O furto de gado é uma das principais dores de cabeça dos pecuaristas gaúchos. Entre janeiro e setembro deste ano foram mais de 4 mil casos no Rio Grande do Sul, segundo dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP). Seis destes crimes aconteceram em Pinhal da Serra, município de 2 mil habitantes nos Campos de Cima da Serra, que faz divisa com Santa Catarina. O último caso ocorreu recentemente e chamou a atenção pelo inusitado, quando o produtor rural Paulo César Piardi, 48 anos, não poupou esforços para recuperar a vaca que havia sido presente de seu falecido pai.
O animal da raça charolês sumiu, junto com um terneiro, de sua fazenda localidade de Porteira do Pinhal, na divisa com Esmeralda, em maio. Durante suas andanças pela região, Piardi reconheceu o bicho e acionou a Polícia Civil. Para comprovar que a vaca era sua, o pecuarista pagou por um exame de DNA que foi feito em Araçatuba (SP). O resultado, divulgado neste mês, comprovou o vínculo genético alegado pelo produtor rural. A Polícia Civil, assim, restituiu os animais ao legítimo proprietário. A produtora foi indiciada pelo crime de receptação.
Confira a entrevista com Piardi, o dono dos animais furtados:
Como achou a sua vaca?
Essa propriedade fica a uns 16 quilômetros da minha, só que planto em áreas arrendadas próximo das delas (da produtora que foi indiciada por crime de receptação). Foi assim que avistei o animal e não tive dúvida nenhuma. Contei a história para esta produtora, mas ela disse que tinha comprado de um outro produtor e se negou a conversar. A vaca, inclusive, já estava com o sinal desta produtora. Mas eu tinha certeza, pois conhecia esta vaca desde pequena. Foi um presente do meu pai há nove anos. Ela não tem nenhuma marca aparente (para reconhecimento), por isso entendo que a juíza ter negado o primeiro pedido. Por isso busquei essa prova genética, pois tinha outro filhote (desta vaca) e também o pai do terneiro que foi levado junto.
Como foi feito este exame de DNA?
Procurei um veterinário, que coletou o material e encaminhou junto com a Polícia Civil. Foi tudo em envelope lacrado, carimbado e timbrado. Gastei em torno de R$ 2 mil, que seria o mesmo valor de uma vaca nova. Só que gastaria até 20 vezes mais porque é uma vaca com valor sentimental, que meu pai, falecido, me deu. Também queria comprovar que tinha sido furtado, para ver se um dia termina essas coisas (furto de animais).
Há muito abigeato na região?
Acontece bastante. Nos últimos anos, foi uma meia dúzia. Não é uma por ano, mas às vezes levam duas, no outro ano levam três e tem ano que não furtam nenhuma. Estou falando só das minhas, mas nos vizinhos também acontecem. É uma incomodação e um medo, né? Ficamos com receio do que mais pode acontecer.
Qual o sentimento com o desfecho do caso?
É uma alegria muito grande. Tanto pela vaca, com o valor sentimental que tem para mim, mas também pelo fato de esclarecer um crime. Talvez, com isso, consigamos inibir um pouco este tipo de ato na região. Resolvendo um caso assim, a vizinhança e toda a população ficam sabendo. A Polícia Civil não mediu esforços, foi nota 10.