Juliano Vieira Pimentel de Souza, 31 anos, preso na tarde da última quarta-feira e que confessou ter raptado, estuprado e matado Naiara Soares Gomes, 7 anos, que estava desaparecida desde o dia 9 deste mês em Caxias do Sul, é natural de Vacaria, mas morava já há anos em Caxias. Há cerca de seis meses mudou-se com a mulher para uma casa alugada no bairro Serrano - dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Na garagem, guardava o carro comprado recentemente: um Palio branco, que norteou toda a investigação da Polícia Civil sobre o caso.
O aluguel no novo endereço foi tratado direto com os donos, "de boca" (sem contrato), e os R$ 400 sempre foram pagos rigorosamente em dia. Segundo a polícia, mantinha o mesmo emprego de operador de máquinas desde 2013, com conduta profissional irrepreensível.
— Era uma pessoa que tinha uma vida muito regrada no tocante ao trabalho, excelente servidor na empresa em que trabalhava. Desde 2013 trabalhava nesta empresa. Só a criminologia pode explicar o porquê dele pegar as meninas. São dois casos, mas não descartamos outros — disse o delegado regional da Polícia Civil, Paulo Roberto Rosa da Silva.
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À época do sumiço de Naiara, ele trabalhava das 17h às 2h. Na semana seguinte, conseguiu transferência para o turno diurno.
Sem suspeitas também era a vida dele em casa com a mulher e na comunidade — eles não têm filhos. Vizinhos relataram que era "uma pessoa trabalhadora".
— Nós ficamos apavorados. Estamos até agora. Nunca desconfiamos. Ele não demonstrava — disse uma moradora.
Ninguém percebeu movimento de crianças na casa onde ele mora. Tanto que crianças pequenas, filhos de vizinhos, frequentavam a moradia.
— Eu ia na casa com minha netinha conversar com a mulher, que gosta muito de criança. Até agora (quarta-feira), a gente não acredita — contou uma moradora da redondeza.
— Aparentemente, pessoa boa. Não via nele nada de diferente, que fosse maldoso. Mas, começa a passar um monte de coisa pela cabeça... que poderia ser minha filha. A gente não pode, realmente, confiar em ninguém — acrescentou uma vizinha que tem duas filhas, uma de oito e outra de um ano.
O proprietário de um estabelecimento próximo, do qual Souza era cliente, também afirma desconhecer detalhes sobre a vida dele. Ainda assim, comenta que pessoas que pegavam ônibus com o homem para ir ao trabalho passaram a suspeitar do seu comportamento nas últimas semanas.
— Ele vinha aqui (no estabelecimento), mas nunca entrou em detalhes sobre a própria vida. Parecia uma pessoa tranquila. Mas os caras que pegavam o ônibus com ele me contaram que ele estava agindo de um modo muito estranho e tinha até pedido para ser transferido de turno — relata.
Para os demais vizinhos, prevalecia o tom de surpresa, embora todos os abordados pela reportagem assegurassem pouco saber sobre a intimidade do autor confesso.
— Era bem discreto. Só víamos saindo ou chegando em casa ou fazendo trabalhinhos no próprio terreno, como cortar a grama. É chocante. Não imaginamos que uma pessoa dessas possa estar na porta ao lado — ressaltou outro empresário das imediações que preferiu não se identificar.
A mulher de Souza mudou para outro local e a casa onde morava o casal foi desmanchada por iniciativa dos donos na última sexta-feira. A polícia disse, à reportagem, que o imóvel havia sido liberado depois do levantamento feito ainda no dia da prisão. Em depoimento, a mulher falou que desconhecia os crimes confessados pelo marido.
Inicialmente, Souza foi levado para o Presídio Regional de Caxias, mas foi transferido no dia seguinte para uma outra penitenciária do Estado.
Segundo o delegado que conduz o caso, Caio Márcio Fernandes, "a ideia é fechar o inquérito anterior" sobre o abuso que ele confessou ter cometido em outubro do ano passado contra uma menina que à época tinha oito anos.
— Mas, possivelmente, num prazo não muito distante um do outro, concluiremos também o da Naiara — disse o delegado.
Ao concluir o primeiro procedimento, a polícia pedirá a prisão preventiva, o que deve garantir que ele fique preso até o julgamento.
Souza deve ser indiciado por estupro de vulnerável, homicídio qualificado (as qualificadoras ainda serão determinadas conforme a causa da morte) e ocultação de cadáver. A pena é aumentada por se tratar de vítima criança.
Após o caso de 2017, o Instituto-Geral de Perícias fez um retrato falado do suspeito com base na descrição da vítima. Porém, não houve denúncias a partir da divulgação, mesmo Souza tendo uma característica física peculiar, o estrabismo.