Um furacão midiático que tomou conta do Brasil em setembro de 1983 teve a participação de Paulo Cancian, morto nesta quinta-feira. Naquele mês, Cancian e os colegas de redação do Jornal Pioneiro Ibanor Sartor e Jânio Medeiros descobriram que uma equipe do Fantástico estava na cidade para entrevistar Laudelino Fô. Morador de Caxias do Sul, Laudelino era apontado como sendo o menino Carlos Ramires da Costa, o Carlinhos, garoto sequestrado 10 anos antes no Rio de Janeiro e jamais encontrado. A cobertura eletrizante do caso é uma das pistas de como o profissional se tornou referência para diversas gerações.
A Rede Globo entrevistaria Laudelino numa segunda-feira para levar o programa ao ar no domingo seguinte. Cancian, Sartor e Medeiros tinham menos de uma semana para levantar o furo jornalístico. E descobriram. A história foi vendida para o Grupo Bloch e ao Jornal do Brasil. Logo, Laudelino Fô viajou de jatinho ao Rio de Janeiro. Durante dias, o país inteiro ficou petrificado diante da possibilidade de desfecho do grande mistério da crônica policial brasileira. Apesar de a mãe de Carlinhos ter reconhecido Laudelino Fô como filho, exames não comprovaram que o morador de Caxias e o menino desaparecido eram a mesma pessoa; o resto, é história.
Mais do que contador de histórias, Cancian era visto como um amigo preocupado com a condição dos colegas de categoria e com o próprio mercado. Passou por vários veículos de comunicação e esteve envolvido, por exemplo, na criação da UCSTV, do Centro de Teledifusão Educativa (Cetel) de Caxias do Sul e da UCS FM.
— Eu definiria o Cancian como uma usina de ideias. Muitas dessas ideias se transformaram em projetos, foram realizadas. Ele nunca foi dono, mas muitas empresas de jornalismo que surgiram na cidade tiveram o envolvimento dele. Era dono de um coração amazônico, ansiava por criar vagas para colegas. Assim, virou mestre para muita gente — conta Ibanor Sartor.
Para Vasco Rech, um dos primeiros fotojornalistas da história de Caxias, Cancian era um irmão:
— Era honesto, competente. Onde passou, foi um jornalista fora de série. Lembro que ele começou a carreira no Correio do Povo. Era relações públicas na Expresso Caxiense e o Britto (ex-governador Antônio Britto) procurava alguém para trabalhar na sucursal. Eu e o Mário Gardelin (historiador) demos o aval. Não parou mais — relembra Rech.