A saída de filiados do Solidariedade (SD) para ingressar no PSDB e o consequente anúncio de apoio à pré-candidatura de Adiló Didomenico (PSDB) a prefeito e de Paula Ioris (PSDB) a vice-prefeita, bem como o fato de o deputado Neri, O Carteiro manter em seu gabinete na Assembleia Legislativa cargo em comissão filiado a outra sigla, pode resultar na intervenção da executiva estadual do partido em Caxias do Sul. Também é cogitado ingressar na Justiça para pedir o mandato de Neri alegando infidelidade partidária.
O secretário-geral do Solidariedade no RS, Carlos Alberto Varreira, enviou nota ao Mirante com as informações referentes às medidas que devem ser tomadas. O encaminhamento será definido em uma reunião por videoconferência na sexta-feira (22), a partir das 10h. Se for aprovada a intervenção, "qualquer acordo realizado não terá validade para o pleito que se aproxima", consta na nota.
Na janela partidária para trocas de siglas, seis meses antes da eleição, a vereadora Tatiane Frizzo deixou o SD e foi para o PSDB. Desta forma, o partido ficou sem bancada no Legislativo caxiense. Tatiane era suplente e se tornou titular na Câmara de Vereadores com a renúncia de Neri para ocupar a vaga na Assembleia. A jornalista Marisol Santos, que era assessora de imprensa de Neri e passou a ocupar o cargo de chefe de gabinete, também teve o mesmo rumo partidário. O SD em âmbito estadual vai apurar quantos deixaram o partido, especialmente pré-candidatos a vereador, e foram para o partido do governador Eduardo Leite.
Em 5 de abril, quando anunciou que não seria candidato a prefeito, Neri disse que trabalha para ser candidato a deputado federal em 2022 e admitiu que pode ir para o PSDB.
A nota do secretário-geral
"O Solidariedade sempre teve diretrizes claras com suas lideranças e filiados, estabelecidas não apenas no convívio do partido, mas nas nossas convenções. Nas eleições de 2018, mesmo com a possibilidade de coligações, deliberamos e tomamos a decisão de enfrentar o pleito visando à Assembleia Legislativa sozinhos. Enfrentamos a eleição com um grupo motivado em converter cada voto de confiança dado ao Solidariedade, nos nossos candidatos ou na legenda, em um tijolinho para a construção de uma bancada capaz de representar a todos – quem se candidatou e, principalmente, todas as bases que apostaram em nossa proposta com o seu voto.
Foi com o suor de todos que conquistamos uma cadeira, sendo o deputado Neri, o Carteiro, mais votado, o titular. Na condução do mandato, entretanto, em mais de uma ocasião o voto do Solidariedade no parlamento gaúcho pareceu estar na contramão das nossas bandeiras mais primordiais, como a defesa dos direitos dos trabalhadores, o não aumento de impostos e juros, geração de emprego e a valorização do serviço público.
Da mesma maneira, a manutenção de cargos de confiança filiados a outros partidos políticos soa como um recado amargo a todos aqueles que caminharam lado a lado, que investiram tempo, esforço e muito trabalho para consolidar um projeto coletivo.
Não podemos aceitar que outros partidos componham o gabinete do deputado. Estimular ou acatar filiações no PSDB é uma postura que, para nós, tem adjetivos compatíveis com espanto e decepção; para a Justiça Eleitoral, é infidelidade partidária, que pode incorrer em perda do mandato."
Argumentos para a reunião
:: O Solidariedade não será rebaixado à condição de trampolim para políticos que, a cada mandato, optem pela troca de partido por conveniência pessoal.
:: O deputado deverá responder pela conduta antiética e posturas contrárias à legislação vigente. Temos respeito pela sua trajetória no Solidariedade e não almejamos o seu fim, mas não mediremos esforços e buscaremos assegurar tudo o que foi firmado em convenção junto à Justiça.
:: O Solidariedade de Caxias do Sul passará a estar sob intervenção da Executiva Estadual, portanto, qualquer acordo realizado não terá validade para o pleito que se aproxima.
:: Reiteramos que o Solidariedade se baseia no bem comum – não em utilizar os esforços comuns em favor de alguns. A representação na Assembleia Legislativa foi deliberada antes da eleição e conquistada, em conjunto, por todos. Não aceitaremos nem seremos coniventes com posturas que refletem o toma-lá-dá-cá e os conchavos que estão entre o que de pior existe na política. Posturas como esta nos envergonham, são repelidas pela sociedade nos dias atuais e nós, enquanto partido alinhado à renovação, não seremos negligentes.
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