Os 11 dias sem informações sobre Naiara Soares Gomes, sete anos, intrigam a comunidade de Caxias do Sul. Desde seu desaparecimento no bairro Esplanada quando seguia sozinha para a escola, a menina se tornou o principal assunto na cidade. A curiosidade e a preocupação das pessoas com o caso fez com que se espalhassem dezenas de boatos pelas redes sociais. A Polícia Civil alerta que, além de atrapalharem a investigação, as informações falsas podem prejudicar pessoas que não tem relação com o caso.
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A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DCPA) continua seu trabalho sigiloso e minucioso de levantamento de dados e confronto de versões. A falta de imagens, testemunhas e suspeitos de um possível rapto são as dificuldades enfrentadas.
— Trabalhamos diuturnamente e estamos em diligências de campo. Tudo é de cunho sigiloso, pois estamos em uma situação bastante delicada e não podemos de forma açodada fazer suposições falsas. Verificamos todos os fatos para alcançar um resultado positivo ou para descartá-los — resume o delegado Caio Márcio Fernandes.
Na tarde de ontem, o relato divulgado em uma rede social de uma menina encontrada em uma estação de ônibus no Rio de Janeiro foi relacionado ao caso Naiara. A DPCA, no entanto, descartou a hipótese.
— Em princípio, a foto não confere. Não há características físicas semelhantes com as da Naiara — afirma Fernandes.
MITOS QUE SURGIRAM COM O CASO NAIARA
:: Há outras crianças desaparecidas em Caxias do Sul?
Não há nenhum outro caso de rapto de criança ou adolescente em Caxias do Sul. Também não há nenhum outra criança desaparecida há vários dias. A Polícia Civil aponta que desaparecimentos de crianças com 10 anos ou menos são raros no município e região. A maioria dos casos que chegam na Delegacia de Proteção à Criança ou Adolescente (DPCA), o que inclui vítimas até 17 anos, envolve jovens usuários de drogas ou disputas de guarda na família. Esses desaparecimentos, que não são semelhantes ao caso de Naiara, costumam ser resolvidos em poucos dias. Como os motivos desses sumiços são conhecidos e envolvem problemas particulares, as famílias pedem que os casos não sejam divulgados na imprensa.
:: Houve tentativas de rapto em outras escolas?
Esse é um boato que se espalha pelas redes sociais e já apareceu com o nome de diversas escolas de bairros diferentes de Caxias do Sul. Em outubro do ano passado, houve sim o rapto de uma menina que estava a caminho de uma escola no noroeste da cidade. A menina de nove anos estava sozinha e foi abordada a poucos metros do colégio. O criminoso estava de carro e parou ao lado da menina. Ele alegou que tinha um presente para entregar a ela. A criança, que não conhecia o agressor, aceitou entrar no veículo. Dali, foi levada até a casa do criminoso, onde sofreu o abuso. A criança só foi liberada duas horas depois numa localidade da zona sul da cidade. Contudo, esse agressor jamais foi identificado.
Além desse caso, a Polícia Civil e Brigada Militar (BM) afirmam que não há nenhuma informação concreta de uma abordagem indevida a qualquer criança na cidade neste ano. Quem tenha presenciado qualquer atitude suspeita, deve ligar para o 190 ou procurar a DPCA imediatamente. Policiais pedem que, se não há certeza do ocorrido, não sejam compartilhadas relatos de ataques e perfis de suspeitos em redes sociais. Investigadores do caso Naiara tem perdido muito tempo descartando informações falsas.
:: Há uma mulher loira ou um casal rondando escolas de Caxias do Sul?
Não. Um cartaz compartilhado em redes sociais apresenta fotos de um casal suspeito de tentar levar crianças. Essa informação é falsa. Em Caxias do Sul, não há nenhum relato verídico de tentativa recente de rapto de crianças ou adolescentes próximo a uma escola. O próprio caso de Naiara não ocorreu perto do colégio dela. O trecho da Rua Júlio Calegari investigado pela Polícia Civil fica a cerca de um quilômetro da Escola Municipal Renato João Cesa, no bairro São Caetano. Também há relatos falsos de uma mulher loira num carro branco que foi vista no bairro Serrano na semana passada. A mulher teria tentado pegar uma menino à força. Essa denúncia também não procede. A testemunha desse caso relatou ao Pioneiro que apenas desconfiou de uma mulher que manobrava um carro branco na rua. Perto do veículo, havia uma criança caminhando. Contudo, essa testemunha afirmou que a criança entrou para dentro de casa e não houve nenhum tipo de abordagem.
:: É preciso esperar 48 horas para registrar um desaparecimento?
Não. A Polícia Civil explica que um desaparecimento deve ser comunicado assim que houver confirmação, ou seja, logo depois de verificar todos os locais em que a pessoa poderia estar. Em casos de sumiço de crianças, a recomendação é ainda mais incisiva. As primeiras 24 horas são essenciais na procura de pistas que ajudem na solução do caso. O mito de que é preciso esperar 48 horas do desaparecimento para acionar a polícia é uma informação que se espalhou devido a seriados e filmes — na maioria produções estrangeiras que levam em conta suas legislações locais. No Brasil, não há qualquer orientação neste sentido. Comunique um desaparecimento à polícia imediatamente.
:: Há um grupo fazendo tráfico de pessoas ou órgãos?
Na Serra, não há qualquer informação assim. Apesar de não descartar nenhuma hipótese, a Polícia Civil não acredita nesta possibilidade para o desaparecimento de Naiara. Raptar e levar uma pessoa para outra cidade ou país envolve uma logística complicada, que dificilmente não deixaria rastros para a polícia seguir. Para remoção de órgãos, a dificuldade é ainda maior. Seria preciso uma equipe médica especializada com diversos equipamentos e cuidados para não perder o órgão durante de transporte. Se um caso deste for confirmado, seria uma prioridade das polícias.