Em 2009, Satoshi Nakamoto publicou um artigo em que estabelece as diretrizes da criptomoeda, o tal dinheiro digital, em um grupo de discussões chamado The Cryptography Mailing. No mesmo ano, lançou a rede Bitcoin que começa a emitir as primeiras criptomoedas.
O texto de Nakamoto, um pseudônimo (até hoje motivo de especulação e investigação de sua real identidade) descrevia o funcionamento da moeda digital e o sistema que posteriormente passaria a ser chamado de “blockchain”, um software onde ficam registradas todas as operações e pode ser operado e visualizado por qualquer pessoa.
No artigo de Nakamoto, foi estipulado que haverá no máximo 21 milhões de bitcoins em circulação. A expectativa é que ocorra a liberação de uma nova remessa da criptomoeda em maio de 2020. Se mantiver a média de uma nova remessa desse dinheiro digital a cada quatro anos, o Bitcoin deixará de ser “minerado” (de forma digital) em 2140.
– Esse sistema decentralizado, o blockchain, dá segurança para que ele continue rodando. Desde a primeira transação, em 2009, a identificação é feita por uma carteira de 24 caracteres. Todas as transações são transparentes e rastreáveis. O que dá segurança nessa troca de ativos, dentro dessas carteiras, é o próprio sistema do blockchain. Ele funciona com base nessa criptografia, que quando ela é quebrada, registra a transação dentro do sistema, de maneira pública e irreversível. Então, o lastro e a garantia, são o próprio sistema em si – explica Gustavo Chamati, 38, sócio fundador, ao lado do irmão Maurício, da Mercado Bitcoin.
A empresa é uma fintech (startup do sistema financeiro) nascida em 2013, e que hoje é a exchange (plataforma online que facilitam a compra, a venda e a troca de moedas) de criptoativos e ativos alternativos mais importante da América Latina.
Moedas digitais
Uma mentalidade analógica ainda resiste a um mundo sem moedas físicas.
– No mundo todo se trabalha para que se crie uma legislação, que permita que essa tecnologia nova coexista com o mercado financeiro regulado, sem que você iniba o avanço e utilização dessa tecnologia – explica Gustavo Chamati.
Tramitam na Câmara dos Deputados, o projeto de lei 2303/2015, e, no Senado, PL 3.825/2019, cuja matéria está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), onde aguarda apresentação de emendas.
– Claro que isso não vai acontecer de uma hora para a outra. Mas, muito por conta do trabalho que a gente fez, e porque temos pessoas muito capacitadas no Banco Central, que entendem e pretendem regular a tecnologia de uma maneira a não inibir o crescimento dessa nova tecnologia no Brasil. Acreditamos que é questão de tempo para a regulamentação – aposta Chamati.
Volume crescente, mas ainda oscilante
Na última quinta-feira, a cotação de 1 bitcoin, no Brasil, estava em R$ 40.564,70. No mundo todo, o total investido é de R$ 1 trilhão. Em comparação ao mercado de ações é um valor insignificante, mas já é expressivo.
Só para citar, a NYSE (The New York Stock Exchange), criada em 1792, e que fica em Wall Street, em Nova York, totaliza mais de US$ 20 trilhões.
Assim como todo o mercado, sempre que há um novo produto, a avalanche de especulação tende a tornar a rentabilidade mais oscilante.
No decorrer de 2017, o bitcoin valorizou 1.950%, saindo de US $ 974 a US $ 20 mil no espaço de um ano. No entanto, ao longo de 2018, o bitcoin teve um ano de queda, com os preços despencando mais de 80% em comparação com seu recorde histórico de US$ 19.783, em dezembro de 2017.
Credibilidade é moeda de valor inestimável
Aproveitando as ondas de alta e a crescente popularização das criptomoedas é que surgem os ditos trapaceiros. Não raro, infelizmente, encontram-se pessoas que perderam seus investimentos por acreditarem em altíssimas taxas de rentabilidade.
– A principal questão é separar com clareza as coisas. O Bitcoin é uma tecnologia rodando há mais de 10 anos, sólida e que nunca foi fraudada. O que a gente vê, como vários outros casos de mau uso da tecnologia ou da narrativa usada para convencer quem quer investir, como foi o boi gordo e os precatórios, e tantos outros casos de fraude no país, a narrativa de ganhar muito dinheiro acaba por ser muito sedutora. Então, pessoas má intencionadas, acabam criando falsas narrativas, inventando moedas, e dizendo que vai valorizar tanto quanto o bitcoin, e a pessoa sem informação cai nessa história e envia seu dinheiro para essa pessoa ou para uma instituição pouco conhecida, ou que nem sequer está vendendo bitcoin para esse cliente – rebate Chamati.
Quem pode entrar no mercado bitcoin?
Pessoas físicas ou jurídicas podem operar com criptomoedas, bastando fazer um cadastro simples e começar a operar. A sugestão dos analistas financeiros é procurar instituições sólidas, com bom histórico e de preferência com sede física, para intermediar essas transações.
– Nós temos 8 milhões de clientes, que estão aptos a operar a todo momento. Nem todos estão ativos. Mas, pelo menos 50% desses cadastros já operaram conosco em algum momento. Nosso perfil é composto essencialmente de pessoas físicas, pelo menos 90%. Esse perfil é mais masculino, de pessoas entre 20 a 40 anos. Temos desde clientes que acreditam e usam o bitcoin como investimento, como reserva de valor, para diversificar a carteira e o portfólio, até pessoas que usam como meio de pagamento para qualquer parte do mundo, e pessoas que são traders (investidores que compram para especular e vender, nem que seja no mesmo dia), que usam como ativo de especulação – explica Gustavo Chamati.