Há cerca de seis anos estabelecidos em Caxias do Sul, os moradores do loteamento Villa-Lobos José Luceno Belem, 50 anos, e Teresinha Belem, 42, afirmam que pouca coisa mudou na vida deles nesse tempo. A perspectiva é diferente quando o assunto é política. Desde que o Pioneiro passou a acompanhar o casal, há quatro anos, para registrar as expectativas de uma família de brasileiros diante das eleições de 2014, muita coisa aconteceu: a presidente da República eleita, Dilma Rousseff, sofreu impeachment, escândalos de corrupção resultaram expostos e um ex-presidente e parlamentares foram presos por corrupção.
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— Quem imaginava que isso tudo ia acontecer (desde a primeira visita do Pioneiro)? Olha o tumulto que está tudo isso aí... — comenta José, entre um gole de chimarrão e outro, confortável em sua casa, ainda em fase de construção.
Desde que chegou na cidade, o casal, que tem quatro filhos, tenta concluir a moradia, mas a crise que afetou o país reduziu o poder aquisitivo e os forçou a reorganizar as prioridades de gastos.
— Tudo ficou muito caro. A comida está cara, a gasolina e o próprio trabalho ficou mais difícil porque tenho que repassar esse preço (da gasolina) no orçamento para os meus clientes.
E acrescenta:
— A gente chegou a um limite, tem que mudar. Se para nós, pobres, não mudar, estaremos todos lascados. Se eu chegasse em Caxias hoje, não teria condições de me estabelecer como foi há seis anos — lamenta.
Embora não se diga surpresa com o "estouro" dos escândalos políticos, a preocupação com a situação econômica é reverberada pela mulher.
— A passagem do ônibus está muito alta. Pego quatro (ônibus) por dia. São quase R$ 16. A saúde também está uma bagunça. Ninguém está satisfeito. Tem que melhorar em tudo. Quero terminar minha casa. Estamos lutando desde que chegamos (em Caxias) e não conseguimos — relata Teresinha, que trabalha como diarista.
Para ela, o anseio pela mudança é também a grande expectativa com o novo governo que assumirá:
— A gente tem que esperar que entre alguém que roube menos. Esse é o nível de exigência que chegamos, infelizmente. Mas é melhor votar em alguém do que votar em branco. Melhor sentir mal por errar do que se omitir — defende Teresinha.
Apesar de ter esperanças renovadas, José ressalta estar preparado caso a opção que escolheu se eleja e se revele uma decepção:
— Se errarmos, a gente não tem muito o que fazer, mas, nesse tempo, o povo aprendeu a força que tem... Sei que um dia um político bom vai aparecer. Eu não afrouxo, não desisto. O troço já está ruim, agora se você desistir, só piora — conclui.
Divergências políticas na família
Sobre o candidato à Presidência, José afirma que a família adotou escolha unânime. Já para governador...
— Nós batemos boca por causa de política, às vezes. Um torce para um lado e outros, pro outro.
Apesar disso, de acordo com o autônomo, o debate é saudável e não há brigas de fato.
— Todos os sábados e domingos, junto minha filharada em casa. Como cada um trabalha para um lado e conversa com gente diferente, todos têm opinião diferente. Daí quando se junta todo o pessoal aqui, a gente junta todas essas opiniões e não tem como evitar as discordâncias — complementa.
Tanto José quanto Teresinha admitem que pouco se inteiraram das propostas dos candidatos por acreditarem que nenhum deles as cumpre. Por isso, alegam que guiaram suas escolhas pelo desejo de mudanças. O modo de consumo de informações políticas também mudou ao longo dos quatro anos em que o Pioneiro acompanha o casal:
— Até eu que não gostava de celular hoje que aprendi a mexer vejo tudo por aqui. Principalmente nessa época, chega muitas notícias pelo Whatsapp — afirma José.
Pelo futuro próspero da família
José e Teresinha têm quatro filhos: Matheus, 22 anos, Mayara, 21, Mariana, 18, e Gustavo, 16. Todos, com exceção de Gustavo, estão empregados, mas somente Matheus tem carteira assinada. O jovem é empregado na Randon, há cerca de um ano. Mayara e Mariana trabalham em um salão de beleza.
— A Mayara se graduou em Administração há três anos, mas não consegue nada desde então. Quando tenta alguma vaga, falam que precisa de experiência, mas como ela vai ter experiência se não dão oportunidade? Acho que o governo poderia criar algo para ajudar os jovens a conseguir trabalho — sugere Teresinha.
No final das contas, os sonhos do casal para os próximos quatro anos se resumem a um só: o bem-estar da família. Para isso, no entanto, o casal acredita que é essencial que os governos se aproximem mais da população e, de fato, exerçam os papéis que deveriam assumir em teoria:
— Eles (os políticos) precisavam ficar um dia que fosse na nossa pele entender o valor do trabalho e saber as dificuldades que passamos...
O QUE MUDOU
2014
:: Renda do casal:
Cerca de R$ 4,9 mil. José trabalhava como carpinteiro e ganhava em média R$ 4 mil. Teresinha como diarista recebia salário médio de R$ 900.
:: Casa:
Incompleta. José iniciava fechamento da garagem e um novo acesso.
:: Carro:
José tinha um Celta (ano 2004), que pretendia trocar por uma Parati.
:: Filhos:
Os quatro filhos moravam com o casal. Na época, Matheus trabalhava como operador de máquinas numa empresa em Galópolis. Já Mayara era estagiária da UBS Villa-Lobos. Gustavo e Mariana estavam estudando.
2018
:: Renda do casal:
Oscila, pode variar de R$ 4 mil a R$ 6 mil. A renda é dependente dos trabalhos conseguidos por José, que hoje atua de forma autônoma como construtor.
:: Casa:
Ainda incompleta. José construiu novo cômodo e está em processo de implantação de um outro acesso. As áreas foram modificadas.
:: Carro:
José adquiriu uma S-10 (ano 1999), que utiliza principalmente para o trabalho. Afirma que gostaria de trocá-la.
:: Filhos:
Apenas Gustavo e Mariana moram com o casal. Matheus trabalha na Randon, Mariana e Mayara em um salão de beleza. Gustavo está no 9º ano do Ensino Fundamental e sonha em ser jogador de futebol.