Preocupados com a possibilidade de novos alagamentos e ainda se recuperando do prejuízo causado pela chuva do último 25 de dezembro, moradores do bairro São Leopoldo, em Caxias do Sul, realizaram um abaixo-assinado pedindo melhorias na estrutura para escoamento de água na região.
O documento, organizado pela associação de moradores (Amob), reuniu 513 assinaturas e foi encaminhado ao secretário de Obras e Serviços Públicos, Leandro Pavan. Conforme o presidente da Amob, João Otávio Mendes, a forte chuva que atingiu o bairro na tarde de Natal alagou vários pontos do bairro, algumas casas e danificou vias.
Na avaliação dele, os estragos aconteceram porque a rede de drenagem da área não tem capacidade suficiente para atender ao bairro. No pedido que acompanha as assinaturas, a Amob enumera os trechos mais críticos. Todos ficam entre as ruas Natal Bonadeo e Emanuel Boniatti, a oeste da Avenida São Leopoldo. A região é cruzada por pequenos cursos de água que desembocam no Arroio Pinhal.
De acordo com Mendes, pelo menos quatro famílias tiveram prejuízos com alagamentos. Na Rua Carlos Mauri, a chuva destruiu partes do calçamento; na Rua Emanuel Boniatti, a água chegou a invadir a Escola Estadual de Ensino Fundamental Profa. Maria Luiza Rosa e, na Rua Natal Bonadeo, um deslizamento de terra deixou uma família desabrigada.
Quem vivia na casa que teve de ser desocupada é o metalúrgico Sérgio Ribeiro dos Santos, 42. Ele diz que estava no local na tarde do Natal quando, por volta das 16h, a água fez com que parte do solo se deslocasse. A terra atingiu as paredes da sala de do banheiro do imóvel onde vivia Santos, a mulher e uma filha. A estrutura da casa, de tijolos, resistiu, mas ele foi orientado pelos bombeiros a deixar o local.
— Na hora deu um susto, imagina? A minha esposa mora ali há 48 anos e nunca tinha acontecido isso. Agora é um lugar de risco. Os moradores da parte de cima (da rua) estão com rachaduras nas casas. Nos mudamos com ajuda da prefeitura e agora estamos pagando aluguel — relata.
Assembleia discutirá a situação
A solução para a área seria a construção de um muro de contenção. Como a estrutura teria que ser erguida em área particular, porém, o morador Sérgio Santos diz que os próprios moradores teriam de arcar com a estrutura, com custo estimado de cerca de R$ 30 mil.
— Não temos condições, não tem nem como chegar material, é um "valão" que desce ali. Quando aquilo enche, fica um mau cheiro, com ratos. É um lugar complicado — reclama.
No abaixo-assinado, os moradores solicitam a limpeza do Arroio Pinhal, que está com resíduos acumulados, e providências para a desobstrução da rede ou aumento das caixas adutoras. O presidente da Amob também espera que o Secretário de Obras compareça à assembleia extraordinária da Amob, marcada para a noite desta quinta-feira (24), para discutir a situação.
Prefeitura não tem soluções para o problema
O Secretário de Obras e Serviços Públicos, Leandro Pavan, afirma ter recebido a demanda dos moradores. Ele diz que o Arroio Pinhal, que segue pela região sul da cidade pela BR-116, após a Avenida São Leopoldo, será limpo. O trabalho é feito periodicamente, conforme Pavan, mas a população continua descartando o lixo inadequadamente.
— O pessoal joga muito lixo na rua. Os moradores pediram auxílio e vamos limpar. Às vezes, tem até sofás, geladeiras, tem de tudo. Mas a limpeza ali ajuda por conta dos mosquitos, questão de saúde. Para alagamentos, é mais eficiente retirar pedras que se acumulam, mas isso já fizemos há pouco tempo — aponta.
As informações não são animadoras para os moradores atingidos pela chuva. Pavan diz não haver uma solução prevista para o problema. O secretário explica que, em caso de chuvas muito intensas, as galerias subterrâneas construídas ali realmente não dão conta, devido ao processo desordenado de ocupação da área.
— Foram construídos casas e até prédios em cima dessa galeria. Hoje, não pode mais, mas antigamente se fazia. Por isso, não dá para ampliar essa estrutura. Toda a água da região da prefeitura, do Parque dos Macaquinhos, desce pela Avenida São Leopoldo. Antigamente, tinha aqueles banhados, açudes naturais, que reservavam a água. Hoje, não tem mais nada. Tem porões de casas que, se der alguma chuva nesse nível, infelizmente vai inundar de novo — projeta.
Conforme o secretário, problemas similares que eram registrados na zona norte da cidade foram resolvidos pela construção de tanques de contenção, em terrenos públicos. Porém, a área do São Leopoldo não tem áreas disponíveis para esse tipo de empreendimento.
— Teria que retirar essas casas e prédios. Mas, na prática, não vai ser possível nunca. Seria mais barato tirar as pessoas dali. É um problema urbanístico antigo de Caxias. Não foi pensado lá atrás e agora a gente colhe os frutos — reforça.
Pavan diz não ter sido informado sobre a reunião dos moradores do bairro, mas afirma que a secretaria atende pessoalmente moradores às terças-feiras à tarde e pode verificar ali problemas pontuais.
No último domingo, obras de substituição de rede de drenagem foram realizadas em parte da Avenida São Leopoldo. A via vai receber recapeamento asfáltico de 1,3 quilômetros. A área, porém, não é a mesma que foi afetada pelos alagamentos.
— Nessa semana, o nosso pessoal até entrou ali (nas galerias), para verificar se tinha algum desmoronamento, que poderia ter provocado os alagamentos. Mas foi realmente o volume de água. Tem galerias que dá para passar um caminhão por dentro, e ficaram cheias — justifica.