A descoberta de uma fábrica de placas de veículos em Caxias do Sul desmontou um esquema que não se limita apenas à clonagem de carros furtados e roubados, mas também facilitava a prática de crimes como tráfico de drogas e assassinatos. Agentes da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) identificaram uma pequena casa dentro de um estacionamento da área central da cidade onde um grupo confeccionava as identificações falsas para carros, caminhonetes e caminhões. Ao todo, foram apreendidas 255 placas, sendo 180 prontas para a entrega.
De acordo com o titular da Defrec, delegado Adriano Linhares, embora o local estivesse localizado em Caxias, o impacto do fechamento e os eventuais desdobramentos da investigação devem atingir quadrilhas de toda a região.
— Todos os veículos apreendidos que eram fruto de furtos e roubos na região passaram por esse local. Todos os dias, apreendíamos carros que tinham placas originadas dali. Alguns veículos saíam prontos para outros Estados, Região Metropolitana e até para países vizinhos. Ali era o centro — comenta Linhares.
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Embora não entre em detalhes sobre o caso por justificar que a investigação deve ter novos desdobramentos, Linhares afirma que prisões de suspeitos já foram decretadas pela Justiça. Segundo ele, para ter o controle das operações e se manter longe do radar da polícia, o grupo era formado por poucas pessoas, inclusive no processo de manufatura, uma vez que era utilizada uma mesma matriz para a fabricação das placas.
— Representamos por algumas prisões, porém, não sei, talvez por perspicácia, os envolvidos tiveram conhecimento das prisões antes de nós chegarmos a eles — salienta o delegado.
Para o titular da Defrec, além de frear o faturamento do grupo, o desmonte deve gerar uma reação em cadeia para dificultar outros tipos de crimes.
— Paramos uma indústria rentável e milionária que estava envolvida com todos os roubos de veículos da região e também contribuía para o fornecimento de veículos usados para o tráfico e execuções.
Avanço no combate a furtos e roubos
Nos dois primeiros meses de 2018 foram furtados 123 carros e 73 roubados, somente em Caxias. Embora os números sejam expressivos, representam queda considerável em relação a 2017, quando foram registradas 295 ocorrências de furto e 144 de roubo, ou seja, 78 carros a mais levados por ladrões no comparativo com o mesmo período deste ano.
Com o desmonte da fábrica de placas, o titular da Defrec, Adriano Linhares, espera que as ações de combate aos altos índices de roubo e furto de veículos na cidade alcancem uma nova etapa. Segundo ele, o trabalho de receptadores deve ser dificultado e a atuação da polícia pode ser facilitada na identificação de carros roubados que estejam em circulação.
— O policial que muitas vezes encontrava uma placa com aparência de legalidade na primeira impressão, poderá agora identificar com maior agilidade o infrator — ressalta Linhares, referindo-se a uma possível redução de placas clonadas na cidade.
O chefe da 5ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Marco Aurélio Baierle, relata que semanalmente são descobertos veículos clonados durante ações de fiscalização da PRF nas rodovias. Segundo ele, devido à perfeição da confecção do material não é possível que as falsificações sejam percebidas visualmente.
— Podemos confirmar a irregularidade por meio de consultas de sistema. Visualmente só quando conferimos os caracteres da placa, chassi, número do motor e cruzamos com os dados do sistema — comenta.
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