Além de causar danos em residências, desabrigar pessoas e provocar duas mortes o tornado que atingiu Vila Oliva no ano passado também prejudicou os negócios do distrito. A dimensão dos prejuízos pode ser exemplificada pela oficina mecânica de Luiz Carlos Portolan, 50. Mesmo com paredes de concreto e vigas de ferro, o imponente pavilhão veio abaixo há exatamente um ano.
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— Sobrou só o piso. Cheguei e vi tudo no chão, com as máquinas dentro e tudo debaixo dos escombros. Na hora, não dá nem para saber o que fazer. Levamos uns três meses para reabrir, mas vamos levando — conta Portolan, que toca há cinco anos o estabelecimento com o filho.
A dificuldade foi ainda maior para a família Palandi, que mantém uma propriedade rural próxima ao núcleo do distrito. A prefeitura de Caxias estima que o tornado foi responsável por um prejuízo de R$ 6 milhões de reais, entre serviços públicos e perdas econômicas. Desde valor, R$ 2,5 milhões constituem perdas na agricultura.
No núcleo urbano, quase não há quase marcas do tornado, mas na propriedade da família o rastro ainda é evidente: o vento ergueu toda uma faixa de vegetação. Ainda é possível ver araucárias com metade da copa arrancada e outras plantas retorcidas. A casa da família e pelo menos sete construções também ficaram pelo caminho do fenômeno.
— Tínhamos sete casas, com alojamento e refeitório para os funcionários. Só conseguimos refazer o pavilhão principal e a nossa casa — conta a proprietária Márcia Ebertz, 41.
Hoje, o pavilhão abriga a câmara fria para as frutas e vegetais plantadas ali e a estrutura para o transporte dos produtos. Márcia acredita que a família já tenha gastado cerca de R$ 1 milhão para restabelecer os negócios. Uma das vítimas do tornado, o jovem Émerson Cavalheiro de Moraes, 20, era funcionário do local. A casa onde ele vivia desabou e ele faleceu no hospital. Natural de Jóia, no noroeste do Estado, ele estava em Caxias para trabalhar na colheita da maçã.
Conforme Márcia, a empresa, que mantém 20 funcionários fixos e costumava contratar 100 trabalhadores para as safras, não acredita que o negócio retorne ao tamanho anterior à tragédia.
— Tínhamos arrendado terras para o cultivo e devolvemos. Não tem mais como manter os trabalhadores. Acho que nem voltamos mais para o tamanho que Tínhamos — aponta.
Dona Solange ainda precisa de ajuda
No meio de toda a destruição, uma estrutura permaneceu em pé após o tornado: a estátua de Santo Expedito, logo na entrada da via principal do distrito.
— Tinha uma garrafa com água ao lado do santo, que nem saiu dali. Não é de se impressionar? É para ver como ele é poderoso — aponta a aposentada Solange de Souza Pinto, 63, que faz a manutenção da imagem desde que ela foi transferida da igreja, há cerca de dois anos.
A diligência característica de Solange se manteve no dia da tragédia. Sua casa foi parcialmente atingida, mas, pela localização da residência, virou um centro improvisado de ajuda as pessoas.
— A gente ia tirando água e trazendo as pessoas que se machucaram para cá. Até vir o socorro. Depois, como não dava para passar pela rua, a casa encheu de doações, que as pessoas iam buscando.
Na confusão, porém, diz que não pôde assegurar doações para a própria família.
— Eu procurei ajudar as pessoas e acabei largando a minha casa. Ganhamos algum material, mas a maioria acabamos comprando. Ainda tem que arrumar muitas coisas e acumulamos dívidas. Contamos só com o nosso salário, e estamos sempre no vermelho — lamenta.
Solange afirma que até até chegou a procurar ajuda junto à associação de moradores e à prefeitura, mas não obteve retorno.
— O meu carro estava estacionado ali fora. Ficou ali. Os meus móveis são os mesmos, estão caindo por causa da umidade. O meu marido cuidava do material, mas a gente foi dando para os outros e no fim acabamos sem nada. Mas seguimos com a vida, do jeito que dá — conclui.
Falta de sinal de celular deixa distrito desprotegido
Após o pânico inicial, chamou a atenção da comunidade o empenho e a cooperação entre os envolvidos para a recuperação do distrito. Segundo o secretário municipal de Obras e Serviços Públicos, Leandro Pavan, o volume de doações recebidas surpreendeu.
— O município não investiu muito em materiais, mas em mão de obra e maquinários para a limpeza. Foram recebidas muitas doações, portas, janelas, tijolos... Veio até de outros estados — lembra.
Quem ficou responsável pela distribuição dos materiais foi a Associação de Moradores e Amigos de Vila Oliva (Amavo). André Todescato, presidente da entidade, desenvolveu um sistema para tentar garantir que as doações chegassem às mãos certas.
— No inicio foi difícil, começou a vir muita coisa, roupas, alimentos. Ninguém imaginava que ia vir tanta coisa. Começou a ficar meio bagunçado no pavilhão (da igreja). Depois começamos a visitar as famílias, perguntando o que precisavam, e colocamos no site da prefeitura essa lista de itens necessários. Aí as pessoas que doavam já podiam escolher o que destinar — explica.
Hoje, conforme a o secretário de Obras, a única pendência é a destinação dos entulhos recolhidos, que atualmente aguarda definição da Secretaria do Meio Ambiente.
No decorrer dos trabalhos, porém, um grande problema veio a tona: a ausência de sinal de celular. Com a queda de postes, uma das únicas linhas de telefone fixo que funcionava era a da casa de Todescato, que virou uma espécie de central.
— Ficava todo mundo isolado. Às vezes uma ligação de 30 segundos poderia resolver um problemão, e não se conseguia. É um problema grave para todo o interior de Caxias. Isso é horrível, se alguma pessoa passa mal, dá algum acidente, não dá nem para chamar uma ambulância — reclama o secretário de Obras.