista — diz Raquel.
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Kauana é natural do Paraná e veio para São Marcos para conviver com o pai Valdir da Fonseca, 36, no final do ano passado. A adolescente morou com os dois irmãos menores no centro da cidade até maio, quando o pai conseguiu um acordo por esta residência no interior. A família não pagava aluguel para morar na chácara, mas ajudava a cuidar da propriedade rural.
— A Kauana veio para conhecer e conviver com o pai, pois não tinha sido criada por ele. É uma menina que foi criada na Igreja Evangélica, pela avó materna no Paraná. Ela estudava e ia na igreja, esta era a rotina dela. Uma menina calma, de fala devagar e que gostava de cantar e ensaiar os hinos da igreja. Não era de sair (de casa) e nunca teve namorado. Estava há pouco tempo em São Marcos, então só conhecia as meninas das igrejas — conta Raquel, mãe dos dois irmãos de Kauana, e que acolheu a adolescente em sua chegada na Serra.
Mais de 60 horas após o assassinato de Irene, do incêndio da casa e do sequestro de Kauana, a família ainda não consegue explicar o que aconteceu.
— Há cada 15 dias, o Valdir buscava as crianças para passar o final de semana. Tem mais um bebê de um ano, que ele levou junto para Caxias do Sul, onde tinha ido para buscar a filha da nova namorada. No caminho, me telefonou e me avisou do incêndio, me pedindo para buscar o meu filho que tinha sido encontrado por vizinhos — lembra Raquel.
Polícia Civil busca família que morava na mesma chácara
Para a família, os investigadores afirmam estar montando um quebra-cabeça para encontrar a adolescente desaparecida e o autor da sequência de crimes. Uma dessas peças seria uma família que residia na mesma chácara, cerca de 50 metros da casa incendiada, em um galinheiro improvisado como moradia, e que não foi mais vista após o ataque. Como estas pessoas moravam há pouco tempo em São Marcos, os vizinhos têm poucas informações para colaborar com a polícia. O dono da chácara mora em Caxias do Sul.
O delegado Edinei Márcio Albarello ressalta que não há elementos contra o casal e, assim, não os trata como foragidos ou suspeitos do crime.
— Não teve nenhuma briga, ele só conhecia de vista e não tinha muito contato. O Valdir está muito abalado, é muita coisa né? Difícil de raciocinar direito. Eles perderam tudo (no incêndio) e estão na casa de uma amiga. Foi muita coisa de uma vez só — lamenta Raquel.
No sábado, cães farejadores da BM foram utilizados nas buscas, mas a única pista encontrada foi uma blusa com sangue da adolescente. A Polícia Civil conversa com moradores da região para verificar se alguma pessoa suspeita foi vista pela região de São Luiz durante a sexta-feira.
A BM também pede ajuda e atenção para outras cidades da Serra, pois a suspeita é que o criminoso tenha deixado São Marcos. Os policiais ressaltam que Kauana pode estar viva e sendo mantida em cárcere privado. Qualquer informação pode ser repassada pelo número 190 ou no aplicativo WhatsApp pelo (54) 9 9666-9278.
Em entrevista ao Gaúcha Hoje, na manhã desta segunda-feira (29), o delegado Albarello admitiu que Polícia Civil também trabalha a possibilidade de um duplo homicídio.
— Existe a possibilidade, infelizmente, de um duplo homicídio. Agora a motivação e quais as razões que levaram a acontecer esse fato nós não sabemos — afirmou.