Ainda faltaram Luiz Carlos, Alessandra e Rodrigo. Mesmo assim, o domingo foi de muita emoção numa casa da Rua dos Canários, no bairro Vila Ipê, em Caxias do Sul: era a primeira vez que quatro dos sete filhos de Anacir de Morais de Martins, já falecida, se encontravam. Três deles — Tatiana Ribeiro de Morais, 32 anos, Ezequiel Martins, 26, e Priscila Kuzer de Lima, 22 — moram em Caxias do Sul, e Fernanda Martins Agnolin, 37, em Bento Gonçalves. Mesmo tão pertos, só há pouco os irmãos, dados para adoção quando pequenos, descobriram um ao outro.
— Eu morei um ano no Cânyon, e não imaginava que eles estavam aqui, tão perto — diz Priscila, que foi adotada aos dois anos e sabia apenas da existência de Alessandra.
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Ezequiel, morador do Vila Ipê, conta que até já tinha visto a irmã caçula por ali, mas sem ter ideia de quem ela era. Fernanda, que foi quem armou o encontro, com ajuda da prima Sirlei Martins Maragno, traduz o sentimento um tanto quanto paradoxal experimentado por todos, de serem uma família e quase completos desconhecidos:
— Ao mesmo tempo em que a gente quer se abraçar, dá um bloqueio. É mais fácil falar "eu te amo" pelo Whatsapp do que olho no olho.
Aos poucos, entretanto, os abraços foram acontecendo. E os sorrisos, muitos sorrisos. Descobriram, além de uns aos outros, também os sobrinhos, cunhados, tios, primos. Fernanda conta que sempre teve muito desejo de conhecer seus irmãos. Criada no interior de Lagoa Vermelha, chegou a vir a Caxias aos 16 anos em busca da família — foi quando conheceu a prima Sirlei, e a mãe. Também soube da existência de uma irmãzinha bebê, que ela nunca vira, e pensou em adotá-la, mas não podia por ser ainda de menor.
Há alguns anos, conheceu os dois irmãos que moram em Nova Prata, Luiz Carlos e Alessandra. Há dois, descobriu Ezequiel. Criaram um grupo de Whatsapp e foram em busca dos outros. Para Priscila, que sabia ser adotada mas não que tinha vários irmãos, foi uma surpresa quando, certo dia, abriu o Facebook e havia várias mensagens.
— Abri uma, e dizia: "Acho que sou teu irmão". Abri outra, era uma irmã. E mais uma da prima... — lembra.
A emoção foi tanta que a jovem, grávida de três meses do segundo filho, não quis esperar pelo Natal e propôs anteciparem o encontro para este domingo. Luiz Carlos e Alessandra não puderam vir, mas vêm no dia 24, quando ocorre um novo reencontro.
— Talvez até lá encontremos o Rodrigo — diz Tatiana, sobre o único da família de quem o grupo não têm notícias.
A única informação que os irmãos Martins têm de Rodrigo é que, até cerca de 10 anos atrás, ele morava em Caxias do Sul e teve contato com a prima, Sirlei. Também queria reencontrar os irmãos, mas na época não foi possível. Também não sabem se ele manteve algum dos sobrenomes da mãe ou se recebeu outro ao ser adotado.
Se conseguirem localizá-lo, aí, sim, o Natal estará completo.