Uma sequência de ataques a tiros, em diversos dias, está apavorando moradores da Avenida São Leopoldo, em Caxias do Sul. Os crimes estão sendo promovidos por pessoas não identificadas contra um alvo específico e seus familiares. O maior temor são as balas perdidas, uma vez que a via concentra comércio e atrai movimento intenso de carros e de pedestres.
Já são mais de sete ataques em duas semanas e quase sempre à noite, segundo relato de testemunhas. Somente no último final de semana, aconteceram dois atentados: no início da madrugada de domingo e na tarde seguinte. Por enquanto, ninguém ficou ferido. Uma hipótese é de que os crimes estão sendo encomendados por um homem que tem um desacordo comercial com o alvo dos tiros.
Os criminosos agem de forma parecida. Eles passam de carro e disparam a esmo contra uma empresa no térreo de um edifício residencial em plena avenida. Os crimes também estão ocorrendo contra outro prédio residencial na Rua Padre Werner Muehlen, a cerca de 400 metros da São Leopoldo.
Os imóveis são frequentados pelo alvo dos criminosos e estão marcados pelos tiros. Na porta de metal de uma garagem, a reportagem contou 20 disparos. A vidraça da empresa está perfurada por pelo menos três tiros. Mas os crimes afetam a vizinhança. Ninguém se arrisca a sair de casa quando quando as rajadas ecoam no entorno. Numa casa da Padre Werner Muehlen, um disparo atravessou a porta de uma garagem e poderia ter atingido um morador.
— Estamos com medo. A gente ouve os tiros, não tem o que fazer, tem que ficar em casa, sem fazer nada. Vamos se esconder onde? — questiona um homem sem qualquer relação com os ataques.
Na virada da noite de sábado para domingo, famílias confraternizavam num jantar e ouviram uma sequência de estampidos a poucos metros.
— Infelizmente isso só vai ter um fim depois que pegarem a pessoa que estão procurando. Na verdade, o terror já se instalou. Claro que a pessoa que estão procurando não está mais aqui no bairro, mas de qualquer forma querem saldar a dívida através de truculência, de se impor com o medo. Quando deixam toda a população de um bairro com medo, fica complicado. Os próprios moradores do bairro estão com medo de sair à noite — descreve uma testemunha.
Os moradores sentem muito medo e os relatos apontam inclusive o uso de uma submetralhadora, o que não foi confirmado pela polícia.
— Outro dia, de tarde, ouvi os tiros e fui ver o que era. Quando vi, já estava cheio de gente na frente da loja para ver o que tinha acontecido — conta um trabalhador.
Dias atrás, dois homens invadiram a empresa frequentada pelo alvo dos atiradores. O objetivo deles era sequestrar a mãe dele. Como ela não estava, os bandidos desistiram. Na semana passada, por volta das 18h, a mulher e o filho estavam na frente da empresa quando os criminosos passaram atirando. As vítimas conseguiram escapar sem ferimentos. O estabelecimento chegou a ficar uma semana fechado por causa da investida. Com medo, uma funcionária da empresa pediu demissão.
— Os vizinhos pedem para a gente ir embora, sair daqui. Está difícil — desabafa uma das vítimas.
Investigação
O caso é de conhecimento da Polícia Civil e da Brigada Militar (BM). As motivações estariam relacionadas a um desacordo envolvendo dívidas. A BM aumentou o policiamento e colocou o setor da inteligência da corporação para monitorar os criminosos. No último atentado, os bandidos estavam num Fiat Sena cinza ou prata, características do veículo visto nos outros ataques.
— Nós realizamos diversos patrulhamentos e colocamos a inteligência para acompanhar a situação. Parece que há um desacordo comercial entre as partes. Estamos tentando entender quem faz isso, por que e quando. Claro que tudo causa temor e o local está sendo monitorado — reitera o subcomandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), major Diego Soccol.
O 1º Distrito Policial abriu investigação para identificar os autores. O teor do inquérito é mantido em sigilo para não expor os alvos dos criminosos.
— Ouvimos várias testemunhas. Nossa maior preocupação é o disparo atingir alguém na rua — diz o delegado Vítor Carnaúba.