As rebeliões e denúncias de irregularidades podem ter ficado no passado da única casa de responsabilização e recuperação de menores infratores da Serra. Com o aporte de servidores e investimentos em segurança, o Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Caxias do Sul vive um novo momento. Aparentemente sem a circulação de drogas e mais organizada, a unidade no bairro Reolon voltou a oferecer um ambiente favorável para a recuperação aos adolescentes envolvidos em assaltos e homicídios.
A revitalização da unidade iniciou após o pior momento dos últimos anos. Em junho do ano passado, uma rebelião terminou com seis adolescentes feridos. Os internos espancaram um dos jovens com uma barra de ferro e também agrediram dois monitores. O motim era mais uma evidência da crise de relacionamento entre os agentes socioeducadores e os adolescentes que, meses antes, já havia resultado em um relatório do Conselho Tutelar sobre irregularidades. Na época, um monitor acionou a Polícia Civil após ter sido ameaçado de morte por 25 internos.
Três fatores foram essenciais para a mudança de realidade no Case. O primeiro foi a troca de gestão: o diretor Thiago Alexandre Daher havia assumido a unidade dias antes da rebelião de 2017. Atuando há cinco anos em Caxias do Sul, o socioeducador conhecia a casa e gradativamente mudou a forma de trabalho.
— O perfil do Thiago foi fundamental (para a mudança). Servidor de carreira e com uma cabeça aberta, ele trouxe um papel da liderança que encontrou eco. A equipe está disposta e participativa. Essa turma trabalha em um nível de desafio extremo e o requisito de motivação é enorme — opina o juiz Leoberto Brancher, da Vara da Criança e do Adolescente.
A segunda mudança foi a retomada de investimentos por parte do Estado, o que resultou no conserto do telhado do prédio, que estava com processo aberto desde 2011. Outra melhoria importante inclui equipamentos de segurança. Com apoio da tecnologia, a revista está mais rigorosa e dificultou a entrada de drogas. Tudo o que acontece na casa é captado e registrado por 58 câmeras internas. Ainda assim, o diretor afirma que o essencial foi o reforço no quadro funcional, que hoje está completo, com 89 servidores.
— Não trabalhamos com arma. Trabalhamos com a conversa e a orientação. Assim, o número de agentes socioeducadores nos setores influencia bastante (no sucesso do trabalho) — aponta Daher.
O terceiro fator foi a mudança no relacionamento do Case com o Poder Judiciário. A troca de informações entre a unidade, o Ministério Público (MP) e a Vara da Infância e Juventude trouxe proporciona um melhor trabalho na individualização das medidas socioedutativas. Hoje, o Case abriga 71 adolescentes.